A escolha dos ferraristas pelo espanhol Sainz ainda gera alguma dúvida, especialmente por conta da tradicional política de Maranello no tratamento de seus pilotos. Neste momento, parece muito claro que Charles Leclerc ocupa o posto de líder do time vermelho e que Carlos terá papel um pouco diferente daquele que exerce com os ingleses. Pelos lados de Woking, a decisão por Ricciardo é entendida como acertada, uma vez que a McLaren atrai um piloto completo e pronto para comandar a equipe. O mesmo pode-se dizer de Daniel, que ingressa em um time em crescimento ordenado. Mas há outras razões que provam que essa união tem tudo o que é preciso para dar certo.
Daniel Ricciardo rejeitou a McLaren em 2018, mas agora a vê como um time mais promissor do que a Renault (Foto: Renault)
O namoro entre McLaren e Ricciardo não é de hoje. Na verdade, o australiano rejeitou a primeira oferta feita pelos ingleses em 2018, quando decidira que era o momento de deixar a Red Bull. É bem verdade que o time britânico não vivia seu melhor momento e ainda esperneava para entender a parceria com a Renault. À época, o projeto não convenceu Daniel, que preferiu apostar as fichas na equipe de fábrica da montadora francesa, além de levar uma boa grana.
Acontece que a Renault foi insuficiente, e agora Daniel já não tem tanto tempo para esperar os gauleses decidirem o que querem da F1. Sob este prisma, a McLaren ganhou muitos pontos porque sabe exatamente o que deseja e em quanto tempo isso precisa acontecer. Ou seja, um dos principais motivos para tornar essa parceria correta é o fato de que a equipe britânica possui um projeto técnico dos mais promissores.
Como é de conhecimento público, a equipe chefiada por Andreas Seidl
assinou um contrato longo para correr com motores Mercedes já a partir de 2021. É a reedição de uma das associações mais vitoriosas da história. E neste momento, a fábrica prateada possui uma unidade de potência comprovadamente competitiva e de alta confiabilidade – algo que foi a grande falha da Renault na última temporada. Ainda que haja um novo regulamento vindo por aí, é improvável que a marca da estrela de três pontas vá perder desempenho.
Além da volta da Mercedes, a McLaren também conta com o trabalho refinado de James Key no setor de aerodinâmica e a gerência precisa do próprio Seidl. Quer dizer, o time inglês tem um planejamento sério e de longo prazo na Fórmula 1. Então, se Ricciardo tem pressa em voltar para o pelotão da frente, o conjunto McLaren-Mercedes é o melhor que há dentre as alternativas que sobram no grid.
Andreas Seidl é um dos grandes pilares da reestruturação bem-sucedida da McLaren nos últimos anos (Foto: Reprodução)
Outra razão importante para que essa parceria dê certo é a própria personalidade de Ricciardo. Descontraído e carismático, o australiano é um dos pilotos mais populares do Mundial, e isso casa bem com o que a McLaren vem fazendo nas redes sociais e em ações com Lando Norris, outro cara que conversa bem com jovens fãs e já conquistou a F1. Quer dizer, por si só, essa tem tudo para ser a dupla mais 'carisma' do paddock. Os outros que lutem.
Falando no jovem Norris, Daniel também vai, inevitavelmente, se tornar uma referência na equipe e também para o piloto do carro #4. Com sete vitórias no currículo e muitas delas conquistadas em condições imprevisíveis, aproveitando todas as chances, Ricciardo vai emprestar uma valiosa experiência à McLaren, tornando mais palpável a aproximação com o top-3 do grid. Isso porque Daniel também é dono de uma tocada consistente em corrida, é rápido em classificação e sabe tirar tudo de um bom carro, erra pouco e tem o dom da ultrapassagem. A receita está praticamente pronta.
Por fim, também não há como negar que Ricciardo é um dos principais pilotos do grid. E é exatamente o que a McLaren precisava. Ainda que a dupla Sainz-Norris tenha se mostrado forte, ter alguém como Daniel na equipe manda um recado diferente aos rivais: deixa claro o objetivo não é só manter a performance apresentada em 2019, mas aperfeiçoá-la.
E uma razão bônus é a ligação que a McLaren tem com a Indy. O diretor-executivo Zak Brown tem um carinho grande pelo projeto nos EUA e a ideia de uma eventual troca de lugares lhe agrada muito. Talvez o desafio seduza Ricciardo também. Quem ganha é o torcedor, a Indy e até a F1.