27 anos após Schwantz x Rainey, Suzuki e Yamaha reeditam rivalidade na MotoGP

Com Fabio Quartararo e Joan Mir no topo da tabela de classificação, as fábricas japonesas aparecem como protagonistas em uma temporada de KTM crescente, Ducati oscilante e Honda sumida

A temporada 2020 da MotoGP caminha para a nona das 14 etapas com a disputa pelo título plenamente aberta, mas com dois pilotos figurando no rol dos favoritos ― ainda que temporariamente: Fabio Quartararo lidera a classificação com 108 pontos, apenas oito a mais que Joan Mir. É o primeiro confronto pelo título entre Yamaha e Suzuki desde 1993, quando Kevin Schwantz e Wayne Rainey brigaram pela coroa das 500cc.

A MotoGP 2020 leva a marca da imprevisibilidade. Por conta da pandemia do novo coronavírus, a temporada começou apenas em meados de julho e com um calendário completamente desconfigurado. Saíram de cena praças tradicionais como Assen e Mugello, mas também ficaram de fora as etapas asiáticas e das Américas. E, como se nada disso fosse o bastante, o dominante Marc Márquez foi colocado para escanteio ainda na primeira etapa, quando uma queda em Jerez de la Fronteira deixou o piloto da Honda com um braço quebrado.

Mas apesar do posto de soberano estar vago, os demais não se estapearam pelo cetro e o manto como era de se esperar. Em uma temporada rotulada como aquela em que ninguém quer vencer, a disputa segue aberta. Com 150 pontos ainda em disputa, 23 pilotos seguem com chances matemáticas de título, já que estão separados por só 108 pontos. Isso, claro, é irreal. Mas os 11 primeiros na tabela estão cobertos por 50 pontos. O top-4, por apenas 24.

Joan Mir Fabio QUartararo MotoGP 2020 GP da Catalunha
Mir está a oito pontos de Quartararo (Foto: SRT)

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Único a vencer mais de uma corrida neste ano, Quartararo ostenta a etiqueta de favorito desde o início do ano, já que venceu as duas corridas realizadas em Jerez. Após começar o campeonato com 50 pontos, porém, o francês de Nice escorregou em quatro corridas seguidas, computando apenas 20. Na Emília-Romanha, Fabio começou a voltar para os trilhos, mas a reação mais firme veio apenas na Catalunha, com mais um triunfo.

Também no segundo ano na MotoGP, Mir teve um início de ano um tanto mais discreto, com só 11 pontos nas três primeiras corridas. A partir do GP da Áustria, contudo, Joan imprimiu a marca da regularidade, somando em média 17,8 pontos.

Assim, Quartararo e Mir chegam para o GP da França separados por apenas oito pontos, mas com o piloto da Suzuki ainda rejeitando a alcunha de favorito. Afinal, entende que primeiro precisa vencer corridas para depois sonhar com o título da classe rainha do Mundial de Motovelocidade.

MotoGP 2020: uma temporada condicionada pelos pneus

Embora pareça, a ausência de Marc Márquez não é a condicionante mais determinante para a ordem de forças da MotoGP em 2020. Como bem apontou o jornalista Mat Oxley, na publicação inglesa Motor Sport Magazine, a mudança realizada pela Michelin nos calçados traseiros para este ano casou melhor com as motos que utilizam motores na configuração de quatro cilindros em linha, como acontece justamente com a Yamaha YZR-M1 e a Suzuki GSX-RR. Antes, o calçado traseiro era uma mão na roda para os V4 de Honda e Ducati, por exemplo.

O jornalista exemplifica que nos oito GPs disputados até aqui, três foram dominados por Yamaha e Suzuki, o que representa 24% do total. Com a construção anterior, os motores de quatro cilindros em linha monopolizaram apenas três dos 73 pódios realizados entre 2016 e 2019 ― período vigente da construção anterior de pneus ―, um aproveitamento de só 4%.

Vice-campeão nos últimos três anos, Andrea Dovizioso tem criticado abertamente os novos pneus, já que vê nesse quesito a principal dificuldade da Ducati.

“No esporte a motor, temos todos de nos adaptar ao que temos. O fato é que este pneu está criando um campeonato muito estranho, está mudando tudo e isso é um fato. Isso se aplica a todo mundo, mas temos de nos adaptar e não é nada fácil”, disse o italiano em meados do mês passado.

Melhor entre os pilotos da Honda na ausência de Marc Márquez, Takaaki Nakagami apoiou a posição de Andrea e explicou que o calçado exige uma mudança na maneira de guiar.

“Este pneu é um pouco estranho, então, você precisa mudar seu estilo de pilotagem. Mesmo com o motor de 2019, o pneu de 2020 é um pouco delicado, especialmente na freada, na entrada de curva e na primeira parte da curva”, apontou o piloto da LCR.

Desde o início do ano, aliás, os pilotos apontavam que Yamaha e Suzuki sairiam favorecidas da mudança de pneus.

“Provavelmente, eles estão ajudando Suzuki e Yamaha um pouco. Parece que o equilíbrio da moto muda e isso afeta os parâmetros da eletrônica. Ele certamente tem mais aderência na traseira, mas isso muda tudo na moto”, apontou Marc ao concluir a primeira sessão de testes da pré-temporada.

MotoGP do passado: Schwantz X Rainey, um clássico com toque trágico

A história da temporada 1993 das 500cc é tanto memorável quanto trágica. Além de ser o ano da única conquista de Kevin Schwantz, a temporada marcou também o adeus de Wayne Rainey, já que um acidente em Misano encerrou a carreira do tricampeão.

Kevin Schwantz foi campeão com a Suzuki em 1993 (Foto: Divulgação)

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Naquele ano, Kevin começou o campeonato forte e chegou à metade da disputa, na Holanda, com 28 pontos de frente para Wayne. Três provas depois, o piloto da Yamaha tinha derrubado a diferença para só três pontos e ainda aproveitou uma lesão de Schwantz para tomar a ponta na Tchéquia e abrir 11 de frente.

Em 5 de setembro, porém, Rainey teve a carreira encerrada aos 32 anos após queda na volta 10. O norte-americano perdeu a traseira da YZR500 na curva 1 de Misano e caiu, sofrendo um forte impacto na coluna. O acidente deixou o piloto paralisado do peito para baixo.

Mesmo sem vencer nas três corridas restantes ― foi terceiro no GP da Itália, quarto no GP dos Estados Unidos e terceiro no GP da FIM ―, Schwantz chegou aos 248 pontos e assegurou a taça com 34 pontos de vantagem para Rainey.

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