Acidente preocupante é alerta vermelho para direção de prova letárgica da Fórmula E
Primeira vitória de Nick Cassidy na Fórmula E foi marcada pelo acidente de proporções gigantescas que encerrou a corrida devido à chuva e falta de escoamento no circuito. Mais uma vez, direção de prova demora a tomar decisões e coloca pilotos em risco
A FIA sofreu uma forte cobrança por parte do público da Fórmula 1 na disputa do GP de Mônaco, no último mês de maio, por retardar a largada por questões de segurança — na ocasião, chovia forte em Monte Carlo e a direção de prova julgou que o acúmulo de água na pista seria um convite aos acidentes. Independentemente de ter agido certo ou errado, a entidade teve uma nova oportunidade de fazer a coisa certa no eP de Nova York, neste sábado (16), pela Fórmula E. E não fez.
A chuva começou a cair com pouco mais de dez minutos para o encerramento da corrida 1 deste final de semana, no Brooklyn. Rapidamente, o circuito foi tomado pela água — em uma chuva que não passou de alguns minutos — e diversos pilotos começaram a reclamar das condições da pista.
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Algumas voltas depois, dito e feito: praticamente metade do grid se acidentou devido à aquaplanagem. Os líderes foram diretamente na barreira de pneus após não conseguirem nem sequer diminuir a velocidade, em grupo que incluiu Nick Cassidy, Lucas Di Grassi, Stoffel Vandoorne, Sébastien Buemi, Edoardo Mortara, entre outros.
Além deles, outros como Sam Bird, por exemplo, acertaram o muro pelas péssimas condições de controle do carro e causaram novos toques. Pascal Wehrlein praticamente parou no meio da pista, o que também gerou uma confusão e fez pelo menos dois carros atingirem sua traseira de forma consecutiva.

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Enfim, o caos tomou conta da corrida, que naturalmente foi encerrada devido à falta de condições de consertar o circuito e propiciar um ambiente seguro para os pilotos. Após o resultado ser confirmado, Di Grassi afirmou que foi “a pior batida da carreira na Fórmula E” e revelou sentir dores por todo o corpo, em um impacto que o brasileiro calculou na casa dos 50G.
O acidente assustador reviveu um verdadeiro pesadelo que a direção de prova da Fórmula E — comandada por Scot Elkins — tem encarado nessa temporada: a extrema dificuldade de tomar decisões rápidas. Assim como na estreia do campeonato, em que foi possível ver os carros andando na pista sob bandeira amarela com a presença de um guindaste no traçado, novamente a direção falhou no momento de antecipar uma confusão e colocou seus competidores em risco.
Além da falta de visibilidade evidente, pilotos já reclamavam de aquaplanagem antes do acidente generalizado, que pela força e maneira com a qual ocorreu, poderia sim ter terminado em tragédia — como salientou Di Grassi, que nem mesmo comemorou o segundo lugar no pódio e avisou que o carro da Venturi está “em pedaços” antes da corrida de domingo.
A prova deveria ter sido interrompida pelo menos duas voltas antes de Cassidy atingir a barreira, em momento que era possível ver diversas poças no traçado do circuito e vários carros com muita dificuldade de manter a direção. Além disso, o escoamento da pista se provou nulo — culpa que precisa ser dividida entre os organizadores do evento e mais uma vez, a FIA, que possui a obrigação de inspecionar os locais com antecedência e detectar possíveis falhas na estrutura que possam ameaçar a segurança de qualquer um dos presentes ao paddock.
Após o acidente, mais demora: a primeira indicação do diretor de prova Scot Elkins era de que a prova seria retomada quando fosse concluído o conserto da pista, o que fez diversos pilotos — aqueles que sobreviveram ao massacre — ficarem dentro de seus carros esperando o sinal verde para a relargada.
Alguns minutos depois, entretanto, a chuva voltou a cair levemente sobre o circuito, e ciente de que o escoamento não é o suficiente para evitar que poças se formem na pista, o diretor da FIA voltou atrás e optou por encerrar a disputa, tornando oficial o resultado da última volta antes da ativação da bandeira vermelha.
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Não foram apenas os erros em Diriyah e Nova York que deixaram clara a dificuldade da direção de prova em tomar decisões de maneira rápida na Fórmula E: Mortara passou a ser investigado por um possível desrespeito ao limite de velocidade do pit-lane ainda antes da largada na corrida 1 de Berlim, mas o veredito só aconteceu — bastante tempo — depois do encerramento da disputa.
Como o suíço da Venturi venceu a prova, a cerimônia do pódio foi tomada por um verdadeiro desconforto — já que o piloto não sabia se poderia comemorar, já ciente de que estava sendo investigado por algo que aconteceu antes mesmo da corrida. Acabou não punido no fim, e a comemoração ficou entalada pela demora da FIA em definir o resultado.
Este sábado foi de mais uma oportunidade para a direção de prova da Fórmula E comprovar que aprendeu com os erros de 2022, principalmente a dificuldade de tomar decisões de forma rápida, e mais uma vez a turma liderada por Elkins falhou clamorosamente em sua função. A segurança dos pilotos foi mais uma vez ameaçada, as decisões na categoria são tomadas apenas depois de muito tempo de análise, e resta saber se esse tempo não vai acabar causando um problema de proporções inéditas em algum momento no futuro.

