Opinião GP: O começo do fim do pior pesadelo das nossas vidas

Salvamos a esperança equilibrista depois de quatro anos na corda bamba. Por Aldir Blanc. Por Paulo Gustavo. Por Rodrigo Rodrigues. Por Marielle. Pelo Martin, filho do nosso Renato Ribeiro. Por tudo que foi e tudo que vem. Pelo sonho de um Brasil Plural. Vencemos. Eles perderam

Era noite daquele dia 14 de março de 2018. O jogo na TV parou para a informação que eu acabava de ler no Twitter estava certa: assassinaram uma mulher preta, vereadora de esquerda no Rio de Janeiro. Ainda naquela noite, nos primeiros movimentos sobre o que tinha acontecido na região central da minha cidade, estava claro: mataram Marielle Franco e a ideia de Marielle Franco.

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Mataram, ali, um sonho do que representava um Brasil Plural. Mataram alguém que saiu da Maré para virar legisladora e tinha um futuro longo na política do Rio.

Eu saí. Comecei a andar sem rumo no portão, na frente de casa, a Julia, que hoje é minha esposa, mas na época era namorada, teve de ir atrás de mim, precisou me acudir. Senti muito por Marielle, mas era muito mais que aquilo. Eu ainda não sabia caracterizar o que sentia, mas sabia que era uma indicação do caminho que estávamos tomando, como sociedade, meses antes daquela eleição regada a ódio, onde a política moderada tinha começado a perder o controle do monstrinho que o impeachment tirou do esgoto.

E nos meses que se seguiram, o caminho foi aquele que já dava para imaginar. Não fomos rumo ao esgoto. O que aconteceu foi precisamente o oposto: escancaramos o esgoto, deixamos que os seres abissais e subterrâneos saíssem todos juntos das profundezas. Eles subiram e vieram ocupar o campo de jogo. Como não respeitam regras e não admitem concessões, eles não dividem a bola. Eles tomam o campo e furam a bola. Dominam e partem para a destruição.

Durante quatro anos, o GRANDE PRÊMIO soube seu lugar no mundo. Soube com o que estava lidando e que precisava confrontar. Se o mundo do esporte a motor brasileiro olhasse feio, então que olhasse feio. Que ficasse em silêncio, que nos deixasse de lado. Não tem problema. As visualizações e os page views ajudam, sim, mas o jornalismo se faz com dignidade e cidadania. Lidar com uma aberração do sistema chamando as coisas pelo que elas são era exercer o jornalismo com dignidade e cidadania.

Eu tenho orgulho do GRANDE PRÊMIO

Por isso, não titubeamos. Chamamos escória de escória, fascista de fascista e piloto, ex-piloto e jornalista aproveitador e criminoso de aproveitador e criminoso. Intimidação aqui não cola.

Mas não se enganem. Vencer o nazismo brasileiro — note bem o que eu estou dizendo: o nazismo brasileiro —, essa gente rastejante que tentou dar todos os tipos de golpe possíveis no processo eleitoral, é o começo. Mas é um começo. A cadeira mais alta para começarmos a acabar com o maior pesadelo das nossas vidas.

Jair Bolsonaro vai ser preso em breve. O corpo de crimes que cometeu nos últimos quatro anos torna essa afirmação muito fácil de fazer. No dia que for, teremos a certeza de que Luiz Inácio Lula da Silva foi preso num golpe e voltou a ser presidente da República no restabelecimento da verdade. Jair Bolsonaro foi presidente num acidente, numa sucessão de acontecimentos esdrúxulos, que, com a verdade e sanidade restabelecidas, tornou-se presidiário.

O lugar de Jair Bolsonaro é a lata do lixo, o esgoto. A cadeia. E à cadeia irá.

O que o Brasil fez ao derrotar o perdedor Jair não foi acabar com o nazismo brasileiro. Ainda não. Mas o Brasil, neste 30 de outubro de 2022, furou a barca de Hades. O Brasil derrotou os facilitadores da morte. E isso é o começo do fim do horror.

Vibrem. Comemorem. Chorem, como eu chorei. Acabou o governo Bolsonaro. Acabou o maior pesadelo das nossas vidas. Pelos 33 milhões de famintos no Brasil; pela precarização sem fim do trabalho e o desemprego; pela Amazônia e o Pantanal; pelos 700 mil mortos na gestão da pandemia, dos quais 400 mil poderiam ter sido salvos com vacina já disponível. Jair preferiu imitar quem morria. Um canalha.

Lula tem uma vida dedicada ao combate a pobreza. Pense você o que pensar da vida, há que saber que não existe margem para comparação.

Contra a morte como projeto político de poder, demos uma resposta. Vencemos o que de pior há em todos nós. Chorem de alegria.

Salvamos a esperança equilibrista depois de quatro anos na corda bamba. Por Aldir Blanc. Por Paulo Gustavo. Por Rodrigo Rodrigues. Por Marielle. Por Dilma. Pelo Martin, filho do nosso Renato Ribeiro. Por tudo que foi e tudo que vem. Pelo sonho de um Brasil Plural. Vencemos. Eles perderam.

*O crédito da imagem que abre essa coluna é do fotógrafo Jesus Carlos – Memória no site Jesus Carlos Imagens.

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