Mercedes apresenta W15 para F1 2024 e prepara última temporada com Hamilton
A Mercedes busca a redenção em 2024. E decidiu revisar tudo que sabe sobre o regulamento do efeito solo na F1. O projeto “totalmente novo” tem como objetivo recolocar a equipe alemã no caminho das vitórias. Mas há um drama a ser contornado nas garagens das Flechas de Prata: essa será também a última temporada de Lewis Hamilton no time, que ainda não tem um substituto para o recordista de triunfos da Fórmula 1
A quarta-feira (14) de Cinzas amanheceu sob as cores da Mercedes. A equipe oito vezes campeã do mundo exibiu na Inglaterra o carro com que pretende voltar a brigar por vitórias e títulos. O W15 é resultado de um intenso trabalho de engenharia e aerodinâmica da fábrica em Brackley, que se prepara para o fim de uma era. Lewis Hamilton, o homem que se tornou recordista de triunfos na Fórmula 1 a bordo das Flechas de Prata, vai disputar sua derradeira temporada pela estrela de três pontas e ainda guarda a esperança de uma oitava taça no currículo. E a ideia, claro, é promover a revanche contra a rival Red Bull.
No entanto, apesar do drama que a esquadra chefiada por Toto Wolff deve enfrentar em 2024 por conta da saída de Hamilton ao fim do campeonato — o britânico vai defender a Ferrari no próximo ano em decisão que caiu como um bomba na F1 —, a Mercedes precisou voltar quase à estaca zero com o novo projeto, e isso também deve render alguma preocupação nas garagens alemãs. Enquanto as adversárias possuem uma base mais sólida de desenvolvido dentro do regulamento do efeito solo, que vai para o terceiro ano, o grupo germânico precisou recuar e recomeçar, após os erros cometidos nas duas últimas temporadas.
O lançamento da Mercedes aconteceu por meio de um vídeo pré-gravado, muito provavelmente nas primeiras horas da manhã na Inglaterra. O carro já estava a postos, sem muitas delongas, enquanto um apresentador conversou rapidamente com o chefe e diretor-executivo Toto Wolff e a dupla de pilotos, Hamilton e Russell.
A pintura é bem diferente. O bico e a parte da frente contam com o tradicional prata da Mercedes, enquanto a parte lateral e da traseira contam com o preto sem pintura, na fibra de carbono, tendência dos últimos tempos. O santantônio vermelho também continua lá.
A sensação, com o carro apresentado de longe e algumas fotos que mantiveram mistérios, foi que a Mercedes se preocupou bastante em esconder escolhas que fez no design. Especialmente na entrada de ar lateral, modificada para quase todas as equipes na temporada. O formato é único, quase que numa interrogação. De acordo com a equipe, a grande preocupação no ano esteve no ajuste do eixo traseiro, em busca de maior estabilidade do que foi um carro imprevisível nos dois últimos campeonatos. O que fica evidente é que o carro está na mesma pegada dos demais, e não mais fora da caixa como W13 e W14.
“Estou empolgado por estarmos perto de voltar a correr e, claro, curioso e empolgado para ver como será a performance do carro”, disse Wolff. “Acho que teremos uma indicação em breve para saber se resolvemos alguns dos problemas inerentes que tivemos do lado do chassi no ano passado. Temos uma montanha a escalar para chegarmos na frente do pelotão, mas estamos focados em fazer isso”, seguiu.
Questionado sobre o que seria um progresso no início da temporada, Wolff respondeu: “A Fórmula 1 é uma constante competição relativa contra outras equipes. Você pode ter um ótimo carro, mas se você está correndo em círculos sozinho, nunca saberá se é o melhor. Estávamos em uma luta dura com Ferrari e McLaren no ano passado, às vezes com a Aston Martin, e com um grande intervalo para a Red Bull e o resto. Esperaria que estivéssemos no pelotão que vai perseguir no início da temporada e, tomara, mais próximos da Red Bull”.
Ainda, o dirigente falou sobre o progresso alcançado pela Mercedes na intertemporada, mas destacou que só saberá quais metas foram alcançadas quando o carro for para a pista.
