Tribunal Arbitral do Esporte adia para meados de novembro decisão do caso Iannone

Os árbitros da corte de Lausanne, na Suíça, ouviram as legações das partes envolvidas na quinta-feira (15), mas vão levar até meados de novembro para definir a punição do piloto da Aprilia, que está suspenso por doping

O futuro de Andrea Iannone segue em suspenso. O Tribunal Arbitral do Esporte anunciou nesta quinta-feira (16) que só vai tomar uma decisão sobre o caso em meados de novembro.

O julgamento de quinta-feira (15) abordou dois casos: Iannone X FIM, onde o piloto contestou a suspensão de 18 meses; e WADA X FIM e Iannone, onde a ação da Agência Mundial Antidoping pede um gancho maior. Os dois foram consolidados e julgados simultaneamente pela corte de Lausanne.

Andrea Iannone visitou o paddock da MotoGP no GP da Emília-Romanha (Foto: Reprodução)

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“A audiência na Corte Arbitraria do Esporte [CAS] dos procedimentos de recurso pedido pelo piloto italiano de MotoGP Andrea Iannone e a WADA aconteceu no dia 15 de outubro de 2020”, disse o Tribunal em nota à imprensa. “O painel agora vai deliberar e finalizar para tomar a decisão. É esperada que a sentença seja anunciada no meio de novembro de 2020. A sentença final vai ser liberada no site da CAS”, seguiu.

“Os procedimentos são sobre a decisão tomada pela FIM [Federação Internacional de Motociclismo] na Corte Disciplinar Internacional no dia 31 de março de 2020, onde Andrea Iannone foi declarado culpado por violar a regra antidoping e uma suspensão de 18 meses foi imposta a ele”, recordou. “Andrea Iannone espera ter a decisão anulada, onde a WADA requere que a decisão seja substituída por uma nova com suspensão de quatro anos do piloto”, completou.

Iannone foi flagrado em exame antidoping no GP da Malásia do ano passado

A carreira de Iannone saiu dos trilhos em meados de dezembro passado, quando a FIM anunciou uma suspensão provisória após um teste positivo para uma “substância não especificada nos termos da seção 1.1.a) esteroides androgênicos anabólicos exógenos (AAS)” em um exame feito em novembro em Sepang. Andrea pediu a análise da amostra B, mas a contraprova apenas confirmou o doping.

A entidade máxima do esporte nunca deu detalhes do caso, mas o advogado de Iannone revelou que a substância encontrada no exame de urina é a drostanolona, um esteroide anabolizante injetável derivado do DHT. A drostanolona é muito comum em fisiculturismo, já que é eficaz no crescimento muscular.

A substância, aliás, é a mesma encontrada em Anderson Silva, lutador do UFC, num exame feito em 2015. A droga, descoberta em 1950, pode causar impotência, infertilidade e acne, além de aumentar o risco de câncer de próstata, de problemas cardíacos e de trombose.

Desde o início, Iannone se diz inocente. A defesa alega que a droga entrou no sistema do piloto por conta do consumo de carne animal durante os dias em que passou na Ásia, entre os GPs da Tailândia e da Malásia. Além de Iannone, outros oito pilotos foram testados em Sepang ― Romano Fenati, Ai Ogura, Marcos Ramírez, Remy Gardner, Joe Roberts, Xavi Vierge, Jorge Lorenzo e Marc Márquez ―, todos com resultado negativo.

A drostanolona é uma substância que consta na lista da WADA como “proibida o tempo todo”, o que significa dentro e fora de competição. O artigo 4.2.2 do Código Mundial Antidoping determina que “todas as substâncias proibidas devem ser consideradas como ‘substância especificada’, exceto as substâncias nas classes S1, S2, S4.4, S4.5, S6.A, e métodos proibidos M1, M2 e M3”. A drostanolona faz parte da classe S1, de agentes anabólicos.

