Opinião GP: FIA merece vaias e joga fora credibilidade ao dispensar critérios

Quando a FIA chama mais atenção do que os competidores em um fim de semana de GP é porque alguma coisa não saiu como o esperado. E há algo muito errado mesmo com a entidade que rege o esporte. E o fato de a corrida em Monza ter terminado inexplicavelmente atrás do safety-car é quase uma figuração dentro de um cenário há tempos equivocado

É MUITO SINTOMÁTICO que o fim de semana da Fórmula 1 na Itália tenha acabado sob protestos e diante de uma sonora vaia vinda das arquibancadas de um circuito lotado em Monza. E não, aquele barulho não era endereçado a Max Verstappen, vencedor e que só merece os aplausos pela brilhante temporada que faz em 2022. O ruído que a transmissão de TV tentou mascarar tinha como alvo a direção de prova. A FIA (Federação Internacional de Automobilismo), ao fim e ao cabo. E a insatisfação é legitima e piora quando se percebe que esse episódio é apenas uma pontinha de um iceberg gigante que teima em se colocar à frente e que joga contra a credibilidade que tanto se preza.

O fato é que o comando da entidade mudou, assim como, no caso específico da F1, os diretores de prova, mas tudo parece rigorosamente igual. A tal revisão de operação e a clareza de critérios ainda permanecem ocultas em alguma sala do órgão, e o que se viu nos últimos três dias comprova uma vez mais que demitir Michael Masi de nada adiantou. Não era ele o problema. Nunca foi.

A bem da verdade é que o australiano cometeu diversos erros ao longo da condução da intensa temporada passada, mas é absolutamente justo dizer que jamais teve o respaldo que precisava para gerenciar uma disputa como aquela. A FIA reconheceu os equívocos, inclusive, se comprometeu a expandir as discussões, mas preferiu somente tampar o sol com a peneira e promover um revezamento caótico entre dois diretores que sequer seguem qualquer critério.

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É facilmente possível listar decisões controveras do ano, mas algumas delas requerem especial atenção, porque exemplificam bem as críticas. O 2022 da FIA na Fórmula 1 foi desde uma repentina obsessão por joias de pilotos, passando por padrões de limites de pista sem sentido até a adoção de parâmetros e regras de anos anteriores que não estão mais em vigência, sem contar punições tardias e confusas. Isso sem mencionar a aberração que foi correr na Arábia Saudita, depois que um míssil atingiu uma refinaria a poucos quilômetros da pista. O problema é estrutural, pois.

Aí se chega ao fim de semana da Itália, talvez um dos mais emblemáticos neste sentido – muito embora o que aconteceu em Jedá ainda ocupe um posto de destaque. No entanto, do ponto de vista técnico, o capítulo italiano do campeonato deveria ser estudado. Quer dizer, quando uma equipe ou o piloto termina a classificação sem saber em que posição vai largar, porque não há uma clareza quanto à maneira como será feita a formação do grid, diante de punições, alguma coisa está errada. E foi exatamente isso que aconteceu em Monza.

Por causa de diversas punições por trocas de componentes do motor e caixa de câmbio, muita gente perdeu colocações ou foi jogada direto para o fundo do grid. Só que não há um padrão que estabeleça a ordem das punições, por exemplo. A FIA já usou critérios diferentes ao longo dos últimos anos, por isso não havia uma certeza. Então, a transmissão feita pelo streaming da F1 – bem como jornalistas do mundo todo – tentou explicar ao público como seria a formação do grid, mas, no fim das contas, a entidade usou seus próprios métodos.

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“Alguém aí sabe de onde vamos largar amanhã?”, disse a Red Bull aí nas redes sociais.

Mas como desgraça pouca é bobagem, houve um episódio ainda mais chocante: aconteceu na Fórmula 2. A direção de prova da categoria de acesso, submetida à FIA, culpou uma falha administrativa por um equívoco na aplicação de uma sanção. Ao invés de uma punição padrão de 10 segundos, Jüri Vips tomou um ‘stop-and-go’ pelo tempo estipulado após fazer Liam Lawson rodar. A entidade errou na hora de atribuir sanção ao piloto da Hitech – depois pediu desculpas…

Para finalizar, ainda houve o fim da corrida da F1. Foi de fato um anticlímax ver a prova terminar sob a liderança de um inexplicável safety-car, chamado após o abandono de Daniel Ricciardo, que se deu a oito voltas do fim. Isso porque houve tempo para que o diretor tomasse uma decisão. Até mesmo o momento de lançar o carro de segurança à pista foi lento e fora de posição. Mais tarde, quando ficou claro que seria mais difícil do que o esperado retirar o McLaren, os responsáveis escolheram o caminho mais fácil – ainda que exista no regulamento um precedente que fala sobre tentar encerrar as corridas sob bandeira verde. Nada parece ter sido colocado em discussão, no entanto.

“A FIA precisa de mais experiência, mas precisa também fazer um trabalho melhor porque a Fórmula 1 merece”, disse Mattia Binotto. E ele tem razão.

O que houve em Monza foi um desprezo pelo esporte – e também pelo entretenimento, ironicamente aquilo que agora parece pautar todas as decisões. E não se pode defender credibilidade quando se insiste em errar.

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