Chefe revela que Ferrari não vetou teto orçamentário por “senso de responsabilidade”

Eis uma nova Ferrari? A escuderia de Maranello é a única da Fórmula 1 a ter poder de veto a respeito de mudanças no regulamento, mas não o exerceu e ajudou a implementar o teto orçamentário, que vai entrar em vigor a partir do ano que vem. Mattia Binotto defendeu o diálogo como alternativa para chegar a um denominador comum que seja bom para todas as equipes do grid

Há duas semanas, a Fórmula 1 aprovou mudanças importantes no regulamento esportivo, técnico e financeiro. Alguns pontos já vão ser válidos para a temporada deste ano, enquanto o teto orçamentário, dispositivo que consiste na limitação de gastos por parte das equipes, vai entrar em vigor a partir de 2021. Ficou acordada a redução do limite para US$ 145 milhões (R$ 706,6 milhões) no ano que vem, US$ 140 milhões (R$ 682 milhões) em 2022 e US$ 135 milhões (R$ 657 milhões) em 2023-2025, com base em uma temporada de 21 etapas. A Ferrari é a única dentre as 10 escuderias do grid com poder de veto e, se quisesse, poderia rejeitar a proposta, mas não o fez. Mattia Binotto disse que a decisão da marca italiana foi baseada na responsabilidade e no momento que o mundo atravessa, agravado pela pandemia do novo coronavírus.

O dirigente ítalo-suíço, responsável por comandar a equipe de Fórmula 1 desde o começo do ano passado, falou ao site britânico ‘RaceFans’ sobre a nova postura da Ferrari no âmbito político. E ainda que tivesse deixado claro que a escuderia de Maranello foi contra um teto ainda mais baixo, de US$ 120 milhões (ou R$ 584,8 milhões), era necessário dialogar para chegar a um número que fosse equilibrado para todos. No fim das contas, a decisão por iniciar a implantação do limite orçamentário em US$ 145 milhões.

“Usar o veto às vezes não é a maneira correta de abordar isso. Conversar e tentar encontrar o comprometimento correto é o primeiro caminho a seguir. Acho que é assim que trabalhamos agora. A conversa sobre a Ferrari assumir compromissos não é algo que estamos acostumados a ouvir. Dito isso, durante essas discussões, centradas em reduções de teto orçamentário de até US$ 120 milhões, a Ferrari foi inicialmente vista como um obstáculo, recusando-se efetivamente a ceder”, explicou o engenheiro.

Mattia Binotto defendeu a postura da ‘Nova Ferrari’ no âmbito político (Foto: Ferrari)

“A decisão sobre o limite orçamentário reduzido para US$ 120 milhões deveria ter sido tomada em uma semana, mas demorou mais de uma porque a Ferrari insistiu no fato de que precisamos aprofundar sobre os números, analisá-los para, basicamente, apoiar de maneira proativa a discussão em direção à conclusão que alcançamos”, disse.

Na visão do chefe da Ferrari, só em último caso a equipe vai exercer o direito de vetar uma mudança de regra na F1.

“Acho que o que foi exposto é a primeira abordagem que sempre devemos ter. E o veto é algo que você só lança mão se for totalmente contrário ao que está acontecendo. O segundo ponto, como disse antes, é uma questão de senso de responsabilidade, que o bem da F1 é o bem da Ferrari e vice-versa. Então acho que não é uma batalha. Não estamos em posições opostas. Precisamos colaborar na solução correta”, complementou.

A imposição do teto a partir de 2021 vai trazer um impacto maior, obviamente, para as principais equipes do grid, que têm consequentemente mais funcionários. A Ferrari, por exemplo, estima que 350 postos de trabalho vão ser afetados. Uma das alternativas para manter os empregos dos funcionários é ampliar o leque de atividades para outras frentes, e a equipe não descarta expandir os horizontes para o Mundial de Endurance ou mesmo para a Indy.

Até mesmo nesse sentido, a Ferrari apoiou que o limite orçamentário não fosse tão baixo nos primeiros anos.

“Vamos passo a passo. Foi um regulamento financeiro que foi fechado no ano passado. E o limite orçamentário de US$ 175 milhões já era um exercício enorme, difícil e desafiador para as três principais equipes e, particularmente, a Ferrari. Mas esse foi um acordo do ano passado para o qual já estávamos preparados”, salientou.

“Não é simplesmente uma decisão baseada em um número. A primeira implicação para nós foi nosso trabalho, nossos funcionários em termos de emprego. Sentimos fortemente que essa é nossa responsabilidade social enquanto Ferrari, e nosso primeiro objetivo foi proteger nossos funcionários”, destacou Binotto.

“Não foi uma conclusão final emotiva, foi uma conclusão que se adequou às equipes e certamente a nós mesmos porque levamos tempo para discutir isso. Não posso dizer que estou totalmente satisfeito com a solução porque agora o exercício é certamente muito difícil, mas estou feliz considerando como a discussão começou”, complementou.

“Vamos começar pelos US$ 145 milhões, vamos ver como é, vamos ver se realmente podemos pagar por isso e, eventualmente, você pode ter uma noção de como poderiam ser os próximos números. Acho que a decisão de US$ 145 milhões hoje reflete quais vão ser os regulamentos técnicos do futuro e também os seus efeitos. Para mim, o número não é somente uma redução, mas um reflexo de quais regulamentos estão em vigor”, acrescentou o dirigente.

De certa forma, Binotto entende que a nova regra é uma chance de a Fórmula 1 equilibrar as forças das equipes, mas sem perder o chamado DNA que a diferencia de outras categorias do esporte a motor. “A F1 não pode se tornar uma espécie de F2 do futuro e nem mesmo a Fórmula E. A Fórmula 1 é a Fórmula 1, e o fato de as equipes de fábrica estarem empurrando a tecnologia além dos limites é importante. Acho que ter um limite orçamentário é uma maneira de controlar as despesas e outra maneira de ajudar as equipes a convergir, a um certo nível, o desempenho”.

“A F1 é um grande espetáculo. Se você deixar muita liberdade no lado técnico ou esportivo, vai poder descobrir que não há concorrência suficiente entre as equipes. Portanto, acho que as regras existem para estabelecer um grande espetáculo, e os regulamentos tornaram-se nosso desafio para encontrar a melhor solução”, finalizou.

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