Na Garagem: Senna supera pane no câmbio e finalmente vence GP do Brasil

Após uma série de decepções, a edição de 1991 ofereceu a chance de exorcizar todos os problemas de Ayrton Senna no Brasil. Mas com drama

A Fórmula 1 divulgou uma simulação de volta no mais novo circuito de rua da Fórmula 1, Jidá, na Arábia Saudita (Vídeo: Fórmula 1)

Ayrton Senna já era um dos maiores pilotos do mundo, experiente e marcado como bicampeão na história do Mundial de Fórmula 1 em março de 1991. Aos 31 anos de idade recém-completados, tinha alcançado quase tudo. Faltava um ponto e muito importante sobretudo para quem queria tanto vestir o uniforme de herói nacional: vencer o GP do Brasil, na Interlagos que era tanto de seus desejos quanto de suas memórias. Demorou muito, mas o dia chegou num 24 de março como hoje há exatos 30 anos.

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Ao longo dos anos, desde que entrou na Fórmula 1, em 1984, Senna passou perto. Não é que andava mal em casa, primeiro em Jacarepaguá em depois em Interlagos. Cercava o pódio, encostava por lá e tinha problemas. A vitória era o que escapava entre os dedos a cada ano. Mas ia terminar, tinha que terminar. Na Toleman, nem perto; na Lotus, ainda não deu; na McLaren, nos primeiros três anos de parceria, nada. Chegava, então, dono absoluto do Mundial em 1991. campeão vigente, numa McLaren dominante e sem alguém que colocasse pressão imediata.

A Williams começava a trabalhar no projeto da suspensão ativa e com os motores Renault, mas ainda faltava bastante para alinhar velocidade e confiabilidade nos carros de Nigel Mansell e Riccardo Patrese. Assim, Senna iniciou a temporada com vantagem e sobrou no GP dos Estados Unidos que abriu o ano.

Por mais que a equipe de Frank fosse rápida, Ayrton tinha as habilidades mais especiais possíveis para treinos de classificação e foi capaz de segurar o ímpeto de Mansell e Patrese para anotar a quinta pole-position no Brasil, após 1986, 1988, 1989 e 1990. O fim é que teria de ser diferente.

Ayrton Senna em Interlagos no GP do Brasil de 1991 (Foto: Norio Koike)

Depois de uma largada forte e bom ritmo nas primeiras voltas por parte da McLaren, a impressão é que a Williams tinha um carro mais completo para a etapa. Mansell chegava ao pit-stop colado em Senna, mas a parada foi tenebrosa. A Williams se enrolou e segurou o inglês nos boxes por quase 15s. Mesmo assim, depois de todas as paradas, Mansell ultrapassara Patrese e Jean Alesi, da Ferrari, era segundo colocado de novo e se aproximava perigosamente da liderança. Sendo quem sempre foi, porém, lidaria com mais problemas: primeiro um furo de pneu após atropelar sujeira na pista, o que obrigou novo pit-stop.

Em meio aos problemas de Mansell, Senna começou a notar problemas com o seu câmbio: a quarta marcha parou de funcionar e obrigou o piloto a pular marchas, indo da terceira para a quinta e, com isso, gastando o braço na força física. A maldição do GP do Brasil, que parecia chegar ao fim, era reativada. Mas as bruxas de Interlagos estavam de plantão.

Mesmo após o furo, Mansell tinha ritmo muito mais forte – agora impulsionado também pelo câmbio da McLaren já em pane – e voltava a se aproximar a passos largos até que, na volta 59 de 71, sua própria caixa de câmbio traiu: uma falha terminal apareceu e fez o carro inglês rodar no S do Senna.

Com o câmbio falhando cada vez mais, Ayrton optou por não informar exatamente o tipo de problema que tinha, para que os rivais não se alertasse. Havia ainda muita corrida pela frente e os 40s que ainda sustentava seriam tirados só se o novo segundo colocado, Patrese, fizesse uma sequência enorme de voltas de classificação. Sem saber que o rival brasileiro tinha problemas, não havia motivos para tentar tal esforço e gastar o carro de maneira tão agressiva.

Logo após a saída de Mansell, Senna ficou ainda sem a terceira e a quinta marcha. Situação dramática a dez minutos do fim. É verdade que Patrese tirava vantagem volta após volta, mas como Senna não informara de grandes problemas nem para a McLaren, não havia motivos para acreditar que o que estava acontecendo era mais grave do que um piloto, frente a vitória certa, poupar equipamento.

