Dia péssimo da Mercedes em Mônaco é plot-twist necessário para Fórmula E pegar fogo

A Mercedes parecia estar um nível acima, isso até afundar em Mônaco. As duplas da Jaguar e da Techeetah ganham motivos para sorrir, apesar de o novo líder ser o improvável Robin Frijns

A temporada da Fórmula E já parecia ter um enredo definido. A Mercedes é a equipe a ser batida, até por ter Nyck de Vries líder do campeonato e Stoffel Vandoorne em segundo. A Jaguar seria uma candidata séria, assim como a Techeetah, mas era a equipe alemã que conseguia trazer os melhores resultados, corrida sim, corrida também. Eis que chegou o eP de Mônaco deste sábado (8) e tratou de mudar tudo: De Vries e Vandoorne nem pontuaram, com ambos perdendo terreno numa tacada só. É o que a categoria precisava, transformando um panorama superficialmente definido em um de imprevisibilidade total.

Essa análise fica mais clara ao olhar o Campeonato de Pilotos. De Vries era líder, mas agora é vice. Vandoorne era vice, mas agora é sexto. No dia da vitória de António Félix da Costa, quem deixa Mônaco em alta é um improvável Robin Frijns, líder do campeonato. Quem poderia apostar dinheiro nisso? O holandês ainda nem venceu corrida em 2021, mas mostra regularidade impressionante de resultados. Todos os pilotos citados nesse parágrafo são candidatos reais ao título. Por motivos diferentes, claro, mas já deixando claro que a narrativa de Mercedes como equipe a ser batida perdeu muita força.

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António Félix da Costa venceu em Mônaco (Foto: Fórmula E)

Como isso aconteceu? Bom, a Mercedes não conseguiu superar um notário obstáculo de quem lidera a Fórmula E: fazer volta rápida no primeiro grupo da classificação. A pista está menos emborrachada no começo de cada sessão, criando uma dinâmica sempre controversa no certame elétrico. Vandoorne foi o 15° mais rápido, enquanto De Vries foi o 23°. Ainda assim, não era o fim do mundo: outras classificações ruins da Mercedes serviram de trampolim para remontadas nas corridas. E aí veio o choque de realidade: Mônaco deixou os prateados de mãos atadas. Stoffel e Nyck pouco reagiram e nem viram a bandeira quadriculada.

Em contrapartida, outras equipes tiveram dias de Mercedes. Não no nível dominante da Fórmula 1, mas no nível de estar firme e forte em busca da vitória, como visto na Fórmula E. Nesse trecho, destaque óbvio para a Techeetah. A equipe chinesa ainda não tinha mostrado muito serviço em 2021, apesar do trem de força atualizado em Roma. Jean-Éric Vergne até venceu na capital italiana, mas os demais resultados estavam longe de fazer os olhos brilharem. Principalmente para Da Costa, que tenta defender o título. Eis que Mônaco mostrou algo diferente: os dois carros da esquadra andaram bem e lutaram pelo pódio, que poderia muito bem ter vindo em dose dupla.

Estava tudo muito parelho na liderança, mas o fiel da balança foi a ousadia de Da Costa. O português até tinha superado Frijns na primeira metade do eP, mas parecia destinado a terminar em segundo, atrás de Mitch Evans. Eis que um mergulho preciso na saída do túnel rendeu a liderança e a primeira vitória de 2021. Vergne poderia muito bem ter ido ao pódio também, mas foi traído por um problema na ativação do modo ataque. Ainda assim, deve aceitar o quarto lugar de bom grado.

Depois de falar do vencedor, hora de falar do vencido: Evans. O dia começou com a Jaguar liderando dois treinos livres, andando forte também com Bird. Mitch fez uma manobra linda sobre Da Costa na Massenet e, mesmo com o safety-car no fim, parecia destinado a vencer. Foi traído por um consumo alto demais de energia, fator melhor administrado por Da Costa. É claro que o momento é de dor para o neozelandês, que ainda perdeu posição para Frijns nos últimos metros, mas a briga pelo título é real. E é bom para a escuderia que seja mesmo, porque Bird já parece murchar após um começo de campeonato inesperadamente bom.

Mas é Robin Frijns quem vira líder (Foto: Fórmula E)

E o que dizer de Frijns? O holandês nunca se firmou para valer como um dos grandes pilotos da Fórmula E, verdade seja dita. Salvo a temporada 2018/19, em que venceu duas corridas e foi quarto colocado, sempre tendeu à figuração. O que dizer de 2020/21? Bom, Robin se dá uma chance de lutar pelo título, mas a Virgin é uma incógnita. A equipe usa trem de força da Audi, que está longe de se destacar como já se destacou no passado e parece ficar progressivamente mais para trás. Isso fica claro quando percebemos que Robin normalmente consegue resultados não por andar rápido, mas por evitar acidentes. Mônaco foi exceção. É difícil evitar a sensação de que o piloto é fogo de palha, mas vacilos dos rivais diretos bastam para manter o sonho vivo.

Sobre os brasileiros, os resultados já falam bastante. Lucas Di Grassi e Sérgio Sette Câmara foram para Mônaco precisando de uma volta por cima: o primeiro, para afastar a zica; o segundo, para mostrar evolução com o novo trem de força da Dragon. Eis que a classificação teve Lucas em 17° e Sérgio batendo. As voltas finais jogaram a favor do campeão, que ganhou terreno e terminou em 11°, quase pontuando. Acontece que ‘quase’ é muito pouco para alguém que agora aparece em 20° no Campeonato de Pilotos, com um terço dos pontos do companheiro René Rast. O novato também se vê em fase ruim, mas menos tenebrosa: o 15° lugar no principado fica um pouco melhor por conta do companheiro Nico Müller em 17°. Ainda assim, já é hora de encaixar um eP mais convincente e pelo menos flertar com pontos.

Por fim, uma análise sobre a Fórmula E em si. Que dia de corrida, senhoras e senhores. Disputas, reviravoltas e acidentes. Tudo na medida certa, sem parecer um caos artificial, forçado. Havia um gosto amargo na boca desde o fiasco do eP de Valência 1, aquele em que todo mundo ficou sem energia. Só agora o passado começa a ser superado. Comparando as duas corridas, o certame deveria ser muito mais como foi hoje do que como foi duas semanas atrás.

É claro também que nem todas corridas serão como as de Mônaco. Dito isso, já é para estar bem claro o que os fãs realmente gostam. Como dito na análise do caos de Valência, queremos uma várzea do bem. Ou talvez nem várzea, mas, sim, uma imprevisibilidade que a F1 sofre para entregar. Parabéns, Fórmula E. O dever, pelo menos hoje, foi cumprido.

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