Opinião GP: Verstappen é bálsamo em meio a uma das piores temporadas da história da F1

A excelência de Max Verstappen e da Red Bull não merecia uma temporada tão medíocre quanto essa de 2023. O conjunto taurino é o que há de melhor no esporte a motor no mundo e os feitos arrebatadores já são história, mas a Fórmula 1 terá de entregar mais em 2024, ao menos para condizer com a qualidade do tricampeão que tem no grid

A SORTE DA FÓRMULA 1 é que a temporada que se encerrou neste domingo (26) será mais lembrada pela excelência técnica e o domínio de Max Verstappen e da Red Bull do que pela extrema inabilidade das rivais, as más decisões dos comissários de prova ou daqueles que comandam a maior categoria do esporte a motor. A verdade é que o tricampeão salvou o Mundial ao elevar o sarrafo e jamais esmorecer. Nem mesmo quando os títulos já estavam decididos, Max tirou o pé ou deixou de ser melhor. A essência do esporte, pois, foi devidamente preservada por esse rapaz que tende a se tornar um dos maiores de todos os tempos. O problema só é que 2023 foi um dos piores anos em muito tempo.

Inicialmente, porém, é importante destacar o 2023 de Verstappen e da equipe austríaca — que foi supremo. O dono do carro do #1 concluiu o campeonato em Abu Dhabi com mais uma assombrosa vitória. Largando da pole, soube anular o ataque inicial de Charles Leclerc e, dali em diante, ninguém mais o incomodou. Na linha de chegada, a distância para o segundo colocado foi de 17s — curiosamente, oito meses atrás, na primeira etapa, o neerlandês recebeu a bandeirada com quase 12s de vantagem para o mesmo Sergio Pérez, que completou a dobradinha da Red Bull. Ou seja, ele esteve sempre no controle e mereceu cada um dos inúmeros recordes que bateu.

Ao longo do ano, Verstappen teve pouquíssimos erros e jamais deu chance a quem quer que seja. Mesmo quando Pérez ensaiou uma disputa, Max neutralizou o companheiro de equipe e caminhou firme rumo à terceira taça consecutiva. Tudo bem que houve corridas em que Aston Martin, Ferrari, Mercedes e McLaren tentaram se aproximar ou ameaçar. Apenas uma única vez os taurinos foram derrotados: a escuderia italiana surpreendeu com uma vitória em Singapura. Mas ficou nisso.

A Red Bull venceu 21 das 22 etapas deste ano. Destas, Max levou 19, partindo 12 vezes da pole-position e liderando mais 1.000 voltas. Foram 575 pontos somados, quase o dobro do vice-campeão Pérez. Portanto, 2023 testemunhou o maior domínio de uma equipe e um piloto na história da Fórmula 1. E isso diz muito sobre esse fenomenal Verstappen. E é justo que essa performance seja para sempre lembrada, porque é disso que o esporte é feito.

“Max foi simplesmente excepcional. A forma como administrou o carro, a estratégia, os pneus. Suas habilidades são verdadeiramente excepcionais”, reconheceu o chefe da Red Bull, Christian Horner. “Vencer 21 corridas de 22 é uma loucura, assim como Max, que liderou mais de 1.000 voltas. Batemos o recorde da McLaren de 1988, batemos o recorde de Seb (Vettel) de 2013, bem como todas as porcentagens de vitórias. Este carro certamente ficará na história por um período considerável como o de maior sucesso na história da Fórmula 1.”

O dirigente austríaco tem razão.

A questão em tudo isso é que essa temporada tão competente e brilhante do conjunto taurino não condiz com o ano medíocre do restante da Fórmula 1. Quer dizer, Red Bull e Max mereciam adversários melhores, uma direção de prova mais assertiva e até mesmo um comando mais focado no esporte — inclusive, algumas ações da chefia do Mundial foram alvos de duras críticas por parte de Verstappen. O holandês se mostrou uma voz dissonante sobre os excessos em Las Vegas, por exemplo, e apontou problemas também em decisões envolvendo regras e punições.

De toda a forma, também é preciso dizer que, tecnicamente, o grid que começou o campeonato no Bahrein se mostrou fraco e pouco competitivo no segundo ano do regulamento que tem o efeito-solo o ponto central. É certo dizer que a Aston Martin surpreendeu e viveu, de fato, um início muito interessante, mas acabou perdendo fôlego ao longo do caminho, embora tenha em suas garagens um dos mais geniais pilotos da F1. Só que nem Fernando Alonso é capaz de manter o desenvolvimento em um time que ainda engatinha neste aspecto.

Já a McLaren, que encerrou o ano muito mais forte, também demorou a engrenar — chamou a atenção a declaração dada ainda no lançamento de que o carro teria atualizações já na etapa de abertura. O fato é que o time de Woking levou nove corridas para dar um primeiro passo competitivo.

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Pódio do GP de Abu Dhabi (Foto: AFP)

Enquanto isso, a Ferrari também precisou de tempo para se encontrar. Sob nova direção, com Frédéric Vasseur à frente, a transição não foi fácil, e a equipe se viu em apuros em diversos momentos, falhando em atualizações, em execução e estratégia, além de erros dos dois pilotos. Maranello só cresceu mesmo na segunda metade do campeonato e tem a vitória como grande momento. Mas o copo termina meio vazio, assim como a Mercedes.

A grande rival da Red Bull talvez seja o time que mais vexame passou nesses dois últimos anos. Ao insistir em um projeto fracassado, a esquadra alemã se perdeu. Em 2023, precisou transformar um carro problemático ao longo da temporada, mas nada deu certo. Ainda fechou o ano com o vice-campeonato, mas o sabor é amargo.

Então, diante dessa extrema oscilação de oponentes que deveriam ser fortes, o campeonato perdeu um pouco de sua razão de ser. As corridas se mostraram enfadonhas e previsíveis. E isso tudo ainda é somado a uma direção de prova inconsistente e desastrosa — tudo que envolveu limites de pista neste ano foi uma vergonha, sem contar os problemas de pista, como Las Vegas e Catar, além de decisões arbitrarias e sem sentido.

A Red Bull e Verstappen não parecem recuar e devem voltar ainda melhores em 2024, cabe agora à Fórmula 1 olha para si e promover mudanças. São quase 100 dias para isso. Ou vai correr o risco de passar a ser lembrada mais pela incompetência do que por excelência e competitividade.

Fórmula 1 tem mais uma obrigação a cumprir em 2023: os testes de pós-temporada, marcados para a mesma pista de Abu Dhabi, no dia 28 de novembro. Depois disso, pensa no ano que vem. A temporada 2024 está marcada para começar no fim de semana de 2 de março, com o GP do Bahrein.

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