“O desenvolvimento correu bem em relação aos objetivos ambiciosos que estabelecemos. Às vezes, você fica aquém disso e, às vezes, se sai melhor do que o esperado. Mas tem muitas coisas que colocamos na lista de alta prioridade para tornar o carro mais controlável, seja para rodar ou na estabilidade. Nós só saberemos o que conseguimos quando formos para a pista”, avaliou.
Também, Wolff reconheceu que a Red Bull segue sendo a referência, já que “acertou as coisas” nos últimos anos, mas frisou que a meta segue sendo bater os rubro-taurinos.
“Por um lado, precisamos ser realistas sobre as chances de batermos um carro que está um bom bocado à frente com este regulamento e que acertou as coisas nas últimas duas temporadas enquanto nós, não. Não existem milagres no esporte. Por outro lado, a ambição é forte. A Red Bull e um carro de muito sucesso são a referência que pretendemos bater. Não sei quando isso vai acontecer, não temos bola de cristal. Mas saberemos em breve quão à frente eles estão e qual tarefa temos pela frente”.
James Allison, o diretor-técnico, contou um pouco mais do trabalho no desenvolvimento do W15. “O design de qualquer carro é um processo interativo. E longo. Vem desde o ano passado. Um novo carro permite que a equipe faça grandes alterações que não são possíveis durante o ano. Essas decisões são tomadas no verão anterior”.
“Mas a abordagem principal não muda de ano a ano: tentar lidar com as coisas que identificamos como fraquezas no carro atual. Essas fraquezas são reveladas mais fortemente quando a competição começa. Mas você tem uma ideia razoavelmente boa no início do ano sobre o que poderia ser o Calcanhar de Aquiles de um carro. A partir daí, é questão de equilibrar o trabalho entre melhorar isso e construir em cima daquilo que funcionou bem. Você olha para os recursos disponíveis em vários departamentos e faz com que foquem a atenção em resolver os problemas. Conforme o tempo passa, você começa a tirar mais e mais pessoas do carro atual e direciona os esforços delas para o próximo”, pontuou.
“Um grande foco foi a melhoria da imprevisibilidade do eixo traseiro do carro anterior, que os pilotos se referiram muitas vezes como rancoroso. Trabalhamos nisso para tentar criar um carro que seja tranquilizador para os pilotos. No início de uma curva, quando você freia forte e vira, a traseira precisa ser sólida como uma rocha. E aí, conforme contorna o ápice, precisa sentir progressivamente mais ágil e ansioso para virar. Tentamos colocar isso no carro”.
“Também trabalhamos duro para criar um carro com menos arrasto e adicionar desempenho nas curvas. Também fizemos algum trabalho doméstico em áreas em que tínhamos margem de melhora, incluindo o efeito do DRS e a performance em pit-stop. Sempre fomos bons em entregar um pit-stop em um tempo repetível, que é uma coisa chave para o pit-stop. E o tempo médio em que fizemos nossos pit-stops ainda estava de três a quatro décimos mais lento do que as melhores equipes. Então tomara que tenhamos caminhado na direção certa nisso”.
O que Hamilton garante é que os fracassos recentes ajudaram a alcançar conclusões e estradas para a temporada que chega. “Os aprendizados dos últimos dois anos nos ajudaram a encontrar nossa direção”, disse. “Isso nos permitiu encontrar um norte. Ainda será um trabalho em progresso, mas vamos encarar qualquer desafio que se apresente com a cabeça erguida, mentes abertas e muito trabalho”, destacou.
“Se você não está confortável com o carro, você não consegue extrair o máximo de performance”, pontuou. “Um carro mais estável, mais previsível, vai nos permitir extrair potencial não apenas do carro em si, mas também de nós mesmos como pilotos”, explicou.
“Sei do que esse time é capaz. Estou incrivelmente grato pelo trabalho de cada pessoa nessa equipe. Cada vez que você vai à fábrica, você consegue ver a movimentação e a determinação de todos. Estamos todos muito motivados para esse ano e vamos dar tudo o que temos nessa jornada”, finalizou.
