Sainz sofre com pressão no início, mas engrena e vira menor dos problemas da Ferrari

Carlos Sainz não faz uma temporada 2022 brilhante, mas também não está mal como estava no início do ano. O espanhol pegou a mão do carro manhoso da Ferrari e, principalmente, superou a pressão de estar em um grande palco, disputando finalmente vitórias e até o título em determinado momento. O problema é que a reação veio justo quando a equipe italiana entrou na espiral mais negativa possível

As primeiras corridas da temporada 2022 da Fórmula 1 indicavam que Carlos Sainz precisaria subir muito de nível, mas poderia, sim, brigar por seu primeiro título. A realidade logo bateu na porta, entretanto: o espanhol melhorou bastante, já venceu corrida, mas está totalmente fora da disputa. E hoje é o menor dos culpados por isso.

Fazer uma avaliação da primeira metade de temporada de Sainz é algo bem mais complexo do que falar da Ferrari em 2022. Se a equipe é a rainha do vacilo até aqui, a protagonista de uma comédia pastelão semana após semana, o espanhol teve um início bem complicadinho, mas subiu de produção e parece muito mais à vontade e menos pressionado. A questão agora é: será que ainda motivado para um pós-férias quase que de cumprir tabela em um campeonato meio decidido em favor de Max Verstappen e da Red Bull?

Os sinais recentes foram interessantes, isso é inegável. Do Canadá em diante, o espanhol se transformou, ou melhor, voltou a ser o piloto que impressionou tanto o paddock da F1 entre 2019 e 2021: consistente, rápido, competente na classificação e craque no gerenciamento do equipamento. A versão ‘Smooth Operator’ de Carlos voltando.

Carlos Sainz venceu o GP da Inglaterra com a Ferrari (Foto: AFP)

A subida de Sainz coincide com o naufrágio da Ferrari e isso obviamente não é nada legal para ele. O carro continua sendo ótimo, possivelmente o melhor do grid em potencial e ritmo, mas quebra muito. E a equipe faz barbaridades em estratégias e nos pit-stops. E entenda que a palavra barbaridade aqui tem o pior dos sentidos.

Já virou uma espécie de meme, por exemplo, a quantidade de planos que a Ferrari oferece para o espanhol nos rádios durante as corridas. Uma sopa de letrinhas, de fato. Em Mônaco, etapa que teve mais um dos vários erros de tática do time italiano, a tragédia seria maior não fosse Sainz batendo o pé no rádio para passar dos pneus de chuva direto para os de pista seca. Semanas depois, chegou a corrigir o próprio engenheiro no rádio sobre a punição que havia recebido da direção de prova. Isso no meio de uma corrida, uma situação que beirou o surrealismo. Mais memes, pois.

Mas o foco aqui não é a Ferrari. É claro que para falar de Sainz a gente precisa passar por tudo que acontece com o time italiano, mas o espanhol também tem bastante coisa a ser analisada em 2022. E o início do campeonato sugere uma reflexão: afinal, Carlos só não se adaptou mesmo ao carro ou também sentiu a pressão de ter um equipamento com potencial de campeão pela primeira vez na F1?

Essa resposta provavelmente nunca vai ser dada, quer dizer, certamente não em 2022, mas é fato que Sainz se mostrou desconfortável como não parecia desde os tempos de Renault, em que penou no início da passagem para acompanhar Nico Hülkenberg entre 2017 e 2018. Desta vez, com um carro avassalador, exagerou nos erros, pecou sistematicamente nas definições das poles e, pelo menos no primeiro terço do ano, foi atropelado por Charles Leclerc.

Carlos Sainz sofreu mais uma quebra em Baku (Foto: Ferrari)

Foram incontáveis as vezes em que Sainz fez a melhor primeira tentativa em Q3 e, na hora de decidir a pole, errava na parte final da volta – Austrália, Azerbaijão, Bahrein, Jedá… Isso denota pressão, sim, não apenas alguém tentando extrair tudo de um carro que não tem muito sua cara. Nas corridas, o drama foi menos recorrente, é verdade, mas a desvantagem para Leclerc já estava construída nos sábados, ficava ruim de tirar depois.

