Retrospectiva 2019: Vettel tem liderança ameaçada na Ferrari e acusa golpe

Sebastian Vettel falhou na busca por redenção depois da derrota sofrida em 2018. A temporada deste ano conseguiu ser ainda pior e chegou a gerar rumores de aposentadoria. Isso porque os erros continuaram assombrando o tetracampeão, que, além de se ver longe da briga pelo título, ainda precisou lidar com um companheiro de equipe atrevido, extremamente rápido e que ganhou a atenção ferrarista

“Posso e tenho de ser melhor em 2020“. A frase é de Sebastian Vettel e resume bem a estranha temporada que viveu neste ano. Depois de atravessar um 2018 errático e desastroso, o alemão queria a redenção, precisava dela, pois havia entrado em um ciclo de equívocos do qual não conseguia se livrar. A Ferrari até deu uma ponta de esperança quando colocou na pista de Barcelona, poucas semanas antes do início do campeonato, um carro que parecia consistente e muito veloz. Mas Seb também começava o ano com um novo – bem novo – companheiro de equipe, que ganhou rapidamente os holofotes. E o cenário, que parecia ainda ameno em fevereiro, mudou drasticamente da Espanha para a Austrália e nunca mais foi o mesmo. Os erros ainda estavam lá, com o incômodo extra da presença de Charles Leclerc. Em última análise, Vettel sentiu o golpe e nem a única vitória na temporada foi capaz de apagar o mal-estar. Até rumores de aposentadoria surgiram no meio da jornada.
 
2019, portanto, jamais vai ganhar um cantinho de destaque para o tetracampeão. Primeiro, porque em nenhum momento da temporada esteve na briga pelo título. E pior: encerrou a disputa com 173 pontos a menos que o hexa Lewis Hamilton. A discreta quinta posição no Mundial ainda empata com a fraca campanha de 2014, quando também foi apenas o top-5 com a Red Bull. Como se não bastasse, o ferrarista ficou atrás de Max Verstappen e do colega de Ferrari, Leclerc. Uma derrota doída, sem dúvida.
Sebastian Vettel sequer disputou a taça em 2019 (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)
O que desperta a ira dos críticos é a maneira como Vettel decaiu, sem jamais lembrar as performances durante os tempos de Red Bull e até meados de 2018 com os italianos. E não é como se a Ferrari tivesse feito um carro terrível neste ano. A SF90, é certo dizer, precisou ser melhor compreendida, mas isso não isenta o #5 de seus pecados e nem a própria equipe, que, por muitas vezes, ajudou a empurrar seus pilotos para o limbo, com estratégias erradas, ordens de equipes inadequadas e decisões sem fundamento. 
 
A questão, no entanto, é que o alemão tinha mais a perder, como aconteceu no Bahrein, por exemplo. Depois da corrida em Melbourne, em que a Ferrari o protegeu freando as investidas de Leclerc, Sebastian se deparou com um companheiro bem mais aguerrido na noite do deserto. O monegasco cravou uma bela pole e só não faturou a corrida por uma falha de motor. Vettel poderia ter herdado esse triunfo, uma vez que os carros vermelhos estavam velocíssimos, mas acabou sucumbindo com uma rodada boba, assim que Hamilton apertou a briga. A cena se repetiria meses mais tarde, no Canadá. 
 
Em Montreal, depois de viver uma sequência de etapas em que até foi a pódio, mas marcadas por erros da Ferrari, Seb se via forte de novo, largava da pole e vinha segurando o inglês, quando atravessou uma chicane. Ao voltar à pista, acabou espremendo o rival. Os comissários o culparam pelo incidente e lhe tiraram a vitória.
 
