GUIA FE 2021: Saídas de Audi e BMW machucam, mas não são feridas mortais
Apesar do óbvio baque, abandono das duas fábricas não causa feridas mortais - a não ser que Fórmula E perca o caminho e faça tudo errado
A enorme interrupção da Fórmula E deu margem para muita coisa acontecer nos últimos seis meses, mas a notícia de maior peso foi negativa: os anúncios de BMW e Audi de que deixam a categoria no fim da temporada 2021. E é claro que estas notícias são negativas e preocupantes, mas não são feridas mortais. Ao menos não sozinhas.
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Claro que a Fórmula E, como qualquer outro campeonato jovem, podem rolar ladeira abaixo em determinado momento. E que a queda pode ser desencadeada pela saída de ativos importantes é igualmente evidente. Só que, uma eventual despencada da Fórmula E dependeria de uma pane total após uma grande notícia negativa, o que não é o caso. A FE perde sem as duas, mas perde trabalhando para compensar.
Desde que a pandemia do novo coronavírus afetou gravemente o campeonato, a Fórmula E tomou medidas. Alejandro Agag chegou a afirmar que categorias sucumbiriam aos problemas financeiros causados pelo novo coronavírus, mas a FE não estaria entre elas. O campeonato agiu, cortou custos, algo que desejava há alguns anos justamente para evitar a dependência das grandes fábricas, sempre a uma reunião de tirarem o time de campo.
Mas cortar custos limita as possibilidades de desenvolvimento e puxa o freio de novidades tecnológicas. Dentro de um regulamento que vai para seu terceiro ano e do que já se sabe muito, é honesto que as fábricas concluam que podem aprender e criar mais sobre tecnologias híbridas em outras partes novas: os hipercarros do WEC, por exemplo, ou o Dakar.
Portanto, deixar de contar com Audi e BMW é dolorido, mas a Fórmula E segue com uma penca de gigantes em seus quadros, agora gastando menos e, assim, evitando que a categoria se torne proibitiva para equipes independentes, como Virgin e Techeetah – antes do acordo com a DS.
Mesmo as futuras ex-parceiras não vão abandonar o campeonato de uma vez: ambas seguirão fornecendo trens de força, ainda que a BMW, inicialmente, por um ano apenas.
O ano que apenas começa será de definição sobre quem se compromete com a categoria na entrada do Gen3, terceira geração de carros, projetada para a temporada 2022/23. Quem se comprometer agora e deixar o grid no meio deste período – provavelmente de quatro anos, até 2025/26 – será sancionado por quebra de contrato. Sem valores definidos, difícil saber se a multa impedirá desertores, provavelmente não, mas é uma declaração de interesse.
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Vender o peixe das inovações trazidas com o Gen3 são fundamentais para a sequência da Fórmula E, que precisa responder à novidades do WEC da mesma forma que o Mundial de Endurance foi capaz de fazer frente à ameaça elétrica – e como a própria FE já fez antes, depenando o formato do LMP1.
Caso consiga manter o controle do orçamento possível para tocar as equipes, a Fórmula E controla o grid, não o contrário. É muito importante que seja assim para jamais depender do humor corporativo das fábricas para saber se vive ou morre. Até porque controlar o orçamento, manter os custos em níveis racionais, faz com que novas fábricas possam pintar e render a equipes que perderam apoio em temos recentes.
A Andretti seguirá vivendo quando a BMW sair e, dizem, conta com interesse da Ford em assumi-la. A Hyundai é outra sempre citada entre as interessadas, assim como a McLaren já afirmou que entra no campeonato na jornada 2022/23. Há vida e futuro se tudo for tocado com a consciência mostrada nestes sete primeiros anos. A Fórmula E, ao menos em tese, preparou-se para evitar que qualquer revés destes tempos virassem feridas mortais.
O fato de acordos de mídia como a TV Globo no Brasil, porém, mostram que o mercado internacional acredita na categoria e tem enorme carinho com ela. Quem conta com benevolência assim do setor financeiro tem caminho muito curto para o sucesso. Perder BMW e Audi, portanto, não tem na Fórmula E o mesmo efeito que no DTM, nem sequer parecido.
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