As embananadas da McLaren na Fórmula 1 2024

Vem corrida, vai corrida, e a McLaren sempre arruma um jeito de perder na Fórmula 1 2024 tendo há tempos o melhor carro nas mãos, tanto que chega a ser impressionante ela ainda estar em segundo no Mundial de Construtores, ainda que a vantagem agora seja de míseros oito pontos para a Red Bull. A verdade é que a quantidade de vacilos num curto espaço de tempo deixam dúvidas inevitáveis se, de fato, teremos ao final do ano o nono título da tradicional equipe inglesa.

A McLaren começou a dar sinais de força para valer na Emília-Romanha, sétima etapa da temporada. Na ocasião, Lando Norris vinha de uma vitória circunstancial em Miami por conta da confusão com a entrada do safety-car, mas o desgaste acentuado de pneus de Max Verstappen abriu oportunidade real ao time de Woking, com um MCL38 muito mais equilibrado. Faltou volta para a manobra ser efetuada, mas serviu para acender um claro alerta em terras austríacas de que o reinado estava perto do fim.

Acontece que, de lá para cá, a McLaren abusou do direito de perder pontos, e o que mais chama atenção é como a equipe fica completamente perdida quando a vitória parece simples. O 10+ desta semana listou algumas situações do GP do Canadá em diante que explicam por que a Red Bull, mesmo após uma queda abrupta de performance, ainda resiste na liderança dos dois campeonatos.

GP do Canadá

Demora para calçar Norris com slicks

A corrida em Montreal foi uma das melhores — e mais malucas — da temporada até o momento, tudo por conta da chuva, que sempre proporciona o salseiro que todos amam. Mas foi no Canadá que a McLaren começou a mostrar para valer a inversão na ordem de forças na ponta da tabela. E foi também ali que os papaias iniciaram a contagem de pontos perdidos.

O vacilo da vez foi com Norris no momento em que a pista começou a secar para valer, exigindo a troca para os pneus slicks. A Red Bull não perdeu tempo em dar o chamado a Max na volta 46, porém Lando, então na liderança, ainda ficou por mais duas voltas, dando tempo suficiente para o #1 atingir a temperatura da borracha e passá-lo pouco após a saída do pit-lane.

GP da Espanha

A primeira pole desperdiçada na temporada

No convencional circuito de Barcelona, Norris desbancou Verstappen por míseros 0s020 e alinhou na primeira posição pela segunda vez na carreira. Mas de nada valeu o esforço, pois ele não apenas foi ultrapassado pelo tricampeão, como ambos foram surpreendidos por um George Russell que saltou de quarto para primeiro já na curva 1. Como resultado, Max venceu novamente, enquanto Norris teve de se contentar com o segundo lugar.

GP da Áustria

O acidente que (quase) abalou a amizade

Até então, Verstappen ainda resistia bravamente, dando a impressão de que seria apenas questão de tempo até a confirmação dos dois campeonatos. No de Construtores, todavia, a ameaça foi ficando cada vez mais concreta, uma vez que Sergio Pérez vinha de quatro corridas seguidas sem largar no top-10. Oscar Piastri, no entanto, também não conseguia corresponder o bastante para fazer a McLaren pontuar de forma consistente com ambos os carros.

Ainda assim, Norris viu nova chance de vitória se abrir diante de mais uma queda de rendimento do RB20 de Verstappen. E aqui vale interpretação, se o #4 foi afobado ou não, mas fato é que a tentativa falha de ultrapassagem quando almejava a liderança acabou em abandono, enquanto Max resistiu e ainda cruzou a linha de chegada em quinto, com punição de 10s e tudo.

GP da Inglaterra

As chamadas erradas de boxes

Mais uma vez, a McLaren partiu para a corrida com o aparente controle de tudo nas mãos. A etapa em Silverstone também trouxe um bocado de caos por conta da chuva, porém os carros laranjas saltaram para a ponta com 20 voltas completadas, deixando os Mercedes, que largaram na primeira fila, para trás.

Só que de nada adianta ter um carro rápido se a operação de corrida é falha, e o primeiro a sofrer foi Piastri. A equipe demorou para chamar o australiano e o jogou para trás, tirando-o do pódio.

Na mesma corrida, Lando também demorou a fazer a troca dos intermediários para os slicks. Para completar, ainda foi uma parada lenta, e como Lewis Hamilton já havia efetuado a troca, foi um undercut natural. No fim, Norris até teve mais rendimento, novamente em função do ótimo carro, mas não dava mais tempo de tentar recuperar a liderança na pista.