Ainda que a punição possa ser discutível e que a cena do ferrarista mudando as placas de 1º e 2º tenha sido eternizada, o fato é que Vettel errou sob pressão, e isso não foi esquecido. No retorno da F1 à Europa, o piloto teve atuações mais discretas na França e na Áustria – corrida que Leclerc poderia ter vencido também. Mas voltou a errar feio na Inglaterra, quando encheu a traseira do carro de Max Verstappen, arruinando a corrida do holandês
Sebastian Vettel (Foto: AFP)
Enquanto isso, Charles ganhava apoio com performances mais vistosas, como o embate que protagonizou contra Verstappen em Silverstone. Aí veio o GP da Alemanha e, com ele, um sopro de esperança. Isso porque Seb voltava ao ponto onde tudo degringolou no ano passado. A chuva e o caos poderiam ter tido um efeito desastroso, mas o piloto da casa soube controlar os nervos para chegar a uma importante segunda colocação.
 
Na Hungria, uma semana depois, a equipe italiana teve a pior atuação da primeira parte de temporada, com Seb chegando mais de 1min atrás da Mercedes. Mas eis que a pausa das férias traz uma nova Ferrari, rápida e eficiente, mas, mesmo assim, Vettel sofre e vê o jovem colega vencer em Spa e em Monza. Na Itália, especialmente, o 4 vezes campeão do mundo não aguentou a pressão e rodou, atrapalhando a vida de quem vinha atrás. O papelão foi tão grande que levou à célebre frase do narrador: “A cabeça do Vettel está um pastel”. Poucas vezes se viu uma definição tão precisa.  
 
De fato, os críticos não o pouparam, principalmente por conta da vitória maiúscula de Leclerc, segurando as duas Mercedes com frieza e maestria. Era necessária uma resposta, e ela veio em um palco inesperado. Ao contrário do que se esperava, a Ferrari surpreendeu ao se colocar na briga no país asiático e, em uma certeira tática de pit-stop, Seb venceu, mas o monegasco se sentiu traído e não poupou esforços para deixar clara sua insatisfação
 
Começava aí, de fato, o embate entre os dois, que culminaria com o choque em Interlagos. Antes disso, porém, uma estapafúrdia estratégia da Ferrari na Rússia acabou colocando mais fogo no parquinho de Maranello. Largando da pole, Leclerc aceitou dar o vácuo a Vettel como forma de segurar Hamilton, mas o alemão se pôs mais veloz e se recusou a devolver a posição, em um contra-ataque interessante, depois que o piloto de Mônaco se recusou a fazer o jogo de vácuo em Monza, para ficar com a pole. Charles não deixou barato e esbravejou no rádio.
Sebastian Vettel e Charles Leclerc se chocam em Interlagos (Foto: Reprodução)
O Brasil escancarou de vez a relação desgastada dos dois pilotos. Uma disputa de posição já no fim da corrida virou um toque, que virou uma batida e um abandono duplo. As feições fechadas após o incidente apenas refletiam aquilo que todos sabiam há tempos: dificilmente a relação entre ambos vai voltar a ser o que era.
 
Obviamente, o caso também ganhou as manchetes. A dupla foi novamente chamada pela cúpula ferrarista, mas o estrago já estava feito. E a Ferrari já se vê obrigada a lidar com mais firmeza a impetuosidade de Charles e a frustração de Vettel. 
 
Acontece também que a corda arrebentou do lado do tetracampeão, que terminou o ano com uma atuação apagadíssima em Abu Dhabi, sob boatos de aposentadoria, enquanto Leclerc, pelas duas vitórias e sete poles, acabou bem à frente do colega e com mais crédito.
 
É claro que a Ferrari agora revê as posições de seus pilotos e parece certo de que Seb perdeu mesmo o posto de líder, na medida em que a equipe já fala abertamente em novos contratos e pensa em Hamilton. 
 
Ainda que esteja em rota de colisão com Leclerc e em meio a diversos erros, alguns infantis, é bom dizer que Vettel também teve seus momentos, como no Canadá, na vitória em Singapura, na parte inicial da corrida russa, além da pole no Japão, o que quer dizer que o piloto ainda está vivo, mas será o suficiente? 
 

Paddockast # 45
OS MELHORES E OS PIORES PILOTOS DA F1 2019

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