Morbidelli dá tom em Brno, mas desgaste de pneus deixa MotoGP aberta na Tchéquia

Ao contrário do que aconteceu em Jerez de la Frontera, desta vez é Franco Morbidelli quem carrega a bandeira da Yamaha SRT em Brno. O ítalo-brasileiro mostrou bom ritmo ao longo do fim de semana e, mesmo superado na classificação, é um dos candidatos à vitória na terceira etapa da temporada 2020 da MotoGP

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Depois do forno de Jerez, se enganou quem achou que Brno daria uma trégua para a MotoGP. País de clima temperado-continental, a Tchéquia apresentou temperaturas mais amenas do que na etapa andaluz, mas o clima deste sábado (8) colocou um obstáculo a mais no já desgastado asfalto tcheco: a temperatura da pista chegou aos 49°C.

Assim como no primeiro dia de testes, os pilotos deixaram clara a preocupação com o desgaste dos pneus: quem melhor cuidar da borracha terá maiores chances de levar um troféu tcheco na bagagem.

Assim como já vinha acontecendo, na ausência de Marc Márquez é a Yamaha quem tem tocado a festa, mas, diferente do roteiro estrelado desde o GP da Malásia do ano passado, não foi Fabio Quartararo quem ficou com a pole. Desta vez, foi Johann Zarco quem fez as pazes com a ponta da primeira fila, onde não aparecia desde 2018, quando ainda corria com a Yamaha da Tech3.

Johann Zarco saiu mais do que feliz com a pole inesperada (Foto: Red Bull Content Pool)

Com 1min55s687, o piloto da Avintia colocou a única Ducati defasada do grid na pole-position, 0s303 melhor que Quartararo. 0s008 mais lento que o companheiro de equipe, Franco Morbidelli fecha a linha inicial.

Apesar de ter brilhado neste sábado, Zarco não tem lá grandes pretensões para domingo. O francês sabe que não tem um ritmo de corrida dos mais impressionantes e nem se atreve a sonhar com o pódio.

“O ritmo de corrida é melhor do que nas corridas anteriores, mas acho que ainda não é para vencer”, avaliou Zarco. “Além disso, as condições de amanhã serão diferentes. Com esta pole de hoje, posso ter uma vantagem no início da corrida. Preciso esperar e ver amanhã, mas ficar o maior tempo possível na briga pelo pódio pode ser uma opção. Mas até mesmo um forte top-5”, seguiu.

“Como eu disse, do ponto em que estou agora na minha linha de aprendizado ao top-5, é um enorme resultado. As coisas estão voltando, mas eu preciso aceitar o passo a passo”, declarou o francês, que mostrou impaciência no ano passado, quando abandonou o contrato de fábrica com a KTM por conta da insatisfação com a performance da RC16. “Hoje foi um passo maior do que o que tínhamos planejado, então aceitamos. É sempre uma coisa positiva. Mas amanhã, talvez no início da corrida, começando com os caras top, seja uma grande ajuda para ser rápido. Aí o pneu vai desgastar e veremos como lidar com isso”, completou.

Segundo no grid, Quartararo teve uma queda nos instantes finais da classificação. Uma consequência do estado ruim de um asfalto que viu o último recapeamento em 2008.

“Não sabemos se estamos rodando em uma pista de velocidade ou de motocross, então suponho que atingi uma ondulação forçando ao limite. Nesta pista, quando você falha na primeira volta do pneu, já sabe que não vai melhorar”, contou Fabio. “O asfalto está cada vez pior, mas no passado já acontecia a mesma coisa. Na segunda volta, você é três décimos mais lento. Eu tentei até o último momento, mas cometi um erro e caí. Mas o mais importante é largar na primeira fila”, comentou.

Ao contrário do que aconteceu no GP da Andaluzia, Quartararo não parte como favorito neste fim de semana. Afinal, ele mesmo vê Morbidelli como um rival mais forte no circuito Masaryk.

