50ª corrida da história apresenta melhor e pior da FE: drama até últimos suspiros e dias infinitos

Brigas, ultrapassagens, abandonos e uma batalha para deixar os espectadores nervosos até o último momento: teve de tudo o que faz a Fórmula E ser divertida na 50ª prova da história. Teve a parte ruim também: uma definição que nunca chegava sobre o vencedor da corrida em Hong Kong

Caminhando para o aniversário de cinco anos, a Fórmula E já viveu muita coisa na trajetória como campeonato internacional. Recebeu atenção, críticas e, definitivamente, cresceu. Cresceu muito. No marco da corrida 50 da sua história, realizada neste domingo (10), em Hong Kong, o que se viu na pista foi um festival dos melhores momentos que a FE sabe proporcionar: muitas mudanças de posição, ultrapassagens belíssimas e uma alta dose de suspense. A expressão 'só termina quando acaba' pode ter nascido no futebol, mas se aplica perfeitamente aos carros elétricos. Fora da pista, no entanto, a categoria também fez questão de mostrar que seus dias infinitos não acabam. 
 
Em Hong Kong, a chuva apareceu e ganhou força nas primeiras sessões. Pintou antes do TL1, durante o TL2, mas foi na classificação que realmente brindou o público e os pilotos. Chuva forte, que atrasou a Superpole e fez as equipes acertarem o carro pensando nela. 
 
Mas ela veio e foi. Quando a largada se aproximava, a pista estava seca. E aí Hong Kong e a pista de Central Harbourfront entraram em ação. Como apresentado em 2016 e 2017, houve um número alto de quebras e abandonos no exigente, estreito e estressante traçado. Inclusive de gente que andava na frente. Oliver Rowland viu o carro parar quando liderava — e depois bateu quando tentava recuperar posições; Stoffel Vandoorne foi pole, começou a perder espaço loucamente e se viu com problemas no câmbio. 
 
Mais atrás, também. Os toques da largada pesaram sobre Felipe Nasr, que tinha uma Dragon toda danificada na segunda volta, quando a suspensão quebrou na zebra e fez com que ele fechasse a curva e impedisse Pascal Wehrlein e Jéróme D'Ambrosio de passarem. Junte a isso que Nelsinho Piquet também não resistiu às batidas do meio do pelotão na largada, e você tem quatro abandonos e uma bandeira vermelha em duas voltas. O safety-car apareceu duas vezes ainda mais tarde: uma após a referida batida de Rowland e outra pelos detritos deixados por Sébastien Buemi e também por Vandoorne. 
 
Ao todo, oito dos 22 pilotos que começaram a corrida não terminaram. 

 

Mas foi mais que isso. Foi Sam Bird largando em sétimo e aparecendo em segundo na volta da largada. Rowland tomou a ponta de Vandoorne e perdeu para Bird que, claramente com o carro mais rápido, errou e permitiu que André Lotterer assumisse a dianteira. Começou, então, um jogo de gato e rato. Bird andava encostado em Lotterer, que se segurava.

 
O inglês contava com um trunfo importante: a energia. Tinha poderosos 4% a mais que Lotterer, o que poderia fazer uma diferença brutal nas voltas finais. Mas as muitas bandeiras amarelas e entradas de safety-car inutilizaram a vantagem e jogaram a favor de Lotterer. Os dois passaram a corrida numa briga pessoal eletrizante e extremamente divertida, daquelas que deixa o espectador na ponta do sofá. Bird passou, mas Lotterer deu 'xis'. E continuaram.
 
Quando o relógio mostrava 1min20s para final da contagem – mais ou menos três voltas para a chegada -, Bird decidiu agir novamente e mergulhou. Lotterer tentou defender a posição, mas um toque entre os dois fez a DS Techeetah ficar lenta. Um pneu furado que não apenas definia a corrida para Bird, mas também tirava Lotterer dos pontos após uma atuação quase que irreparável. Resultado imediatamente colocado sob investigação, mas o que não causa nada de positivo para Lotterer, o prejudicado. Com Bird punido, Edoardo Mortara era quem teve motivos para comemorar
 
Aliás, o italiano viveu mais uma corrida daquelas. Como anda sendo regular, o ex-DTM que sempre foi do tipo 'ou dá ou desce', nunca um dos caras mais constantes do mundo. Mas Mortara vai melhorando o jogo da Venturi, e nessa prova com estratégia. Preparou-se para usar o modo ataque na hora certa e sacar Vandoorne na frente. Tinha energia para dar o bote no fim não fossem as intervenções-mil durante a prova.

