McLaren alinha exército de pilotos, mas piora na pista e joga estabilidade no lixo

Se havia quem esperasse que a McLaren fosse a dona do pulo do gato para 2022, saiu decepcionado. A equipe inglesa chega a agosto marcada por confusão

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A McLaren teve uma década complicada. A queda na virada dos anos 2000 veio passo a passo até despencar de maneira vertiginosa na chegada da Honda, em 2015. A retomada a níveis competitivos dependia de uma ruptura com o passado, algo que aconteceu – com atraso, mas aconteceu. Zak Brown passou a ser a pessoa encarregada da companhia, mas o salto da equipe de Fórmula 1 foi somente com a chegada de um novo chefe: Andreas Seidl. Com a McLaren pensando o futuro como uma organização do Século XXI, chegou o grande trunfo dos últimos anos: a estabilidade. Que resolveu esfaquear de uma hora para outra neste estranho 2022.

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Com esses dois, sobretudo tendo Seidl à frente das decisões da F1, a equipe pôde se adaptar. Apostou no Lando Norris que criou desde jovem para tanto e numa tentativa certeira com Carlos Sainz, que saiu apenas porque quis após os melhores anos na categoria. Daniel Ricciardo foi mais uma decisão pensada e que fazia todo sentido, apesar de não ter dado certo.

O ponto é que nesse tempo o que fez a McLaren voltar a ao pódio várias vezes, vencer e se estabelecer como quarta força do grid em 2019 e 2021 — além da terceira posição em 2020. Com a estabilidade, o teto orçamentário minimizando a distância para as equipes mais ricas e a mudança de tecnologia para 2022, era um palpite comum que a McLaren seria quem mais tinha condições de se aproveitar e ameaçar.

Não apenas isso não aconteceu como a McLaren passou a cometer mais erros e viu a Alpine terminar a primeira parte do ano na frente. Mas há algo mais grave que isso. A McLaren alinhou um exército de pilotos para que fiquem à disposição para todas as suas categorias. Os métodos que usou para tanto são bastante questionáveis, mas o que for que dê para pensar é fato que saíram oferecendo a vaga de Ricciardo sem que o australiano, sob contrato, fosse avisado de que o fim estava sendo adiantado.

Oscar Piastri será piloto da McLaren (Foto: Alpine)
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O duelo com a Alpine por Oscar Piastri é uma exclamação na decisão da McLaren de jogar a estabilidade no lixo e passar a tomar o caminho contrário: criar instabilidade para, tal qual um buraco de minhoca, sugar para o caos quem está ao redor.

O carro de 2022 não era tão bem nascido assim. Na realidade, a abertura da temporada foi de assustar. Sem pontos no Bahrein e um sétimo lugar com certa sorte na Arábia Saudita. Daí em diante, as coisas melhoraram e o carro deu um salto de qualidade para o trecho do grid onde era normal. Há certa inconsistência e o crescimento da Alpine é um fato, mas o time inglês já voltou a se estabelecer na briga pelo topo do pelotão intermediário.

O carro é razoável agora, mas dá para argumentar que a Alpine chega ao recesso com um bólido melhor. Fernando Alonso levou muito azar no começo do campeonato e pontuou bem menos que o rendimento indicava. É verdade que Ricciardo é um fracasso sem fim na equipe inglesa, mas a diferença de pontos que torna a McLaren competitiva está num Norris que é certamente o melhor dos quatro pilotos das duas equipes.

Além de Ricciardo, o que favorece a Alpine na luta contra a McLaren é uma série de naufrágios estratégicos que não são característicos no caminho da retomada da equipe. Como no GP da Inglaterra, um erro na escolha de pneus jogou Norris para trás de Alonso.

“Tivemos que decidir se iríamos utilizar [pneus] duros ou macios”, alegou Lando. “Tomamos a decisão errada de parar na segunda volta [após a entrada do safety-car] e permitimos a Alonso passar com um pit-stop de graça sobre nós. Se eu tivesse parado primeiro, ele teria ficado na pista e eu poderia ter levado vantagem com um pneu melhor”, finalizou.

Lando Norris é o coração da McLaren em 2022 (Foto: McLaren)

Ou no Canadá, quando alinhou os dois pilotos para realizar um pit-stop e só tinha pneus para um deles.

“Não merecíamos pontos em Montreal. Não demos a Lando ou Daniel o conjunto que eles mereciam, então temos de nos desculpar com eles. Também temos que usar isso como oportunidade para aprender e voltar mais fortes”, admitiu o chefe Seidl.

Os erros se juntam ao pior carro da McLaren, na comparação às rivais possíveis, nos últimos quatro anos, além da pior atuação de um piloto neste período. Tudo isso seria possível analisar apenas com o que se viu na pista nas primeiras 13 corridas do ano.