Russell preferiu uma declaração que servisse como tapinhas no ombro da Mercedes. “Aprendemos e crescemos como equipe nas últimas duas temporadas”, avaliou. “Não navegamos em mar calmo, mas eu acredito verdadeiramente que a jornada em que estamos vai nos tornar mais fortes a longo prazo. Toda a equipe trabalhou incrivelmente duro e esperamos ter dado um passo com o W15”, seguiu.
“Fizemos progresso com algumas das piores características do W14 ao longo do ano passado. Mas ainda tínhamos uma estreita janela de operação e, uma vez que saiamos disso, o carro era difícil de guiar. Se pudermos seguir ampliando essa janela do carro, isso nos dará confiança como pilotos, e, a partir daí, os tempos de volta serão mais fáceis de achar”.
“A F1 é um esporte incrivelmente difícil. É muito difícil de vencer. E é por isso que nós amamos. Cada mulher e homem em Brackley e Brixworth estão muito focados em voltar ao topo. Seguimos com esse foco e dedicação em 2024 e estou empolgado em ver onde isso vai nos levar”.
Apesar da aposta em um conceito novo, a Mercedes tem na dupla de pilotos seu maior trunfo. Hamilton é uma referência e é o líder, ainda que esteja quase de malas prontas. A experiência do heptacampeão de 39 anos é que faz a diferença. Consistente em ritmo de corrida e veloz em volta única, Lewis é quem deve comandar o desenvolvimento do novo carro.
E claro que não se pode descartar George Russell. Agora mais escaldado e vindo de uma temporada complicada, mas cresceu no fim, o inglês tem nas mãos uma nova chance de defender seu espaço na Mercedes, provando ao time que tem condições de receber as chaves das garagens alemãs. Combativo, Russell conquistou sua única vitória na F1 até agora com o fracasso W13, e isso diz muito sobre sua qualidade. Mas terá um ano dos mais desafiadores pela frente.
O investimento no conceito de um carro mais estreito e popularmente chamado de ‘zeropod’ cobrou um preço alto. Em 2022, na estreia das regras, a equipe estava convencida de que o projeto extremo que adotara tinha muito potencial e que, cedo ou tarde, a aposta se pagaria. Foram meses de testes e de desempenho irregular — além do terrível porpoising. Em dado momento, ficou claro que a própria equipe não compreendia muito bem aquilo que havia saído das pranchetas. Mas uma luz surgiu em São Paulo, já no fim daquele campeonato. Uma vitória dominante, como nos velhos tempos, reacendeu a esperança de fazer o projeto funcionar.
Por isso, em 2023, a Mercedes novamente apostou no zeropod. Apesar da evolução em alguns pontos, o W14 logo se mostrou impraticável. E a equipe entrou em crise, porque Hamilton se queixava e chegou a revelar que os engenheiros não o ouviram quanto ao desenvolvimento. Wolff pressionou por uma atualização, enquanto pedia a cabeça de Mike Elliott, o idealizador do conceito. James Allison foi recolocado como diretor-técnico ainda no começo da temporada e conduziu o time em uma revisão completa do carro, que se tornou um Frankenstein.
De fato, a performance melhorou gradativamente, embora os problemas não tenham desaparecido completamente. O carro ainda era muito imprevisível. Ainda assim, Hamilton foi capaz de empilhar pódios e até uma pole antes da primeira parte do campeonato. Na segunda metade, a Mercedes seguiu um pouco mais consistente, mas acabou perdendo terreno para Ferrari e, especialmente, McLaren. No entanto, por conta da regularidade, principalmente de Lewis, o time foi capaz de assegurar o vice no fim das contas. Hamilton ainda fechou o ano em terceiro, atrás apenas da dupla da Red Bull.
E a explicação para os equívocos todos: a física envolvida no desenvolvimento do carro estava errada, de acordo com a Mercedes. Os dados não eram capazes de justificar a falta de performance na pista, e a equipe optou por seguir um caminho completamente diferente para a temporada de 2024.
Portanto, a Mercedes parte em busca de redenção e é praticamente a última chance antes de uma nova revolução em termos de regulamento.
A Fórmula 1 retorna às pistas de 21 a 23 de fevereiro, com os testes coletivos da pré-temporada no Bahrein, no circuito de Sakhir.
▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
▶️ Conheça o canal do GRANDE PRÊMIO na Twitch clicando aqui!