Mir dribla tumultos, prima pela regularidade e entra em seleta lista de campeões pela Suzuki

No ano do centenário da Suzuki, o espanhol de 23 anos passou ileso de quase todos os tumultos da temporada 2020 e apostou na regularidade e em uma GSX-RR quase que infalível para conquistar um espaço na história do Mundial de Motovelocidade

Ninguém apostaria em Joan Mir campeão no início da temporada. Antes de o mundo virar do avesso por causa da pandemia do novo coronavírus, parecia mais um campeonato destinado a Marc Márquez. Não que o hexacampeão tivesse sido o grande destaque da pré-temporada ― por que ele não foi ―, mas mais por uma questão de hábito mesmo. Mas 2020 tinha outros planos.

Às vésperas da abertura do campeonato, o Catar passou a vetar a entrada de italianos ou de pessoas que tivessem passado recentemente pela Itália, o que levou ao cancelamento da corrida da classe rainha ― Moto3 e Moto2 já estavam por lá e, por isso, puderam correr normalmente. Foi o primeiro grande efeito da Covid-19 no calendário do esporte a motor.

Pouco a pouco, as corridas foram sendo adiadas e canceladas uma atrás da outra. Quando o campeonato, enfim, pôde começar, a programação já era completamente diferente: 14 GPs, em apenas nove circuitos diferentes. Mas essa não era a única surpresa de 2020.

Campeão, Joan Mir encerrou um jejum de 20 anos da Suzuki (Foto: Suzuki)

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Ainda na primeira etapa do ano, o GP da Espanha, Marc Márquez sofreu um duro revés: uma queda no fim da corrida culminou com uma fratura no braço direito, duas cirurgias e um ano inteiro de afastamento. Com o espanhol fora de combate, a Honda logo virou carta fora do baralho. Afinal, a RC213V tem um jeitinho manhoso de ser e não se comporta bem nas mãos de qualquer um.

Vice-campeão nos últimos três anos, Andrea Dovizioso era o herdeiro direto de Marc, mas apesar de até ter aparecido na liderança do Mundial, nunca foi um postulante de verdade ao título. A Yamaha, então, era a próxima da fila. E a casa de Iwata não fez exatamente feio no campeonato, mas pecou demais não só pela irregularidade, como também pela falta de confiabilidade.

Fabio Quartararo venceu três vezes, conquistou a maioria das poles e passou boa parte do ano no topo da folha de classificação. Mas o francês de Nice teve uma performance para lá de irregular. A mesma coisa, aliás, aconteceu com Maverick Viñales, que teve mais tropeços do que momentos positivos. Não à toa, 2020 ganhou o rótulo de o campeonato que ninguém queria.

Mas alguém queria. Mir queria ser campeão. Apenas no segundo ano na categoria, o piloto de Palma de Maiorca, no auge dos 23 anos, apareceu como o mais maduro do pelotão, aproveitando uma Suzuki que desde a pré-temporada tinha dado sinais claros de evolução.

Apoiado por uma GSX-RR quase que infalível, Joan foi se destacando pouco a pouco, especialmente por ser o cara que crescia quando os demais iam perdendo rendimento nas corridas. Em 13 etapas, os únicos tropeços vieram nos abandonos dos GPs da Espanha e da Tchéquia, o primeiro por queda e o segundo ao ser derrubado por Iker Lecuona. As demais 11 corridas, foram quase todas dentro top-5, com exceção do 11º lugar no GP da França.

Até o GP da Europa da semana passada, Mir carregava a sombra de poder ser campeão sem nunca ter vencido na classe rainha, mas o primeiro triunfo chegou em território espanhol, quebrando um jejum de 38 anos da Suzuki com uma dobradinha com Álex Rins no Ricardo Tormo.

A vitória, então, foi vital para dar um respiro importante para Joan na briga pelo título. Em um ano em que a performance de classificação foi o único ponto fraco da Suzuki, o caçula dos comandados por Davide Brivio apareceu para a penúltima etapa da temporada com 37 pontos de vantagem para Quartararo e Rins, empatados na pontuação e segundo e terceiro na classificação.

Vitória no GP da Europa foi a primeira na carreira de Mir na MotoGP (Foto: Suzuki)

Diferente do que fez na Moto3, quando deixou passar o primeiro match-point do título, Mir foi certeiro na primeira oportunidade. Além da ansiedade pelo título, o balear nunca escondeu o temor com a pandemia, especialmente num momento em que o contágio pela Covid-19 ganha força na Europa e também dentro do paddock.

