GUIA 2019: Sem Alonso e mais jovem, McLaren reforça área técnica para limar falhas e encontrar competitividade

Com Zak Brown e Gil de Ferran no comando, a McLaren apostou na juventude de sua dupla de pilotos e em uma reestruturação técnica para retomar o caminho da competitividade. A equipe viveu uma pré-temporada produtiva e parece ter nas mãos um carro com grande potencial

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A McLAREN SURGE mais jovem em 2019 e buscando a redenção. A equipe britânica precisou tomar decisões difíceis na temporada passada como forma de se fortalecer e encontrar um caminho seguro para achar a competitividade de outrora. A parceria com a Honda deixou cicatrizes dolorosas. O fracasso ainda ecoa, especialmente após o enorme investimento feito no trabalho com os japoneses. Portanto, a reorganização foi inevitável e a ordem foi a de colocar as pessoas certas nos lugares certos, trazer recursos e ter uma orientação clara de trabalho. Então, depois de trocar os nipônicos pelos franceses da Renault em 2018, ainda restava mexer em peças que antes pareciam intocáveis, mas que acabaram se revelando ineficientes. Esse foi o caso de Éric Boullier. O antigo diretor de corridas foi o primeiro a perder o emprego no ano passado, quando ficou claro que, apesar dos esforços da engenharia e dos gauleses com o motor, o carro inglês não tinha conserto. Era hora mesmo de virar a página.
 
A partir daí a esquadra comandada por Zak Brown recorreu a um rosto familiar: Gil de Ferran. A experiência e as habilidades com chefias em equipes tanto na própria F1 quanto nos EUA, além do trabalho ao lado de Fernando Alonso em Indianápolis e de uma carreira vitoriosa como piloto, credenciaram o brasileiro, que assumiu o posto chave de diretor-esportivo. De Ferran passou a reconhecer os pontos fracos e a preencher as lacunas. A comunicação e o relacionamento entre as diferentes pessoas dentro da equipe foram os principais alvos. Enquanto isso, a McLaren deixava de lado o carro de 2018 já no segundo semestre para se concentrar no novo projeto.

A opção parece ter sido acertada. 

Carlos Sainz é que vai liderar a McLaren pela maior experiência (Foto: McLaren)

No meio disso tudo, o time ainda esperou por uma decisão de Alonso – que já demonstrava pouco entusiasmo pela equipe e pela F1. Stoffel Vandoorne acabou dispensado por tabela. Com o espanhol determinado a correr atrás da Tríplice Coroa, a equipe britânica escolheu apostar em uma combinação bem jovem: promoveu o pupilo Lando Norris – vice-campeão da Fórmula 2 – e trouxe para o lugar do bicampeão o também espanhol Carlos Sainz – quase um aprendiz de Alonso. 

 
Sainz vem de uma linhagem quase real do esporte a motor. Foi piloto do programa da Red Bull, estreou no Mundial pela Toro Rosso em 2015 e, sem ver chance de promoção para a equipe A após duas temporadas e meia, acabou acertando com a Renault, marca que defendeu no ano passado depois de um acordão que envolveu a saída da Honda da McLaren e o contrato com os franceses pela equipe inglesa. Carlos fez um ano decente, mas perdeu para o companheiro Nico Hülkenberg. Ainda assim, sustenta a reputação de um piloto rápido e eficiente. Já Norris se prepara para a estreia, depois de um cuidadoso trabalho da equipe para desenvolver suas habilidades. Rápido, Lando teve boas atuações na F2 e chegou a andar em treinos livres com a McLaren. O inglês chega já com a pressão de repetir a história do compatriota mais famoso. E está aí o problema da equipe. De qualquer forma, é alguém que rejuvenesce o grid e prova que a categoria de acesso ainda tem seu valor.
 
Só que as contratações não pararam por aí. 
 
A McLaren também foi atrás de profissionais de peso para integrar a área técnica. Depois de meses negociação com a Red Bull, conseguiu o passe de James Key – ex-diretor-técnico da Toro Rosso. Talvez o reforço mais importante do ponto de vista do que o time pensa para o futuro. Key é reconhecido por seu trabalho impecável e criatividade. Só que o projetista só vai assumir o cargo de diretor-técnico no fim deste mês. Ou seja, o carro deste ano ainda não contará com sua assinatura. Além dele, a equipe também contratou Andreas Seidl, homem responsável pelo sucesso da Porsche no Mundial de Endurance e que tem no currículo o trabalho com a BMW na F1. O alemão será o responsável por chefiar a equipe, aliviando o trabalho de Brown.

