Mercedes ganha fôlego em Las Vegas, mas para vencer terá de driblar caos, pneus e Ferrari
George Russell confirmou a excelência da Mercedes em um palco dos mais hostis, do ponto de vista técnico, e tem uma chance real de vencer, mas o caminho até a vitória será árduo, porque Las Vegas tende ao caos e ao desgaste de pneus. E como se não bastasse, ainda tem uma Ferrari ávida e muito veloz. Enquanto isso, Max Verstappen limita os danos e parece suficiente já para o tetra
A noite fria em Las Vegas fez surgir uma Mercedes rápida e competitiva. Se na sexta-feira a equipe alemã se perguntava de onde havia saído tanta performance, o sábado (23) respondeu parte das questões. A verdade é que o inconstante W15 aprecia um palco mais hostil. As baixas temperaturas do deserto em Nevada, aliadas a um asfalto pouco emborrachado e sujo, transformaram o carro alemão, que agora entrega ao pole George Russell a chance de brigar pela vitória. No entanto, a trilha até o triunfo parece mais complexa, porque além do caos que se avizinha neste domingo, o inglês ainda terá de driblar um alto desgaste de pneus que se espera e uma Ferrari que parece muito favorita, sem contar o acaso, que sempre ronda pistas tão extremas como essa da Cidade do Pecado.
De toda a forma, Russell fez um trabalho esplendoroso. Ainda que tenha cometido um pequeno deslize ao bater de leve na primeira tentativa do Q3, o desempenho geral foi altíssimo, com uma volta limpa e sem erros, em 1min32s312, apenas a 0s098 do segundo colocado, Carlos Sainz — que parecia muito bem estabelecido na ponta naqueles instantes finais da classificação. Assim, o britânico ratificou a grande forma da Mercedes, que “ganha vida” no frio intenso. De fato, essa é uma característica das mais curiosas do carro preto e prata. Mas desta vez, o pulo do gato esteve em preparar bem o giro rápido, garantindo o melhor momento da pista e pneus. Fez grande diferença, especialmente se considerar as dificuldades de rivais como Max Verstappen e a dupla da McLaren.
Portanto, todas as fichas da Mercedes estão neste quesito. É claro que há uma preocupação com o ritmo de corrida — na sexta-feira, havia uma diferença de 0s4 entre Russell e Sainz, no pneu médio. Então, o controle do desgaste na primeira parte da prova será fundamental, porque a granulação pode se tornar um problema, uma vez que as condições do asfalto recuam um pouco com a abertura do circuito para o tráfego normal da cidade.
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E há ainda uma segunda questão: como os compostos duros vão se comportar em temperaturas mais baixas que o usual, porque ninguém usou o C3 até o momento no fim de semana. Não à toa todo mundo ainda possui dois jogos de duros. Talvez esteja aí também a esperança do time de Toto Wolff, que possui apenas uma ressalva: Lewis Hamilton poderia ter até completado a dobradinha no grid, não fossem erros nas duas tentativas do Q3. Mesmo assim, foi uma demonstração de força das Flechas de Prata.
“Vencemos em Silverstone e em Spa, na chuva e no frio, e então chegamos em Las Vegas para uma prova noturna e nosso carro ganhou vida quando se tinha problema de aderência e a temperatura estava baixa”, reconheceu o chefão da Mercedes. “O feedback que recebemos dos pilotos é que tudo está indo ok, mas você ouve um pouco mais de reclamação dos outros carros por causa da falta de aderência. Então vamos ver o que podemos fazer amanhã”, completou Wolff.
Porque a vitória, de novo, é possível, mas há uma Ferrari também forte. Toto falou sobre isso, inclusive. “Leclerc foi o mais rápido nos stints longos. Será uma questão de evitar a granulação dos pneus. Qualquer um dos melhores carros pode vencer amanhã, mas ganhamos vida quando há falta de aderência e está frio”, destacou.
Parte do trabalho da Mercedes também será o de driblar os italianos. É bem verdade que a SF-24 encara mais dificuldade na hora de aquecer bem os pneus — foi assim em São Paulo, há três semanas, e também na Inglaterra e na Bélgica. Mas de alguma forma, Sainz foi capaz de usar bem o início da volta para entrar na janela correta de temperatura. Isso explica a volta veloz que quase lhe deu a pole. Leclerc, quarto no grid, enfrentou mais problemas. Só que o mandatário da Mercedes tem razão, a Ferrari tem no ritmo de corrida um enorme trunfo. E isso em ambos os carros.

“Temos sofrido em volta rápida durante todo o fim de semana porque não estamos conseguindo colocar a temperatura certa nos pneus para eles trabalharem corretamente”, começou Frédéric Vasseur à Sky Sports. “Mas no Q3 fomos melhores, ao menos com Carlos. Só que temos de concluir o trabalho amanhã. Nosso ritmo é bom, portanto as perspectivas são animadoras. Se dá para fazer uma dobradinha? É um pouco otimista, mas certamente estamos em uma posição muito boa”, reconheceu.
“É possível ultrapassar se você for rápido, e nós temos uma boa velocidade máxima. Teremos de ser muito bons na gestão dos pneus. Se conseguirmos fazer isso, estaremos em uma posição muito boa”, enfatizou Vasseur.
Mas o GP de Las Vegas tende ao caos, não só pela natureza e dificuldade da pista, mas também pelas histórias que serão contadas neste domingo. A primeira delas tem a ver com Verstappen. Mesmo diante de uma Red Bull remendada e com algum déficit de performance — o RB20 ainda perde em velocidade de reta e sofre com a aderência —, o neerlandês assegurou uma sólida quinta posição no grid, à frente de Lando Norris, o que já lhe dá a chance de fechar o campeonato. E não dá para descartá-lo, ainda assim, de uma briga mais à frente.
De toda a forma, será interessante entender o comportamento do piloto #1 frente à situação e diante de uma McLaren que desapontou na classificação, mas que tem condições de se recuperar em corrida — ao menos na sexta, o desempenho foi semelhante ao da Ferrari. E dentro de tudo, há também a disputa do Mundial de Construtores. Ou seja, existe muito em jogo nesse recorte do grid.

Além disso, em uma heróica terceira posição está Pierre Gasly com a Alpine. O francês capitalizou em cima da velocidade do carro rosinha e se colocou no meio da briga de gente grande. E será outro fator também para as ponteiras, que entram em uma corrida com poucas alternativas em termos de estratégia: a Pirelli prevê como tática mais rápida apenas uma parada.
Então, é nesse misto de apostas e balbúrdia que a Fórmula 1 se mostra em Las Vegas.
O GRANDE PRÊMIO acompanha AO VIVO e EM TEMPO REAL todas as atividades do GP de Las Vegas, na Las Vegas Strip, e transmite classificação e corrida em segunda tela, em parceria com a Voz do Esporte, na GPTV, o canal do GP no Youtube. Depois das atividades de cada dia, debate tudo o que aconteceu no Briefing. A largada da corrida será no domingo (24), às 3h (de Brasília, GMT-3).