Fabio Quartararo não é o dono do melhor ritmo (Foto: SRT)

“Acho que temos desvantagem em relação aos outros pilotos da Yamaha. Nossa potência não é muito boa. As Ducati, quando levantam, dão motor na reta e podem fazer um tempo melhor”, ponderou. “Demos um passo à frente no TL4. Não sabemos exatamente onde estamos, mas acho que melhoramos muito no último treino livre”, observou.

“Em relação aos rivais mais fortes, vejo meu companheiro de equipe. Durante todo o fim de semana, ele mostrou que está para vencer”, opinou. “O ritmo de Johann eu não vi e não posso dizer, mas vi que Joan Mir tem um ritmo muito bom, assim como Cal [Crutchlow]. Mas acho que Franco está muito rápido nesta pista e mostrou isso em todo o fim de semana”, frisou.

Ao longo dos treinos, Morbidelli foi quem mais rodou em ritmo de corrida. O ítalo-brasileiro já tinha fechado a sexta-feira como destaque e repetiu a dose neste sábado, mesmo com uma queda no quarto treino do dia.

“Foi um fim de semana positivo até aqui: tivemos um bom ritmo ontem e hoje também. Tive uma pequena queda, mas consegui voltar ao ritmo e recuperar minhas sensações rapidamente”, relatou. “Consegui fazer um bom tempo de volta e amanhã vou começar na primeira fila, o que é muito importante para mim”, continuou.

Apesar do bom ritmo, Franco sabe que o desgaste dos pneus vai desempenhar um papel em Brno e, por isso, quer traçar uma estratégia apenas após a primeira volta.

“Teremos de ver onde estamos depois da primeira volta para entender que tipo de corrida teremos e o que precisamos fazer”, apontou. “Nosso time está muito forte no momento e temos muitas pessoas trabalhando duro para isso. Isso ajuda para que tenhamos a melhor situação para fazermos nosso trabalho, como pilotos, e tenho de agradecê-los muito por isso. O trabalho que estamos fazendo também reflete o trabalho que eles colocam na moto”, elogiou.

Em grande fase, a Yamaha viu Maverick Viñales garantir a quinta colocação no grid. O #12, porém, errou a mão na estratégia da classificação e também não apresentou um ritmo bom o bastante para aparecer como desafiante à vitória. Ao menos até agora.

“Acho que salvamos o dia com a classificação, pois nós não fomos rápidos, especialmente no TL4 com o calor. Mas, na classificação, eu imediatamente me senti realmente bem e no ritmo”, falou o ‘Top Gun’. “A estratégia era fazer duas saídas, mas, quando voltei da segunda, me senti fantástico. Nós melhoramos o tempo de volta, então decidi manter aquela moto, mas era tarde demais. Foi erro meu. O time fez um bom trabalho, pois eles me deram uma boa oportunidade de melhorar e entender muitas coisas na moto, então estou curioso para ver o que podemos fazer e tenho uma mentalidade positiva”, seguiu.

Franco Morbidelli se mostrou forte em todo o fim de semana (Foto: SRT)

“A corrida será muito longa e vai ser desgastante para os pneus. Vamos tentar ir para a frente o mais cedo que pudermos. O positivo é que a primeira curva é bem longe, então acho que posso ganhar algumas posições na largada”, avaliou.

Vindo de um pódio na Andaluzia, Valentino Rossi mostrou ritmo para brigar pelo top-3 em Brno, mas a classificação não saiu bem como o esperado. O aumento do calor acabou dificultando, e o #46 vai sair apenas em décimo.

“Hoje foi um dia de sensações mistas. De manhã, eu fui muito rápido, me senti bem com a moto e com os pneus. O TL3 foi um treino muito bom, mas, infelizmente, a temperatura subiu muito de tarde e o asfalto estava 10°C mais quente do que ontem. Nós sofremos com isso”, explicou Rossi. “Queríamos continuar com o dianteiro médio, mas estava quente demais no final e eu também tive dificuldade na classificação”, relatou.

