Com reação épica, Vettel se reencontra justo onde começou a se perder

A mesma Hockenheim que viu o início da derrocada de Sebastian Vettel, ainda no ano passado, foi palco de uma das maiores corridas do tetracampeão neste último domingo. De último para segundo lugar, Vettel se reencontra com as boas atuações e volta a sorrir depois de um inferno astral que parecia não ter fim

Nada como um dia após o outro. Tal frase soa como clichê até repetitivo, mas sempre cabe para situações aqui e ali na vida como um todo e no esporte em particular. Na tarde do último sábado, Sebastian Vettel viveu mais um capítulo de um inferno astral que parecia interminável, mas que começou lá mesmo, em Hockenheim, em 22 de julho do ano passado. Só que pouco mais de 24 horas depois de sequer conseguir sair para fazer sua volta no Q1 e ter decretada a última posição do grid de largada do GP da Alemanha, o tetracampeão fez uma exibição digna da sua história na F1 e ressurgiu.
 
Gigante, Seb se esquivou dos erros no asfalto úmido e na traiçoeira curva 16 para voltar a sorrir. O segundo lugar talvez valha tanto ou até mais do que uma vitória porque representa o reencontro de Vettel consigo mesmo, o reencontro com um bom resultado e com uma boa performance na F1. O Sebastian Vettel dos velhos tempos estava lá, no pódio, diante de uma torcida apaixonada que tanto anseia por vê-lo novamente viver seus melhores dias no esporte.
Sebastian Vettel revive seus melhores dias com reação épica em Hockenheim (Foto: Ferrari)

Desde quando Seb encontrou a barreira de proteção no momento em que liderava o chuvoso GP da Alemanha do ano passado, parece que o mundo desabou sobre si de uma forma tão brutal que o piloto não foi capaz de reagir desde então. É possível lembrar um grande momento neste período, que foi a vitória no GP da Bélgica há quase um ano. Só que o triunfo em Spa-Francorchamps se perdeu em meio a uma série de erros protagonizados pelo tetracampeão.

 
Veio 2019 e, com os testes de pré-temporada, o florescer da esperança dos tifosi. Com novo chefão — Mattia Binotto no lugar de Maurizio Arrivabene —, um carro aparentemente bem-nascido e a bela performance no inverno em Barcelona, parecia que a má fase de Vettel e o jejum de títulos da Ferrari estariam com os dias contados.
 
Mas na hora em que a briga foi pra valer, ali na pista, a Mercedes mostrou uma superioridade até um tanto surpreendente que parece ter desconcertado a Ferrari. Mesmo sendo a dona do maior orçamento da F1 e dotada de grandes profissionais, a equipe se perdeu desde o GP da Austrália em meio a equivocadas ordens de equipe e estratégias que se mostraram um verdadeiro desastre. Vettel, que carrega toda a pressão para ser o homem capaz de levar a Ferrari de volta aos títulos, foi quem mais sentiu a pressão, ainda mais depois de ver o recém-chegado Charles Leclerc esbanjando confiança crescente e boas atuações.
22 de julho de 2018: começava ali o inferno astral de Vettel na F1 (Foto: Twitter)

Vettel, é bom lembrar, só terminou à frente de Leclerc em Melbourne por desejo da Ferrari. Mas no Bahrein, o jovem monegasco foi irresistível, conquistou a pole-position e partiu para uma vitória que se desenhava como certa até que o motor o deixou na mão. Na esteira do revés de Charles, Vettel até poderia ter tirado proveito e levado o triunfo, mas sucumbiu frente a mais um erro na disputa com Lewis Hamilton, que subiu no topo do pódio em Sakhir.

 
Mesmo com algumas atuações razoáveis aqui e ali, Vettel era um piloto opaco. Aquele sorriso jovial que caracterizou sua campanha arrebatadora na esteira de quatro títulos mundiais consecutivos pela Red Bull, entre 2010 e 2013, já há tempos não estava lá. O Sebastian Vettel de 2019 era um piloto sisudo, chateado por não conseguir emplacar. Quando a hora de voltar a brilhar parecia ter chegado, veio o erro que gerou uma punição questionável no GP do Canadá. Claro que o alemão não ficou feliz, o que mostra sua reação que entrou para os anais do esporte logo depois da bandeirada no circuito Gilles Villeneuve.
 
Decepcionado com a F1 e talvez consigo mesmo, Vettel passou a ter seu futuro como alvo de questionamentos no paddock. Muitos ali se questionaram sobre a vontade do tetracampeão em continuar no esporte, mesmo com contrato em vigor com a Ferrari em 2020. Aposentadoria? O próprio piloto chegou a afirmar, em algumas vezes, que gosta da F1 e que a motivação ainda está lá.
Sebastian Vettel e a imagem da frustração após mais um problema no ano (Foto: Reprodução)

Só que a má fase continuava a pleno vapor. Vettel teve um fim de semana ruim na França e até que foi razoável na Áustria depois de ter sofrido um problema que o tirou do Q3 no treino classificatório. Em Silverstone, novo desastre com a batida durante a disputa por posição com Max Verstappen. O holandês até continuou na prova, enquanto Vettel sequer terminou nos pontos.

 
A chegada ao ponto onde tudo começou a dar errado foi emblemática. Vettel tinha tudo para lutar pela pole-position com Leclerc depois de a Ferrari ter se mostrado como a grande força após os treinos livres em Hockenheim. Veio a classificação e, com ela, uma catástrofe vermelha. Seb nem sequer completou volta rápida no Q1. Em último lugar no grid, apenas uma corrida louca poderia mudar sua sorte.
 
Com a bênção de São Pedro e dos deuses do esporte, a chuva que deu as caras domingo em Hockenheim foi determinante para promover uma das mais incríveis corridas dos últimos tempos e ajudou Vettel a se reencontrar. Nessas coincidências deliciosas que fazem o esporte ser grandioso e épico muitas vezes, Seb teve a chance de voltar a brilhar na mesma Hockenheim chuvosa que pouco mais de um ano atrás lhe tirou o sorriso.
Pouco mais de um ano depois, Sebastian Vettel volta a sorrir em Hockenheim (Foto: AFP)
O que vem aí, claro, é só o futuro que vai dizer. Futuro que nem vai levar tanto tempo assim, já que a próxima corrida da F1 é logo ali, neste fim de semana, na Hungria — onde a Ferrari costuma andar bem. E se “você é tão bom quanto sua última corrida”, diz o ditado, Seb acelera em Budapeste como um dos favoritos. Ele, a Ferrari e o mundo do esporte torcem para que o Vettel versão Hockenheim 2019 permaneça e continue brilhando por muitos anos ainda na F1.

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