Salto de Marini para MotoGP em 2021 vira guerra entre VR46 e Avintia

Líder da Moto2, o irmão de Valentino Rossi ainda não conseguiu vaga na MotoGP 2021. A VR46 segue trabalhando para isso, mas a única possibilidade passa pela Avintia

O futuro de Luca Marini é praticamente um roteiro de novela mexicana. Líder da Moto2, o italiano de 23 anos ainda não garantiu vaga na MotoGP em 2021, mas a VR46, empresa que faz a gestão da carreira do piloto, segue empenhada na busca de um espaço para o jovem que corre com o #10.

O problema é que as vagas disponíveis não são muitas: apenas três. Na LCR, a expectativa é de que a Honda renove o contrato de Takaaki Nakagami. A Aprilia ainda aguarda o desfecho do julgamento de Andrea Iannone no Tribunal Arbitral do Esporte no caso da suspensão por doping, mas mesmo que não possa contar com o italiano de Vasto, Cal Crutchlow e Andrea Dovizioso são mais cotados para esta posição. Resta, então, a Avintia, que perdeu Johann Zarco para a Pramac.

Essa vaga, no entanto, deve ir para Enea Bastianini, que assinou com a Ducati para dar o salto para a classe rainha. Sendo assim, não resta espaço para Marini, certo? Errado.

Luca Marini é irmão de Valentino Rossi por parte de mãe (Foto: VR46)

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Tito Rabat tem contrato com a Avintia para correr em 2021, mas o posto do campeão de 2014 da Moto2 é justamente o que está sob ameaça. Herdeiro da joalheria espanhola homônima, o piloto de 31 anos leva patrocínio para a equipe de Raúl Romero, algo que o dirigente não quer perder.

A performance de Tito, porém, não tem sido das melhores. Passadas nove das 15 etapas da temporada 2020, o competidor da moto #53 soma apenas oito pontos, 107 a menos que Fabio Quartararo, o líder do campeonato. Assim, fica fácil ver em Rabat o lado mais fraco da corda, ainda mais depois que a Avintia estreitou os laços com a Ducati no ano passado, algo que rendeu frutos como, por exemplo, o primeiro pódio da equipe na MotoGP ― o terceiro lugar de Zarco na Tchéquia.

A corda enfraquece ainda mais para Tito por conta dos laços familiares de Marini, que é meio-irmão de Valentino Rossi. O DNA de Luca sempre foi um chamariz para a imprensa, o acaba por ter um impacto direto no interesse dos patrocinadores. Entre um Rabat discreto e um Marini que é chancelado por aquele que, para muitos, é o melhor de todos os tempos no motociclismo, fica fácil ver quem tem as cartas na mesa.

Mesmo assim, a situação não é tão simples quanto parece. O dono do time, que no ano passado não teve pudores em se livrar de Karel Abraham por e-mail para acomodar Zarco, falou abertamente que existe um caminho muito simples para Rossi garantir o lugar para o irmão: pagando.

“Quem quiser subir na moto, que pague ou traga um patrocinador. Se Rossi quer colocar o irmão em 2021, que pague. Assim como fez Tito ou como fizeram na época [Karel] Abraham ou [Xavier] Siméon”, disse Romero em entrevista ao jornalista Germán Garcia Casanova, do site espanhol Motorsport.com. “Para o irmão dele correr, não é preciso comprar a entrada [da equipe], só têm de pagar pela moto. Eu, em 2021, seguirei com a equipe. Outra coisa é que em 2022 não renovaremos com a Dorna”, seguiu.

“Têm três pilotos para duas motos e nada está decidido. Quem assinou com Bastianini foi a Ducati, mas eu, não. O que tenho de fazer agora é esperar para ver como se movem as fichas. Mas a equação é bem simples”, completou.

A posição de Romero, porém, contradiz as declarações de Rubén Xaus, chefe do time. No fim de semana do GP da França, o dirigente reconheceu que uma mudança no proprietário é uma possibilidade já para 2021.