“Infelizmente, vou ter de começar na décima colocação. É uma notícia ruim para a corrida de amanhã, pois todo mundo é forte e começar tão atrás vai ser muito duro”, admitiu. “Mas o meu ritmo é bom, então tenho de largar bem, tentar fazer uma boa corrida e recuperar posições”, resumiu.

Depois de duas etapas decepcionantes, Aleix Espargaró chegou em Brno de olho em “metas mais realistas”, mas acabou sendo um dos destaques de sábado. Rodando no vácuo de Quartararo, o catalão colocou a Aprilia na quinta colocação do grid, apenas 0s387 mais lento que Zarco.

“Além da posição, estou feliz com a sensação com a moto. Nós mudamos bastante o acerto e voltei a ter as mesmas boas sensações que tive no início da temporada”, contou o irmão de Pol. “Sendo honesto, não esperava, já que aqui em Brno nós sempre tivemos muitas dificuldades. Largar da segunda fila certamente vai ajudar, mas estou especialmente satisfeito com nosso ritmo de corrida e o passo à frente que demos. Agora precisamos confirmar nosso potencial na corrida. Isso será uma verdadeira prova do nosso crescimento”, reforçou.

“Espero uma corrida muito difícil para todos. O desgaste dos pneus será chave, especialmente em meados da corrida”, sublinhou.

Além das Yamaha e de Aleix, Pol Espargaró também mostrou ter um bom ritmo de prova. A KTM mostrou evolução com a RC16 nesta temporada e também se apoia em um teste recente feito por Dani Pedrosa na pista da Tchéquia.

Nesta tarde, Pol chegou a marcar o terceiro tempo, mas acabou tendo a volta anulada por ter desrespeitado uma bandeira amarela. O irmão de Aleix, porém, não gostou nada da atuação dos fiscais de pista.

Valentino Rossi tem ritmo, mas vai sair atrás (Foto: Yamaha)

“Uma boa manhã e um bom terceiro treino para ir ao Q2, que era o objetivo. Eu me senti muito bem com a moto e senti que poderia ser mais rápido. Estava confiante e estava acelerando com o segundo pneu”, contou. “A bandeira amarela estava no meio das curvas, impossível de ver da minha posição na moto. Estou frustrado, mas mostramos nosso potencial. O top-6 e segunda fila é sempre bom, mas a volta ter sido tirada foi difícil. Vamos recomeçar para amanhã e estamos em boa posição para a corrida”, opinou.

Titular da satélite Tech3, Miguel Oliveira também apareceu com um bom ritmo neste sábado. O português, porém, acabou barrado no Q1 e vai largar só em 13, mas se mostrou otimista por um bom resultado, especialmente após ser derrubado por Brad Binder na primeira volta do GP anterior.

“No geral, foi um dia positivo. Começamos com muita esperança. Caí na minha primeira volta rápida, que poderia ter sido um bom tempo para ficar dentro do top-10. Sabíamos que passar pelo Q1 seria difícil. De qualquer forma, dei tudo de mim, mas não foi o bastante, foi muito apertado”, comentou. “Mas estou muito positivo e confiante para a corrida de amanhã. Sinto como se fosse ser muito diferente. Estamos em uma boa posição, trabalhamos bem, então devemos relaxar e focar para amanhã”, concluiu.

Quem andou na contramão no sábado foi Andrea Dovizioso. O #4 foi um tanto apagadinho na tarde deste sábado e acabou com sua pior posição de largada na MotoGP: um 18º lugar. O ritmo de corrida, todavia, é na linha dos ponteiros, o que aumenta a chance de o piloto da Ducati engatar uma prova de recuperação.

“Foi um dia estranho. Honestamente, não sei o que aconteceu na classificação, então teremos de estudar bem os dados para descobrir qual foi o problema”, disse Andrea. “Claro, seria importante sair das primeiras posições, nosso ritmo é semelhante ao dos nossos melhores pilotos, mas na corrida, o consumo do pneu traseiro vai testar todos. Agora faremos nosso melhor para estarmos prontos para amanhã”, avisou.

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