Guerra na Ucrânia e bloqueio à Rússia: Kamaz fica novamente fora do Dakar em 2024

Vencedora de 19 competições de caminhão no Dakar, Kamaz fica fora da briga pelo segundo ano seguido por conta do conflito na Ucrânia

A guerra na Ucrânia vai afetar o Dakar 2024, assim como aconteceu no ano anterior. A montadora russa Kamaz, maior vencedora da história na classe dos caminhões, vai novamente ficar fora da disputa na edição que começa no próximo dia 5 de janeiro, na Arábia Saudita.

Há pouco mais de um ano, em setembro de 2022, a Kamaz se manifestou publicamente pela primeira vez quanto à situação correspondente ao Dakar. Na ocasião, a fábrica anunciou, por meio de comunicado expedido pelas redes sociais, que não compactuaria com a exigência da FIA de que os pilotos assinassem um documento que condenava a guerra na Ucrânia. Assim, ficaria fora do evento do ano posterior.

“Em nossa opinião, o conteúdo do documento [no qual a FIA exigiu assinatura] é político e viola os princípios das condições iguais para atletas. Consideramos impossível assinar documentos assim e participar em competições sob estas condições. Nossa escolha é clara: estamos sempre com nossa pátria-mãe, especialmente quando se trata de uma situação difícil”, afirmou a companhia.

A Kamaz é a grande dominadora da classe de caminhões no Dakar há muito tempo. Na realidade, são 19 vitórias. Apenas as duas primeiras, 1996 e 2000, antes da virada do século. Desde então, 17 vitórias em 23 edições — levando em conta que não participou em 2023 e que o rali não foi realizado em 2008.

Kamaz venceu 17 edições do Dakar nos caminhões desde a virada do século (Foto: Red Bull Content Pool)

As exigências da FIA foram não apenas para a participação no Dakar, mas em todo o Mundial de Rali Cross-Country, chancelado pela federação e do qual o Dakar é contabilizado como etapa. Ainda em 2022, a Kamaz sofrera sanções de União Europeia, Nova Zelândia e Japão.

O motivo é que a maior acionista da Kamaz é a Rostec, companhia pública de alta tecnologia da Rússia. Assim como a Rússia, Belarus também está sancionada pela comunidade internacional por se colocar ao lado da Rússia nos esforços de guerra: por isso que outra fabricante, a MAZ, companhia pública de Belarus, também está impedida de participar.

Inclusive, a briga entre as duas esquentou no tradicional Rali Silk Way, uma espécie de Dakar russo, em 2023. A MAZ surpreendeu a favorita Kamaz e venceu — e, na ocasião, o piloto vencedor Siarhei Viazovich, tratou da questão.

“Chegamos a negociar no começo e no meio do ano. Enquanto atletas, poderíamos participar se assinássemos certos documentos, mas rejeitamos as condições, que não podemos apoiar de maneira alguma. A MAZ está ela mesma sob sanções que atuam contra sua tecnologia. Não dava para resolver isso, mas é inaceitável para nós. Já dissemos várias vezes que queremos retornar assim que os termos forem bons para todos. E que nossas bandeiras, hinos e símbolos estejam com a MAZ”, falou.

Sem a Kamaz, Janus van Kasteren e a IVECO levaram a melhor no Dakar 2023 (Foto: Dakar)

A situação se estende mesmo que o esporte internacional comece a repensar o banimento de atletas. Nos últimos meses, o Comitê Olímpico Internacional (COI) chegou a anunciar que a decisão sobre participação de atletas russos e bielorrussos nas Olimpíadas de 2024 ficariam a cargo das federações internacionais de cada esporte, ainda que os países não recebam convites formais. A recomendação do COI é que os atletas sejam aceitos como neutros, sem o envolvimento do país, e que compitam apenas em eventos individuais e se não forem apoiadores da guerra ou afiliados às forças armadas.

A Federação Internacional de Esgrima chegou a acabar com qualquer sanção e encarou resistência forte da comunidade internacional — inclusive com a Federação Europeia batendo o pé para manter o banimento. Inclusive, no Mundial de Esgrima em julho, uma atleta ucraniana foi desclassificada por se rejeitar a cumprimentar a rival russa ao fim do jogo, algo até então obrigatório. Depois disso, a atleta ganhou vaga automática nas Olimpíadas e a obrigatoriedade do cumprimento com toque de mãos foi abolida.

Embora a FIA siga os mesmos moldes e tenha até oferecido à Kamaz a chance de correr como equipe se repelisse a guerra e não atuasse com qualquer ligação ao governo russo ou a símbolos russos, a negativa da companhia se manteve para 2024. Além disso, as forças armadas da Rússia fazem uso de veículos da Kamaz, o que complicaria ainda mais a participação frente aos rivais internacionais.

Aliás, a Federação Internacional de Motociclismo (FIM) — que chancela competições de moto e quadriciclos no Dakar — é ainda mais dura e nega a licença para qualquer piloto com nacionalidade russa ou belarussa, mesmo que corram por outra bandeira. Foi o que aconteceu com Dmitriy Mazanov, excluído em cima da hora de um evento em Portugal em outubro por ter nacionalidade belarussa, ainda que seja sabido opositor do governo de Alexander Lukashenko e, por ironia, corra sob a bandeira ucraniana.

Com as restrições, não há qualquer piloto russo ou belarusso inscrito no evento, bem como marcas.

O Dakar 2024 tem o prólogo no dia 5 de janeiro e, daí por diante, continua em 12 especiais entre os dias 6 e 19. A largada oficial acontece na cidade de AlUla, com a chegada em Yanbu. Toda a rota é na Arábia Saudita.

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