Neste fim de semana, assim como fez em outras cinco oportunidades, a classificação não foi um grande destaque, mas o 12º lugar no grid não impediu a conquista. Em uma corrida calma e tranquila, o mais jovem entre os pilotos da Suzuki recebeu a bandeirada em sétimo para fechar o título com uma corrida de antecedência.

Assim, Mir entra para a lista de campeões pela Suzuki, que tem apenas outros cinco nomes: Barry Sheene, Marco Lucchinelli, Franco Uncini, Kevin Schwantz e Kenny Roberts Jr.

Mir: o campeão da carreira breve

Diferente de muitos dos rivais, Mir tem uma carreira ainda relativamente curta, de só 13 anos, já que começou a correr em 2007. Os primeiros passos no esporte, porém, aconteceram atrelados a um sobrenome famoso: Lorenzo. Mas não com Jorge, como primeiro saltaria a mente, e sim com Chicho, o pai do tricampeão da MotoGP.

13 anos atrás, Joan começou a carreira na Lorenzo Competición, onde o pai do #99 prepara jovens pilotos usando os mesmos métodos que adotou com o filho na infância. Apesar do início relativamente tardio, Mir não demorou a conseguir resultados de destaque.

Com apenas quatro meses de experiência, Joan conquistou o quinto lugar em sua primeira corrida. Na sequência, venceu nas várias categorias de base das Ilhas Baleares antes de chegar ao título da copa nacional de Pré-GP 125cc em 2012.

Em 2013, depois de uma tentativa frustrada, conquistou vaga no grid da Red Bull Rookies Cup, fechando o primeiro ano na disputa na nona colocação, antes de ser vice na temporada seguinte, atrás de Jorge Martín, que vai subir para a MotoGP em 2021 com a Pramac.

Em 2015, Joan disputou o Mundial Júnior de Moto3, onde venceu quatro das primeiras seis corridas, mas uma queda de performance na segunda metade da temporada acabou deixando o #36 apenas com a quarta colocação da classificação.

Joan Mir foi campeão da Moto3 em 2017 (Foto: Leopard)

A estreia no Mundial veio no mesmo ano. O jovem espanhol foi escalado pela Kiefer para substituir o lesionado Hiroki Ono no GP da Austrália, mas, depois de largar em 16º, não conseguiu completar a corrida por conta de um incidente com John McPhee.

Em 2016, a mesma Kiefer deu a Mir a condição de titular ao lado de Fabio Quartararo e Andrea Locatelli. No primeiro ano completo, o espanhol estreou no pódio de cara com uma vitória na Áustria e fechou a temporada como melhor novato, ocupando o quinto posto na tabela, com 144 pontos.

2017, então, viu uma performance arrebatadora. Mir venceu sete das primeiras 11 corridas do ano, repetindo o que tinha sido feito pela última vez na categoria menor do Mundial de Motovelocidade por Valentino Rossi em 1997 na hoje extinta 125cc. O título, claro, foi consumado na reta final do campeonato.

Equilibrando talento, intuição e até sorte, Mir saltou para a Moto2 em 2018, defendendo as cores da Marc VDS, formando par com Álex Márquez. A estadia na classe do meio, porém, foi breve: apenas 18 corridas. Com quatro pódios ― dois de segundo lugar e dois de terceiro ― e nenhuma pole, o piloto assegurou o salto para a classe rainha, com a Suzuki.

Com um histórico de apoiar jovens pilotos, a Suzuki anunciou ainda em 11 de junho de 2018 a contratação de Joan para formar par com Rins assumindo a vaga que até então estava com Andrea Iannone. De cara, o espanhol assinou um contrato de dois anos.

A temporada de estreia na divisão principal foi sofrida e, literalmente, dolorosa. O ponto mais baixo aconteceu em um teste coletivo em Brno. No início de agosto, o piloto sofreu uma forte queda na curva 1 do traçado tcheco e sofreu uma contusão pulmonar. No fim das contas, Joan perdeu duas corridas da temporada e conseguiu como melhor resultado um quinto lugar no GP da Austrália. Fechou o ano em 12º, com 92 pontos.

Para 2020, Mir já mostrou mais força na pré-temporada e teve o contrato renovado com a Suzuki antes mesmo do início do campeonato. A equipe de Hamamatsu, com certeza, não errou nesta escolha.

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