A questão é que a relação se torna tóxica mesmo quando essa parte se junta à forma como a McLaren tem lidado com os pilotos que traz à baila. A companhia esticou tentáculos mundo afora. Além da F1, tem equipes na Indy, na Fórmula E – a partir do fim deste ano – e até na Extreme E. Os acordos com os pilotos não têm direcionamento de categoria, algo que permite a companhia a mandar de um destino para outro sem escalas.

Norris tem contrato de longa duração com a McLaren na F1, mas é amplamente sabido desde os últimos meses que Ricciardo não tem futuro longo apesar de, oficialmente, estar assinado até o fim do ano que vem. Mesmo que a equipe resolvesse manter o contrato da maneira que está escrito, haveria uma abertura para 2024.

A equipe concluiu que devia se aproveitar disso. Assinou renovação contratual com um Pato O’Ward que claramente se sentiu seduzido, embora a equipe conte mais com o mexicano para a Indy, e chamou Colton Herta para testar o carro da F1. Talvez até seja um favor à Andretti, parceira de longa data, sim, mas o que Brown diz é outra coisa.

“Nós levamos muito a sério qualquer um que colocamos em um carro de Fórmula 1 nosso. O fato dele ser americano é ótimo, mas nós nos importamos com desempenho. Nacionalidade está na lista, mas nunca vamos escolher um piloto por questões comerciais primeiramente. O primeiro portão a se atravessar é: nós achamos que este piloto é capaz de ser campeão e vencer corridas? Se a resposta para isso for sim, nós prosseguimos. Nosso pensamento é: vamos dar uma oportunidade para ele e ver do que é capaz”, afirmou após o teste. Claro que deu esperanças.

Depois, Álex Palou. Atual campeão da Indy, o espanhol resolveu entrar numa guerra judicial com a Ganassi, gigante da categoria dos Estados Unidos, para defender a ida à McLaren. Por que Palou brigaria com a enorme Ganassi para ir à McLaren, nunca campeã da categoria? Não era pela Indy, evidente, mas pela chance de receber uma oportunidade na F1. Quem disse foi a própria advogada dele.

ZAK BROWN; MCLAREN;
Zak Brown criou uma confusão danada (Foto: McLaren)

“Estamos decepcionados que a Chip Ganassi Racing tenta impedir Álex de uma oportunidade de competir na Fórmula 1, e ainda mais com o processo e os comentários contínuos à imprensa sobre esse assunto. Álex sempre deu seu melhor esforço para a CGR, e é lamentável que tentem negar a Álex nesta oportunidade”, declarou Rachel E. Epstein, da firma Quinn Emanuel Urqhart & Sullivan, que representa Palou.

Até este momento, Ricciardo fazia questão de afirmar que estava comprometido e queria permanecer para 2023, já que tinha contrato. Seidl fazia o contrário de Brown e indicava a permanência de Daniel, tentando dar alguma tranquilidade ao trabalho do dia a dia e manter a estabilidade. Mas Brown não estava preocupado.

Apenas cinco dias após a declaração da advogada de Palou, o ‘Piastrigate’. A Alpine anunciou o piloto depois da confirmação de que Alonso vai à Aston Martin em 2023, mas Piastri, assim como Palou com a Ganassi, veio a público negar o acordo. A McLaren não se manifestou oficialmente, mas era sabido que era a pivô da situação.

Ou seja, costurou o acordo com Piastri sem avisar a Ricciardo que terminaria o contrato. E fez isso menos de um mês após testar Herta e deixar Palou acreditar que tinha chances. Álex colocou uma bandeira vermelha na carreira em nome de uma vaga que jamais esteve disponível de verdade. Talvez dizer que a McLaren foi canalha com Palou seja muito, mas está claro que foi moralmente desprezível. Tudo leva a crer que por cima de Seidl.

O acerto com Piastri já passou pelo CRB, o órgão interno da F1 que avalia os contratos. A equipe terá Norris e Piastri para 2023, mas a oficialização virá somente após acertar o esquema da rescisão com Ricciardo. No meio disso, tem de exigir que Daniel cresça o rendimento para ajudar Norris na briga pelo quarto lugar do Mundial de Construtores e com o chefe de equipe escanteado nas decisões que vão além da F1.

Se a estabilidade foi a arma do crescimento até aqui, a McLaren resolveu que deveria se tornar a sedutora da F1. Não há mais estabilidade, apenas dúvidas. Tudo que se aproxima dos ingleses, neste momento, parece sugado para dentro da confusão, como faz um buraco de minhoca. Que bagunça de Zak Brown.

McLAREN É A GRANDE VILÃ DO MERCADO DE PILOTOS DA INDY E FÓRMULA 1
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