Verstappen humano sofre pressão e sobe tom. Mas é ainda melhor que ‘versão robô’ na F1
Max Verstappen vive uma temporada 2024 muito diferente daquela de 2023. Sem carro dominante, sente pressão, erra e sobe o tom com irritação. Mesmo assim, caminha rumo ao tetra com sobras e reafirma posto de melhor piloto da Fórmula 1
Quando a temporada 2024 da Fórmula 1 começou, as expectativas de competitividade eram as mais parcas possíveis. O domínio acachapante de Max Verstappen em 2023, dono de 19 vitórias em 22 corridas, com a Red Bull dona de 21 – somando as duas de Sergio Pérez -, causava natural condicionamento de imaginar novo atropelo. Não havia, afinal, qualquer elemento novo nas regras que criasse um ambiente próprio para mudanças. Mas, naquelas coisas, a F1 mudou muito e apresentou diferente faceta do atual tricampeão vigente.
É verdade que a briga pelo título estacionada agora, durante as férias de verão, em 14 das 24 provas do calendário, foi também afetada gravemente pelas primeiras corridas. Antes que a F1 chegasse à Europa, o domínio de Verstappen e da Red Bull se estabeleceu. Após vitórias contundentes e derrotas circunstanciais do início do ano, a sobra de Max era a esperada. Permitiu, assim, que abrisse ampla vantagem para os demais no Mundial de Pilotos.
O mundo girou mesmo depois disso. A McLaren acertou nas atualizações inseridas na Emília-Romanha e passou a ter o melhor carro do grid na somatória das etapas seguintes, enquanto a Mercedes apareceu recentemente ao finalmente encontrar a trilha de desenvolvimento que buscou por dois anos. Mesmo atrás, a Ferrari também apareceu para dançar e ganhou o GP de Mônaco.
Se a temporada vivia às voltas com mais um comando absoluto, tudo ficou de ponta-cabeça. Tirando Pérez, em desgraça cósmica apesar de mantido na Red Bull até o fim do ano, os outros sete pilotos das quatro principais equipes do grid já venceram ao menos uma corrida na temporada: Verstappen, Lando Norris, Oscar Piastri, Lewis Hamilton, George Russell, Charles Leclerc e Carlos Sainz. Tudo muito parelho.
Com a ordem de forças alterada a cada corrida, o que é possível cravar é que a Red Bull já não sobra em pista alguma. É até possível argumentar que tem um carro, olhando em termos gerais, pior que os de McLaren e Mercedes. Se o Mundial de Pilotos está bem encaminhado porque a divisão de pontos impediu que alguém realmente se aproximasse de Max, o de Construtores está altamente a perigo para a Red Bull.
Aí, entra aquilo o que Verstappen não sentia há tempos: pressão. Após 2021, o neerlandês jamais se viu às voltas com a pressão novamente, ao mesmo na mesma magnitude. É verdade que em 2022, sobretudo nas primeiras dez corridas do ano, a Ferrari tinha carro até melhor em média, mas era outro momento. Verstappen ainda era jovem e, apesar de campeão e favorito, não era executor de uma dinastia. Novas regras estreavam, os carros eram pequenos mistérios e Max ainda curtia a lua de mel do caneco anterior. Ao natural, a ordem se restabeleceu e a Ferrari ficou no contrapé.
Mas em 2024 o desenho é completamente diferente. Dono de três títulos em sequência e vindo de dois recordes históricos de vitória por ano, sabe que o que se espera dele é nada menos que a perfeição. Sabe que sempre que entra em combate o público imagina que seu oponente parte sem defesa para o infortúnio do cadafalso. Só que já não há mais como sustentar tal banca: o carro não permite.
Pressionado, Verstappen cometeu até erros, veja só, algo que há anos não se via. Nada digno de livros de memória, mas equívocos aqui e acolá, como em Miami e na Áustria, que custaram melhores resultados. A dureza titânica em duelos de pista também voltaram a se manifestar, como contra Norris em Spielberg, bem como a irritação desmedida, que apareceu na comunicação com a equipe e estourou num mergulho desesperado que causou acidente com Hamilton na Hungria.
É bom entender que a raiz da frustração de Verstappen com a Red Bull vai além apenas das rivais estarem mais próximas ou de uma corrida com erro estratégico, como em Hungaroring, coisas que acontecem no esporte. É também parte da situação que se arrasta desde o começo do ano, com as acusações contra o chefe Christian Horner e a subsequente queda de braços interna entre a corrente de Horner e a corrente de Helmut Marko e que conte também com Max e Jos. Jos Verstappen e Horner, vira e mexe, cutucam um ao outro publicamente.
Enquanto se vê cortejado por rivais como o melhor piloto da F1 atual, sabe que a tal queda de braço interna foi perdida. Horner, com o apoio dos acionistas majoritários não-executivos a Tailândia, não apenas resistiu à pressão como se tornou mais poderoso na companhia. E Max tem de seguir, especialmente por ter um contrato longo que o amarra até o fim da década. Pode sair antes? Claro, mas precisa de uma conjunção de fatores que, ao menos hoje, não existe. E mesmo que existisse: como confiar nas rivais que até outro dia passavam sufoco vendo os taurinos de longe? Tudo isso cria massaroca de possibilidades que aumentam a agonia interna de toda a equipe e certamente de Max.
Mesmo com tudo contabilizado, Verstappen ainda é o piloto que mais venceu corridas desde o começo da perna europeia, quando a ordem de forças mudou. Ganhou três das oito provas. Foi quem mais pontos anotou, também: 141 pontos contra 125 de Piastri, 123 de Hamilton, 116 de Norris e menos de 100 para todos os demais.
O fim da versão robô, de poucos sentimentos na pista e nenhum erro, não diminuiu Verstappen. Pelo contrário, até. Transformou o melhor piloto da F1 numa versão ainda melhor e mais interessante de si mesmo, que tira muito de pouco, passa do ponto e manifesta exaltação com o que tem em mãos. O Verstappen versão ‘super 2021’ é a melhor versão de si mesmo e apenas consolida o status de piloto #1 do mundo. Com pontos de frente para o vice-líder Norris, o tetracampeonato mundial é logo ali.
A Fórmula 1 agora faz a tradicional pausa para as férias de verão na Europa e volta de 23 a 25 de agosto em Zandvoort, para a disputa do GP dos Países Baixos.
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