Terminou com um segundo lugar, queacabou virando primeiro. Agora tem 52 tentos na competição. Nada mal para quem sequer pontuara nas duas primeiras provas. Felipe Massa, aliás, também faz parte desse crescimento da Venturi. Foi sexto colocado na prova, aproveitando todas as oportunidades que teve durante o dia. 

Edoardo Mortara (Foto: Venturi)

Muitos acertos e erros, fortes disputas e burocracia quase zero de pilotos e equipes. O eP de Hong Kong foi o que a Fórmula E apresenta de melhor e o que gostaria de ser em todas as etapas, sem nenhuma ressalva. Difícil saber se Hong Kong era a melhor corrida para comemorar, mas deu certo o prêmio dado pela FE à cidade depois de tira-la do posto de abertura do campeonato após dois anos – porque, no português claro, a Arábia Saudita ofereceu uma quantia absurda para ser o começo do campeonato.

 
Pelo sim ou pelo não, ponto positivo. A 50ª corrida da história foi a Fórmula E que deu certo, diria Carlos Alberto Parreira. Fora da pista a demora para definir se Bird ganhara mesmo a prova foi enorme. Mais de quatro horas após o fim da corrida – quase 15 horas depois do começo das atividades de pista -, a decisão foi tomada. Um lembrete também do que há de errado.
O que se viu de Bird após o fim da corrida não foi aquele semblante animado que costuma mostrar. Sisudo como se tivesse noção do que vinha pela frente, lamentou pelo acidente. 
 
"É uma pena. Tentei mergulhar por dentro e André defendeu tarde. É muito escorregadio na parte de dentro, eu freei, travei os pneus e acertei nele um pouco como ele mesmo acertou JEV [Vergne] ano passado em Santiago", disse.
 
"Eu lamento muito por ele, fez uma grande corrida. É uma pena que tenha terminado dessa forma", encerrou.
Sam Bird venceu, mas não levou (Foto: Reprodução/Twitter)

Bird independente da punição, lidera o campeonato indo para a etapa de Sanya. 

 
Mortara, vencedor consagrado, falava após a prova de levar uma vitória para a Venturi nas próximas corridas. Chegou antes da encomenda. 
 
"Incrível! Fui quarto em Santiago, terceiro no México e agora segundo. Talvez na próxima corrida possamos conquistar uma vitória para a Venturi. Tive um fim de semana incrível, o carro está ótimo. Estou na lua", afirmou.
 
"Fizemos muita coisa, viemos de muito distante. A equipe está fazendo um trabalho primoroso para que a gente chegue aqui", elogiou.
 
Já Di Grassi, que pulou do terceiro para o segundo lugar, vibrou com a marca impressionante de 29 pódios em 50 corridas. Após um começo irregular no campeonato, agora já vislumbra a liderança.
Lucas Di Grassi (Foto: Audi)
"Meu 30º pódio, talvez [são 29, na verdade], em 50 corridas… Incrível estar aqui em Hong Kong. Obrigado aos fãs, todo mundo que veio nos ver. O dia foi muito difícil com a pista seca e molhada, meu carro não estava otimizado para o seco", contou.
 
"Fiz a corrida que pude, marquei bons pontos e outro pódio", comemorou.

Entre os outros brasileiros, Felipe Massa foi bem. Novamente aproveitou oportunidades e foi alçado do sexto ao quinto lugar com a punição a Bird. A Venturi vive um bom momento na temporada, e Massa tem conseguido se manter longe de problemas e pega a mão do bólido. 
 
Já os outros dois, Piquet e Nasr, como explicado anteriormente mal tem motivos para falar porque pouco participaram.
 
A FE segue em duas semanas, quando chega a Sanya, na China, para a sexta etapa do campeonato 2018/19.
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