As penas por doping dependem da substância, da forma de contaminação e do grau de culpa do atleta. A sentença máxima, de quatro anos, é aplicada se, em se tratando de uma substância especificada, a FIM comprovar que o uso foi intencional. Caso os árbitros considerem que Andrea não tem uma parcela de culpa significativa ou que não foi negligente, a suspensão pode chegar a dois anos.

O Código Antidoping da FIM explica, no Artigo 2.1.1, que “é um dever pessoal de cada piloto garantir que nenhuma substância proibida entre em seu corpo”.

“Os pilotos são responsáveis por qualquer substância proibida ou seus metabólitos ou marcadores encontrados em suas amostras. Consequentemente, não é necessária a intenção, falha, negligência ou uso consciente para que seja demonstrada uma violação do código antidoping”.

Um dos casos mais recentes de doping no motociclismo aconteceu com Anthony West, que foi afastado do motociclismo por dois anos, apesar de ter levado ao CDI uma testemunha que alega ter colocado cocaína na bebida do australiano sem o conhecimento dele. O piloto, por sinal, teve a pena aumentada por disputado o SuperBike Brasil durante o período de inelegibilidade.

O julgamento da FIM e o gancho de 18 meses

No dia 4 de fevereiro, Andrea foi julgado pela Corte Disciplinar Internacional da FIM, que, após adiar o anúncio da sentença por alguns dias, mantendo a suspensão provisória, confirmou apenas em 1 de abril uma punição de 18 meses, uma pena mais branda do que os quatro anos originalmente solicitados pela acusação.

Na época, apesar de a entidade suíça não ter divulgado detalhes do caso ― consequência do direito de apelação de Iannone ―, o advogado do piloto afirmou que a FIM reconheceu que não houve doping voluntário e aceitou o argumento de contaminação alimentar.

Antonio De Rensis, porém, foi bastante critico em relação ao trabalho da CDI. De acordo com o defensor, a acusação se opôs ao teste de fim de cabelo apresentado e mostrou fotos de Andrea de cueca para alegar “propósito estético” no doping. O advogado considerou que o piloto da Aprilia não estava tendo um julgamento justo.

Hipótese de contaminação alimentar é frágil

Especialista ouvida pelo GRANDE PREMIUM aponta fragilidades na alegação de que a contaminação se deu por conta de uma carne ingerida por Iannone durante a estadia na Ásia. Afinal, o anabolizante deveria ser metabolizado pelo animal antes do abate.

De acordo com a professora Helenice de Souza Spinosa, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, os anabolizantes têm uso limitado na veterinária.

“Se o bovino recebeu um anabolizante para aumentar sua massa muscular e, com isso, aumentar o valor da sua carcaça após o abate, há necessidade de se aguardar certo tempo após a administração do anabolizante para que ele possa agir no organismo animal ― meses ― e seja observado o efeito. Isto é, aumento da massa muscular”, explicou a veterinária ao GP*. “Esse espaço de tempo faz com que gradativamente o anabolizante seja eliminado do organismo do animal e, no momento do abate, não seja encontrado seu resíduo na carne”, seguiu.

Coordenador do Centro de Medicina do Exercício e do Esporte do Hospital 9 de Julho, Dr. Páblius Braga, porém, acredita que a contaminação alimentar é possível.

“É uma alegação de defesa muito comum. Se a quantidade detectada na urina for muito pequena, é possível que esse fato tenha ocorrido”, apontou Braga ao GRANDE PREMIUM.

Espera e futuro da Aprilia

Até agora, a Aprilia se manteve firme no propósito de esperar por Iannone. Contratado para formar dupla com Aleix Espargaró, Andrea permaneceu sendo a aposta da casa de Noale, que optou por substituí-lo por Bradley Smith nas provas de 2020. O piloto de testes, contudo, sempre foi encarado como um substituto provisório.

A marca italiana, todavia, estabeleceu um limite nesse espera: 2020. Diretor-executivo da Aprilia, Massimo Rivola admitiu que não poderia continuar esperando Andrea indefinidamente, ainda mais tendo opções como Andrea Dovizioso e Cal Crutchlow no mercado.

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