Saída de Ricciardo é correta. Mas McLaren tem razão: foi surpresa não ter dado certo

A McLaren enfim se pronunciou sobre o futuro de Daniel Ricciardo. Como já era especulado há semanas, o australiano vai deixar a equipe antes do fim de seu contrato – o acordo terminaria apenas em 2023. O desempenho aquém acabou sendo decisivo. E isso foi uma grande surpresa

Era inevitável. Depois de meses de boataria e de uma confirmação indireta que partiu do compatriota Oscar Piastri, Daniel Ricciardo está fora da McLaren e não vai cumprir o acordo de três anos que assinou com os ingleses. A performance problemática, a relação custo-benefício e uma adaptação que nunca veio acabaram por encerrar um vínculo que no papel tinha tudo para dar certo, mas que na prática foi um desastre.

A parceria entre o australiano e a marca britânica poderia ter acontecido antes até. Ao optar por deixar a Red Bull em 2018, Daniel chegou a conversar com os ingleses, que ainda viviam sob a turbulenta associação Fernando Alonso-Honda, mas acabou decidindo pela segurança da Renault – também era difícil dizer não a um time de fábrica sendo que a esquadra de Woking atravessava seu pior momento na história recente da F1. Por isso, o piloto #3 foi defender as cores francesas, onde ficou por dois anos até que a tradicional equipe inglesa estivesse pronta para recebê-lo. Assim foi. Ricciardo assinou com a McLaren em 2020 e se deparou com uma organização reestruturada e firme no propósito de retomar o caminho das vitórias.

De fato, pareceu um passo acertado. Sob a batuta de Andreas Seidl, a McLaren cresceu, trouxe nomes importantes para o departamento de design e desenvolvimento, assinou com a poderosa Mercedes, enquanto fortalecia os demais setores. A jovem dupla, então formada por Carlos Sainz e Lando Norris, recolocou a equipe em um patamar de maior competitividade. O espanhol, sobretudo, azeitou a garagem inglesa e deixou um caminho aberto quando decidiu alçar voos mais altos com a Ferrari. Portanto, a chegada de Ricciardo fazia todo o sentido. As vitórias com a Red Bull e a reputação que construiu por lá credenciavam o alto investimento feito por Zak Brown. E ainda tinha um enorme potencial de marketing e de redes sociais com o conhecido sorriso e carisma.

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Na pista, entretanto, esse cenário caiu por terra. Ricciardo enfrentou problemas com o carro em 2021, lutou para tentar igualar o desempenho de Norris e levou muito tempo para se acomodar em Woking. O único momento em que pareceu que essa história poderia mudar foi mesmo no GP da Itália daquele ano. Só que aquela vitória serviu para mascarar as falhas e ainda colocou em perspectiva o rendimento na comparação com Lando. É importante dizer aqui que a performance em Monza foi genuína. O carro laranja esteve veloz durante todo aquele fim de semana, e o australiano foi capaz de reencarnar o desempenho de outrora. Mas mesmo assim foi um ponto fora da curva. Ao fim do campeonato, Ricciardo se viu derrotado: a diferença para o companheiro foi de 45 pontos – mesmo com o inglês vivendo uma segunda parte de temporada desconexa e pouco brilhante, especialmente diante do que fez na fase inicial.  

Nesta temporada, em que tudo foi novo para ambos os pilotos, por causa da mudança no regulamento, o abismo entre a dupla se tornou mais profundo. Enquanto Lando já figurou no pódio e sustenta a sétima posição, com 76 pontos – atrás apenas dos pilotos das três principais equipes –, o piloto de 33 anos esteve na zona de pontuação em apenas quatro GPs: Austrália (melhor atuação no ano, em que largou em sétimo e terminou em sexto), Azerbaijão (8º), Áustria (9º) e França (9º). Também pontuou na corrida sprint da Emília-Romanha. São apenas 19 tentos. A classificação tem sido um ponto fraco desde o início, mas o ritmo de corrida também caiu assombrosamente ao longo do campeonato.

E mesmo em um ano em que a McLaren tem um carro em evolução, a conclusão é clara: foi pouco. Em que pese as novas regras e o projeto britânico, é a folha de tempos que conta. É o gelo dos números que vai definir o dinheiro do prêmio no fim, a posição na tabela e o poder de barganha. E hoje, a McLaren perde em tudo porque parece ter somente um piloto. Não havia como continuar. É um fato.

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Então, a saída de Ricciardo não chega a surpreender e é correta. As especulações sobre o fim antecipado do contrato já rondavam o paddock há meses, diante da performance do australiano. E ganharam força também por conta da insistente vocação da McLaren em assinar vínculos com uma infinidade de gente – Piastri deve ser anunciado em breve para o lugar de Daniel, inclusive. Só que, lamentavelmente, Ricciardo acabou na contramão disso tudo. E as palavras de Zak resumem bem a passagem do homem de Perth pela McLaren, embora não consigam explicar a razão. “Acho justo dizer que estamos todos surpresos que não tenha apresentado resultados e performances semelhantes a Monza”, afirmou Brown.

“Claramente, Daniel tem um currículo fantástico. Ele chegou aqui como sete vezes vencedor e nos deixa como oito vezes ganhador na F1, com nove corridas pela frente, então quem sabe o que pode acontecer até o final deste ano. Espero que ele encontre sua forma em um novo ambiente”, completou o dirigente.

Quando Brown e Seidl se disseram surpresos com a forma como a parceria desandou, eles têm razão. É quase inexplicável. Como um piloto com o potencial e o currículo de Daniel não deu certo em uma estrutura como a da McLaren? Talvez o motivo esteja mesmo nos pequenos detalhes e de ambos os lados. “É claro que foi uma surpresa para nós também. Se você olhar para os resultados dele no passado, esperávamos que fosse mais fácil se adaptar conosco”, disse o chefe alemão, sem se eximir de culpa pelo fracasso.

“Tanto o time quanto Daniel tentaram por muito tempo fazer o relacionamento funcionar, mas infelizmente não conseguimos”, lamentou Seidl. “No final, foi tomada a decisão de que queríamos mudar alguma coisa. Esse definitivamente não é o resultado que esperávamos. E como chefe de equipe, também compartilho a responsabilidade por isso.”

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