Vettel dá adeus à Interlagos do tri e merece o calor que público vai oferecer

Sebastian Vettel vai terminar a história que começou uma década e meia atrás, quando conheceu Interlagos. Foi lá que viveu o maior júbilo da carreira

É difícil imaginar como homenagear Sebastian Vettel em cada passo da turnê de despedida que empreende desde que anunciou a aposentadoria para o fim da temporada 2022. Mas Interlagos, no GP de São Paulo do próximo fim de semana, permite que o público brasileiro dê o seu adeus. Em retorno, que Vettel encontre uma última vez o salão de sua valsa mais improvável da carreira.

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O ano era 2012. Vettel chegava àquela decisão da Fórmula 1, no Brasil, como o bicampeão mundial vigente. A vitória em Interlagos manteve a chama do título aberta dois anos antes, em 2010, quando o Brasil realizava a penúltima corrida do ano. Naquela oportunidade, Sebastian pulou do quarto para o terceiro lugar e foi para a decisão com chances de furar Mark Webber e Fernando Alonso, o que fez. Em 2011, ganhou com facilidade. O tri, porém, era mais suado.

Alonso era novamente o rival. De Ferrari, Fernando queria chegar ao tri antes de Vettel e fazia um campeonato sublime. É verdade que Alonso chegava à decisão com 13 pontos de desvantagem para o alemão, mas era fato notório que a Ferrari tinha um carro inferior ao da Red Bull. O nível de pilotagem era assombroso para os dois lados, mas o próprio Fernando já qualificou 2012 como “a melhor temporada da carreira”.

A vantagem de Vettel era considerável. Se terminasse na quarta colocação, seria campeão qualquer que fosse a posição de Alonso. Se Alonso fosse segundo, podia ser sétimo; ao passo que, se Fernando ficasse na terceira colocação, Seb seria campeão chegando até em nono. Qualquer outra posição para Alonso, significaria, automaticamente, a conquista de Vettel.

Mas longe dos dois quem brilhou na classificação foi a McLaren. Lewis Hamilton e Jenson Button trancaram a primeira fila, enquanto a Red Bull fez a segunda: Webber na frente de Vettel. Alonso largaria somente em oitavo, atrás ainda do companheiro Felipe Massa e da dupla Pastor Maldonado e Nico Hülkenberg, respectivamente de Williams e Force India. Michael Schumacher, que fazia a última corrida da carreira, era o 14º.

A ultrapassagem decisiva de 2012 foi de Vettel em Schumacher (Foto Red Bull Content Pool)

Acontece que a largada foi simplesmente desastrosa para Vettel. A partida foi ruim, com disputa de espaço com Webber, com quem tinha relação cada vez pior. Além de perder posições, ainda dividiu a curva quatro com Bruno Senna, então piloto da Williams, rodou e viu uma aleta do lado esquerdo do carro ficar danificado. Tragédia. Por sorte, ficou na corrida, mas era o 22º colocado. Teria de remar tudo de volta enquanto Alonso via o caminho aberto para recuperar posições para si e se colocar em condições de ser campeão. Ainda recebia a ajuda de Massa para fazer ultrapassagens, como aconteceu contra Webber.

Mas as bruxas de Interlagos haviam de atuar, e a chuva apareceu. Correria aos boxes para colocar pneus intermediários e, em seguida, com a chuva parando, para devolver os pneus slicks. Entre o momento das paradas e a velocidade na pista, chegou a aparecer entre os primeiros, em quinto, logo atrás de Alonso. Só que a chuva voltou. Na pista, ultrapassou Narain Karthikeyan, Charles Pic, Pedro de la Rosa, Jean-Éric Vergne, Timo Glock, Heiki Kovalainen, Michael Schumacher, Vitaly Petrov, Kimi Räikkönen, Webber, Daniel Ricciardo, Nico Rosberg, Paul de Resta e Kamui Kobayashi.

Eis que nas voltas seguintes, escalou tudo de novo. Vettel se aproximava das primeiras colocações, mas não se fixava, enquanto Alonso se aproximava. Um lance foi fundamental: na 54ª das 71 voltas da corrida, Hamilton e Hülkenberg se acharam enquanto brigavam pela vitória. Nico perdeu tempo, mas Hamilton abandonou. Alonso assumia o segundo lugar e, àquela altura, conquistava o título.

Vettel estava em décimo e resolveu parar na 55ª volta. Era uma corrida de muitas paradas, e lá foi ele para o que se esperava ser a última. Desta feita, a equipe e ele não conseguiram conversar: resultado foi que a Red Bull não estava pronta para o pit-stop. Mais demora e perda de posições. Terrível. Voltou em 12º.

A oficialização do abandono de Hamilton garantiu a primeira posição ganha. Depois disso, ultrapassou Ricciardo, Kobayashi, Vergne e Di Resta. Tudo isso em três voltas, mas ainda faltava um. E era Schumacher.

Sebastian Vettel deixa a F1 no fim de 2022 (Foto: Kitamura/AFP)

Na 64ª de 71 voltas, Michael ficou para trás. Era o necessário, e Vettel se consagrava tricampeão mundial.

É verdade que em tanto tempo de F1, Sebastian esteve em corridas insanas. Mas em nenhuma delas tinha tanto a perder num momento tão definitivo como naquele dia 25 de novembro, em Interlagos, no Brasil. Na valsa mais dramática, bailou. Venceu. Foram três vitórias e cinco pódios em Interlagos ao longo dos anos. Outras seis vezes, terminou no top-6. Sempre se entendeu com o lugar.

Agora, no momento da despedida, vai receber o calor de um público sempre ansioso por oferecer calor. No aeroporto, no hotel e na pista. Sebastian terá o nome gritado, bandeiras com seu rosto flamuladas e capacetes e camisas em sua homenagem desfilados. Seria legal se a organização rendesse algum tipo de homenagem de verdade, não aquela salva de palmas protocolar, mas uma placa, um ‘Obrigado, Seb’ estampado numa área de escape, qualquer coisa, mas isso está além do que dá para pedir no que diz respeito a glorificar uma linda história.

Que a torcida brasileira ofereça a Vettel uma última valsa cheia de calor, daquelas únicas tradicionais ocasiões de sociedade onde namorados podiam se aproximar séculos atrás. O calor humano é o maior presente para coroar legados.

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