Viñales mostra velocidade e talento de Top Gun, mas decepciona com irregularidade

Contratado pela Yamaha com pompa e circunstância, o espanhol de Figueres ainda não mostrou a que veio na MotoGP. Velocidade não falta, mas a marca Maverick é mesmo a irregularidade

Este não é um site sobre cinema, mas é difícil resistir à tentação de relacionar corridas com a sétima arte. E, em se tratando de Maverick Viñales, fica ainda mais complicado, já que o espanhol foi batizado em homenagem a personagem homônima de Tom Cruise no clássico Top Gun, de 1986.

Se você conhece o filme dirigido por Tony Scott, sabe que só os melhores entre os melhores conseguem acesso ao Top Gun, o programa de instrutor de táticas de combate da Marinha dos Estados Unidos. De certa forma, Viñales conseguiu um passe para uma prestigiada esquadra quando se juntou à Yamaha em 2017. Afinal, uma das mais laureadas equipes da MotoGP não é lugar para amadores.

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Assim como o Pete Mitchell do filme, Maverick já mostrou que tem talento e que é rápido, mas em quatro anos com a YZR-M1, a velocidade e a destreza nem sempre estiveram em primeiro plano. A inconstância que rendeu a pouca agradável alcunha de ‘leão de treino’ é muito mais uma marca do qualquer outra característica no arsenal de qualidades do espanhol.

Maverick Viñales só tem três top-5 no ano(Foto: Yamaha)

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É verdade que a moto da Yamaha não andou lá muito acertadinha, mas também é notório que Viñales se saiu muito melhor em testes e treinos do que em corridas. Na temporada vigente, essa marca ficou ainda mais evidente: em oito etapas, foram três poles e outras duas aparições na primeira fila do grid, mas na hora da corrida, foram dois segundos lugares ― ambos em Jerez ― e uma vitória na Emília-Romanha. Nas demais corridas, o piloto que trocou o número #25 pelo #12 a partir de 2019 sequer chegou ao top-5 ― foi 14º na Tchéquia, décimo na Áustria, abandonou na Estíria, foi sexto em San Marino e nono na Catalunha.

A performance, como não poderia de deixar de ser, foi bastante questionada, especialmente por contrastar com o desempenho das outras M1. No último fim de semana, por exemplo, essa discrepância ficou muitíssimo evidente já na largada, quando Franco Morbidelli saiu na ponta e manteve a liderança, seguido por Valentino Rossi e Fabio Quartararo, enquanto Maverick, que largou em quinto, despencou para 15º ainda na primeira volta.

Inicialmente, todos suspeitaram de um problema com a moto, mas Viñales negou que algo incomum tenha acontecido e apontou para o déficit de velocidade da M1.

“O problema é a largada. Se estivesse na frente, o resultado de hoje teria sido completamente diferente, pois estava muito forte na segunda parte da corrida”, disse. “Como sempre, em quarta ou quinta marcha, não temos potência, então, perdi muitas posições na largada. Não na parte inicial, mas na segunda parte da largada”, explicou.

“Por exemplo, em Misano, é só primeira, segunda e terceira marchas e você chega na curva [1]. Aqui, é quinta marcha, potência total. Acho que esta é a diferença. Quando chegamos em terceira, quarta ou quinta, as outras motos têm muito mais potencial que nós”, apontou. “Quando vi quem estava ao meu redor no grid, pensei: ‘nossa, deveria ter conquistado a primeira fila na classificação’. Não podemos fazer mais do que isso. É assim que é”, observou.

Questionado sobre a presença de três Yamahas na ponta da corrida, Maverick respondeu: “É que eu comecei no meio de todo mundo. Então, quando você chega na freada, com muito menos velocidade, você não pode tentar ganhar posição. Este é, basicamente, o problema”.

Chefe do time, Massimo Meregalli até concordou com o piloto. “Foi a primeira curva que custou um bom resultado para Maverick. Ele foi forçado a frear antes e os outros pilotos o passaram pela esquerda e a direita, tomando dele muitas posições. Quando cai para trás, é muito difícil para a nossa moto ultrapassar, como sabemos”.

É um fato que a Yamaha tem um considerável déficit de velocidade. Em Montmeló, por exemplo, a maior velocidade foi registrada em 351,7 km/h por Francesco Bagnaia, enquanto que a melhor Yamaha, a de Quartararo, chegou apenas em 343,9. Viñales foi só até 338,5 km/h.

Mas este, para infelicidade dos pilotos, é um problema que não vai mudar tão cedo. Os motores são congelados e, por conta de uma medida de contenção de custos relacionada à pandemia de Covid-19, seguirão assim até o final do próximo ano.

A M1 tem, sim, defeitos. Mas é também uma moto melhor do que era no ano passado. Mesmo com déficit de velocidade, a Yamaha venceu cinco das oito corridas disputadas até aqui e lidera o Mundial de Construtores com 37 pontos de vantagem para a Ducati ― a tradicional ponteira do Speed Trap.

E os pontos fracos da moto não ofuscam os erros de Viñales, que escolheu mal os pneus em San Marino, quando foi o único a calçar o traseiro duro, e que não seguiu a orientação da Brembo com o sistema de freios do GP da Estíria.

Viñales pode até culpar o funcionário da Yamaha que orientou a escolha de pneus ou os engenheiros que não fizeram um motor potente o bastante, mas uma hora dessas, ele vai ter de assumir os próprios erros para fazer jus ao cargo que ocupa e que ocupará pelos próximos anos, já que tem contrato renovado até 2022.

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