Seidl, entretanto, estreia ao longo deste ano. 

Gil de Ferran é quem dirige a McLaren neste momento (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)
“O objetivo é tornar a equipe melhor e mais forte”, disse De Ferran ao GRANDE PRÊMIO em entrevista exclusiva. Durante os testes de pré-temporada, em Barcelona, o dirigente ainda explicou que muito de seu trabalho desde o ano passado foi “em entender melhor a equipe” para ajudá-la a dar um passo adiante em 2019.
 
De fato, parte dessa reformulação técnica se refletiu no bom carro construído em Woking. O MCL34 nasceu melhor que a versão anterior. O novo carro inglês corrigiu as falhas do ano passado, com relação ao ajuste do motor e aos setores aerodinâmicos. O modelo tem uma distância entre eixos maior e um pacote interessante. A confiabilidade impressionou. Embora a esquadra tenha aparecido na frente em alguns dias de atividades, impulsionada pelos pneus C5, a impressão que fica é que a McLaren tem carro com uma base muito mais sólida. Talvez o único elo frágil é não ter uma fábrica trabalhando com exclusividade, como aconteceu nos anos vitoriosos com a Mercedes. 
 
O GP questionou De Ferran sobre o desempenho do time e o que esperar para o campeonato que começa, neste fim de semana, na Austrália. “Foi um teste produtivo”, afirmou cauteloso Gil. “Acho que esse carro deu um passo à frente com relação ao carro do ano passado, mas isso é algo relativo na comparação com o que os demais fizeram. A gente fez o melhor que a gente pode com o tempo que a gente teve. Agora, temos de esperar e ver o que acontece.”
 
“Mas um dos grandes objetivos dos testes foi realmente a confiabilidade. Ou seja, conseguir fazer o maior número possível de milhas. Tentar entender da melhor maneira possível como o carro se comporta diante disso. E esse foi um objetivo que a gente atingiu”, completou o dirigente que hesitou um pouco ao dar nota pela performance geral na Catalunha.
 
“Acho que nota dez um pouco exagerado, mas fica aí para cima de cinco e abaixo de dez.”
 
A McLaren fechou as atividades espanholas dentro do top-10 no que diz respeito às voltas mais rápidas. Sainz foi o melhor com o oitavo tempo no geral das duas semanas de testes, enquanto Norris ficou com a décima colocação. As ambas as marcas foram feitas com os pneus C5. Em termos de quilometragem, a equipe acumulou 873 voltas e ficou atrás de Mercedes, Ferrari, Renault, Toro Rosso e Alfa Romeo. É bem verdade que a equipe enfrentou problemas, protagonizou bandeiras vermelhas, mas o saldo é positivo. "Acho que vamos chegar à Austrália melhor preparados", falou De Ferran.
Fernando Alonso em visita à F1 em Barcelona (Foto: McLaren)
O desempenho na pré-temporada também foi tratado como um alívio depois dos perrengues dos últimos anos. Mas Gil também credita o ambiente mais leve à chegada de uma dupla nova. Ainda assim, o brasileiro entende que a responsabilidade por entregar resultados não mudou em nada com a saída de Alonso. Mesmo com pilotos diferentes – um estreante e outro já com certa bagagem da F1 -, a cobrança por resultados será igual. A diferença agora é que o carro parece mais competitivo. 
 
“Como competidor que sou, eu acho que, quando você diz que vai competir mesmo, significa que, na verdade, aceitei essa responsabilidade de tentar ter sucesso seja lá que empreitada eu escolhi. Acho que isso que, para mim, traz essa responsabilidade”, revelou o vencedor da Indy 500 em 2003.
 
“É uma questão de aceitar. Não vejo como isso [saída de Alonso] como pressão.”
 
Mas o bicampeão da F1 ainda segue na equipe. Foi nomeado embaixador e, inclusive, vai testar tanto o modelo atual quanto é de 2020. Fernando, na verdade, não se desligou da McLaren e nem do Mundial. Talvez só esteja esperando o resultado de toda essa mudança. Que até aqui parece ter sido acertada.
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