“Já são três meses desde que os rumores começaram. Há dois anos, quando cheguei para ajudar Raúl, vi muitas coisas de que não gostava e disse: ‘Se quer a minha ajuda, preciso ser forte e estar dentro dos boxes para criar uma situação diferente’”, contou Xaus em entrevista a Simon Crafar no serviço de streaming da MotoGP. “Agora o time chegou ao pódio e vimos que é difícil renovar essas posições, pois não temos um grande orçamento, então é [possivelmente] hora de dar um passo para o lado e entregar as chaves para outra pessoa”, seguiu.

“Raúl enxerga isso. Ele tem uma vida boa em Andorra, então oferecemos a situação aos organizadores, aos investidores e parece que existe a aproximação de alguém e esta possibilidade está na mesa. Agora só precisamos checar quem e como”, completou.

Deste o início, está claro que o aporte de patrocinadores será necessário, mas também cresceram os rumores de que a VR46 poderia assumir a operação da Avintia, ampliando o alcance para as três classes. Valentino, porém, assegura que a equipe ainda não está pronta para esta operação.

Chefe da VR46 em Moto3 e Moto2, Pablo Nieto reconheceu que existem boas chances de Luca correr contra o irmão no ano que vem, mas deu praticamente como certo que Romero seguirá como feliz proprietário da Avintia.

“Têm muitas possibilidades de que Marini suba para a MotoGP no fim da temporada”, disse o filho de Ángel ao jornal espanhol AS. “Apesar de ainda não estar fechado, parece bom. As conversas que estamos tendo estão bastante avançadas”, seguiu.

Nieto, porém, não entrou nos detalhes do projeto e afirmou que o assunto ainda está sendo debatido. Inclusive o papel de Rossi em tudo isso.

“No momento, estamos falando sobre tudo isso e não posso dizer nada, porque são coisas que ainda estão na mesa. Da nossa parte, está tudo certo e, no momento, está claro que a equipe seguirá sendo propriedade de Raúl Romero em 99%”, apontou.

Ainda, Nieto negou o salto da VR46 para a categoria de elite já em 2021 em entrevista à rádio espanhola Cadena SER: “Não estamos preparados para estar na MotoGP”.

Rossi, aliás, reconheceu que quer ver o irmão na MotoGP, também por conta do interesse que a fábrica de Bolonha tem demonstrado nele.

“Na realidade, estamos pensando em tudo. Seria bom ter Luca na MotoGP com a Ducati, especialmente se a Ducati tem um interesse em particular nele e não está pensando em tê-lo apenas por um ano”, disse Rossi.

Rossi, contudo, negou que já tenha acordado para assumir o posto da Avintia em 2021.

“Em 2021, a VR46 não terá uma equipe na MotoGP. Isso é certo, pois não temos como fazer. Podemos falar disso para o futuro, para 2022, mas tudo ainda está em aberto. Eventualmente, será apenas Marini com a Avintia”, explicou.

A operação de levar Marini para a MotoGP, porém, vai precisar de recursos financeiros. E, assim, o impacto deve recair sobre a estrutura da Moto3. No fim de semana, Andrea Migno foi confirmado pela Snipers para 2021. O destino de Celestino Vietti segue em aberto, mas a VR46 poderia costurar um acordo também para ele em outra equipe.

“Gostaríamos de não ter de fechar a equipe da Moto3, mas precisamos ver quanto dinheiro poderemos conseguir, pois não está fácil para ninguém”, reconheceu Rossi.

Apesar de ser um chamariz, o rótulo de irmão de Rossi não é motivo único para despertar o interesse das equipes em Marini. Natural de Urbino, o italiano de 1,84 metro disputou uma única prova da Moto3 na carreira e pulou direto para a Moto2, daí o tempo maior de adaptação. Atualmente na quinta temporada completa na classe do meio, Luca soma seis poles, seis vitórias e um total de 14 pódios. Marini lidera a disputa pelo título de 2020 com 15 pontos de frente para Bastianini, o segundo colocado.

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