Mais tarde, entretanto, Patrese contaria que também tinha seus problemas no câmbio e que ficara sem uma das marchas. Era um problema da Williams, estrutural àquele ponto, já que a equipe estreava a troca de câmbio via borboleta em 1991.

A partir da volta 63, Senna passou a guiar o carro somente com a sexta marcha: todas as que ainda resistiam, cederam. Com pouco mais de sete giros para terminar, Senna tinha que passar por toda a pista, até os trechos mais lentos, somente com a sexta marcha. Era isso ou ponto morto.

“Faltando oito voltas para o final, a única marcha que entrou foi a sexta. Quando eu tentava mudar entrava o ponto morto. Coloquei a sexta e fui em sexta as sete voltas que faltavam. Na reta tudo bem, mas nas curvas lentas era quase impossível guiar o carro. O esforço que eu tinha da fazer para segurar o volante era maior ainda porque o motor empurrava o carro para fora das curvas lentas”, disse Ayrton à época.

Foi apenas na volta 65 que a Williams deu o aviso a Patrese: Senna tinha problemas. Mas nem eles sabiam direito do que se tratava. Agora, sim, o italiano acelerou o carro e partiu para a recuperação e terminou aquela volta 14s atrás. Mas, ao fim da volta 67, tinha menos de 10s de defasagem. A duas voltas do fim, 4s.

“Eu via o Patrese chegando”, falou Senna depois da corrida. “Procurei mudar meu estilo de guiar para manter as rotações por minuto mais em cima, mas para isso eu tinha de ir mais forte para as curvas, segurar o volante ainda mais nos braços, literalmente”, apontou.

Ayrton Senna só venceu a primeira no Brasil com muito drama (Foto: Pinterest)

Somente duas voltas para o fim, mas a garoa que caíra cerca de 20 minutos antes aparecia novamente. Foi aí, com água na pista, dor nos braços e Patrese chegando como um Concorde, que Ayrton achou que a vitória do GP do Brasil novamente escaparia.

“Eu achei que não ia ganhar nas duas voltas finais com o problema no câmbio nas últimas 7 voltas. Eu falei ‘se der vai ser no grito’. Aí pensei comigo: ‘eu lutei tanto esses anos para chegar nisso e hoje lutei tanto’. Eu falei vai ter que dar, vai ter que dar”, contou.

Senna apontava para o céu, queria o fim da prova por conta da chuva, encerrando aquele sofrimento e garantindo a vitória e a pontuação cheia para o campeonato, mas nada feito. Senna fez penúltima volta relativamente boa mesmo assim e partiu para o giro final nas seguintes condições: Patrese tirava muito nas partes secas do circuito, mas Senna mantinha proximidade nas molhadas. Foi o suficiente para Ayrton segurar pouco menos de 3s de vantagem e garantir a primeira vitória no Brasil. Finalmente para ele para a torcida, levada ao delírio nas arquibancadas de Interlagos.

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Enquanto o público considerava, Senna berrava no cockpit e, após parar o carro para receber a bandeira do Brasil de um dos fiscais – sem praticamente esticar a mão -, o carro parava. A equipe médica chegou para avaliar Ayrton ainda no cockpit. Demorou um longo período, por conta do atendimento, para chegar na cerimônia de pódio.

“O motor parou [ao parar para receber a bandeira do fiscal], porque não dava para engatar marcha nenhuma. A minha dor era absurda. Senti alguma coisa parecida na minha segunda corrida de F1, em 84, na Toleman, eu tinha espasmo no corpo inteiro. Não que eu não esteja bem preparado fisicamente, estou, mas é que depois de um fim de semana inteiro de estresse enorme, pressão e as condições da corrida, hoje era mais do que eu podia. Só podia terminar assim, sem nada sobrando”, comemorou.

Após Estados Unidos e Brasil, Senna venceria as duas corridas seguintes: San Marino e Mônaco. Enquanto isso, a Williams desenvolvia seu projeto. Depois, o campeonato apertou, mas o brasileiro conseguiu manter a dianteira para conquistar o tricampeonato mundial. Senna, claro, voltaria a vencer no Brasil em 1993.

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