Isso se refletiu bastante nas duas primeiras provas do ano. Foram dois pódios, no Bahrein e na Arábia Saudita, mas duas vitórias de Leclerc e a sensação de que o espanhol estava um patamar abaixo. Mas a situação piorou bastante na Austrália e em Ímola, quando Carlos chegou falando em fazer corridas perfeitas e saiu sabendo que, para brigar por título, ia precisar ganhar quase tudo até o fim do ano. Foram finais de semanas tenebrosos, com abandono errando sozinho em Melbourne e abandono ao ser acertado por Daniel Ricciardo na Emília-Romanha, em prova que classificou-se muito mal, diga-se.

“O importante é que eu aprendi com isso, e nós como time também aprendemos. Para ser mais perfeitos, mais fortes, mais robustos em todos os aspectos, e manter na cabeça que ainda há muitas corridas e tudo pode acontecer. Só podemos ter certeza de que aprendemos com isso para ter 20 corridas perfeitas”, declarou.

Miami, Espanha, Mônaco e Baku foram de alguns erros pontuais, mas resultados e atuações melhores. Em Mônaco, aliás, poderia ter vencido a corrida não fosse a inoperância do time nos boxes. Em Baku, quebra do carro, já na fase em que a Ferrari deixava não apenas Sainz, mas principalmente Leclerc na mão na briga por qualquer coisa em 2022.

“Estou um pouco sem palavras porque é obviamente uma grande perda de pontos porque acho que poderia ter sido um 1-2 fácil”. A frase de Sainz foi dita na Áustria, mais para frente no campeonato, mas poderia ter sido repetida em diversas ocasiões ali.

Carlos Sainz ficou em segundo no Canadá, colado em Verstappen (Foto: Ferrari)

Como já antecipamos no começo do texto, a derrocada da Ferrari a partir daí foi feroz, uma comédia de erros. Mas Sainz pegou a contramão e cresceu legal. A virada da chavinha veio no Canadá, quando pressionou muito Verstappen na briga pela vitória. Logo depois, na Inglaterra, o primeiro triunfo e a primeira pole da vida na F1, em um fim de semana em que tudo foi tão estranho que Carlos nem parecia estar em seu melhor. E mesmo assim levou.

A grande atuação de Sainz na F1 2022 provavelmente tenha sido o GP da França. Com chance de vitória na Áustria quando quebrou de novo, o espanhol saiu da última fila em Paul Ricard e foi extremamente combativo, chegou em quinto e poderia até ter feito pódio não fosse azar com safety-car, que estrahou a estratégia. Nem mesmo a atuação mais tímida em uma Hungria de horrores da Ferrari apaga a boa remontada do espanhol.

Fato é que Carlos vai para a pausa das férias de verão da F1 bem menos pressionado do que estava no começo do ano. Tirou o peso da falta de vitórias das costas, colou em Leclerc no Mundial de Pilotos e vem competindo verdadeiramente nas últimas provas, tanto nas classificações quanto nas corridas. Inclusive, quando parecia ter virado o segundo piloto do time, a Ferrari estragou as chances do monegasco, ou seja, provavelmente nem isso mais atrapalhará os planos de Sainz nas corridas.

A briga possível é pelo vice-campeonato, já que Verstappen disparou, mas Sergio Pérez não passa muita confiança e a Mercedes ainda não está no mesmo nível de Ferrari e Red Bull. É um objetivo meio tímido para o que os italianos projetaram desde o ano passado, mas já seria uma bela conquista. Ainda que Carlos jure que dá para ser campeão.

“Eu acho que está claro o que a Ferrari precisa fazer, que é vencer as corridas que Max quer vencer. Porque, obviamente, conseguir os 25 pontos fazem grande diferença na recuperação. Acho que ainda há coisas que podem acontecer lá na frente”, comentou.

O panorama hoje indica que Sainz talvez seja o menos cotado na briga de cinco pilotos pelo vice de Verstappen – sim, pelo vice, mas dá para sonhar. E a receita para o sucesso não tem muito mistério: manter a boa forma recente e torcer para a Ferrari parar de cometer tantos erros capitais.

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