GP da Hungria

O arrependimento pela saia-justa no undercut

Nem o mais completo domínio foi suficiente para evitar um constrangimento poucas vezes visto na Fórmula 1. Talvez só a patacoada de Áustria 2002 foi mais vergonhosa. Para variar, Norris, na pole, perdeu a ponta para Piastri, em segundo, na primeira curva e ainda tomou de Verstappen, mas o neerlandês teve de devolver posição por sair da pista e ganhar vantagem.

Até aí, tudo bem, só que a McLaren resolveu chamar Norris primeiro para os boxes, deixando Piastri na pista por mais tempo. Quando o australiano enfim parou, os lugares se inverteram, ou seja: ela deu um undercut no próprio piloto que estava na liderança. Daí em diante, teve praticamente de apelar para Lando desfazer a lambança e devolver a vitória a Piastri. Os rádios trocados nas voltas finais são memoráveis.

GP da Bélgica

(Nova) má largada de Norris e undercut de Verstappen

A classificação da McLaren não foi das melhores em Spa-Francorchamps, com Norris e Piastri largando em quarto e quinto, respectivamente, porém era a corrida para capitalizar muitos pontos, já que Verstappen partiria somente da 11ª colocação por conta da troca de motor. Mas largada e Norris parecem ser como água e óleo: dessa vez, rodas na brita que o fizeram despencar posições e se ver em briga por posição justamente contra Max! Para completar, tomou undercut da Red Bull e chegou em quinto, atrás do neerlandês.

GP dos Países Baixos

Erro de Piastri na classificação que custou primeira fila

O retorno das férias foi muito esperado, pois era a hora de ver se, de fato, a McLaren havia tomado o posto da Red Bull como carro a ser batido. E desde os treinos livres, o que se viu foi a promessa de um completo domínio do time de Woking, enquanto Verstappen teria de ser mágico para manter a hegemonia em casa.

Sem dificuldades, Norris fez uma pole absurda, colocando 0s3 sobre Verstappen. Era, portanto, mais que obrigação Piastri ser o segundo, mas ele fez um segundo trecho de volta muito ruim no Q3 e ainda terminou a classificação atrás de Charles Leclerc.

Largada pífia de Norris

Veio, então, a corrida, a largada. Ora, perder posição para Verstappen já era até previsível, pois o neerlandês é um dos melhores largadores do grid. O choque foi ver que a liderança de Max veio muito antes da freada da curva 1. Norris nem sequer teve tempo de reagir, apenas respirar fundo e se acomodar em segundo até recuperar a liderança na superioridade do equipamento.

Piastri esquecido na pista

Se Norris conseguiu se salvar na força do MCL38, a McLaren ajudou a acabar de vez com a corrida de Piastri. O australiano sofria para escapar de Leclerc, que só não efetuou ultrapassagem antes do pit-stop pela falta de velocidade de reta da SF-24. A Ferrari, então, lançou mão da tática mais manjada da F1 ao tirar o monegasco do ar sujo e deixá-lo com pista livre para acelerar.

O pit-stop de Leclerc, o único da corrida, foi na volta 24. A McLaren só trouxe o #81 para a troca obrigatória nove giros depois — talvez superestimando a própria performance, só que Charles resistiu e levou a Ferrari a um pódio até então improvável, com Verstappen em segundo.

GP da Itália

Papaya rules

A disputa ficou mais acirrada em Monza, é verdade, mas a McLaren ainda ostentava o favoritismo por ter um carro versátil o bastante para ter bom rendimento em qualquer tipo de pista. Uma corrida, portanto, para marcar de uma vez por todas uma dobradinha convincente e encostar na Red Bull.

A primeira fila veio, e Norris enfim contornou a curva 1 na liderança, mas Piastri deu o bote na segunda chicane e assumiu a ponta. Leclerc foi no embalo e jogou o britânico para terceiro, e a ação do monegasco foi determinante para o funcionamento da tática de uma parada da Ferrari, ainda que tenha dado bronca pelo rádio por conta do pit-stop precoce.

A McLaren acabou pega no contrapé, mas faltou arriscar, já que o GP da Itália é tradicionalmente para uma parada. E faltou também se colocar como um time que briga pelos dois campeonatos ao citar a ‘regra papaia’ que libera a briga entre Norris e Piastri. No fim das contas, a Red Bull foi quem saiu no lucro — e certamente rindo nos bastidores do “espírito esportivo”, como citou Helmut Marko.

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