Mercedes perde referencial e precisa buscar na própria história como suprir saída de Hamilton

Ainda que agora pareça lógico, a Mercedes perde o seu maior referencial com a saída de Lewis Hamilton ao final deste ano. Mas a própria chegada do britânico à equipe alemã após a aposentadoria definitiva de Michael Schumacher é a prova de que a solução para suprir tamanha ausência mora na ousadia

No ranking histórico de vitórias na Fórmula 1, a Mercedes aparece em terceiro lugar com 125 triunfos. Um número que, proporcionalmente aos GPs realizados, só não é melhor que o do fenômeno Brawn GP, por isso é tão surpreendente ver uma equipe fundada em 2010 perdendo apenas para as ‘dinossauras’ McLaren e Ferrari, times que representam uma parcela significativa da essência da categoria. E a Mercedes sabe que só chegou em tal posto graças, claro, ao tiro certeiro na produção do motor híbrido além de um nome que passou a ser sinônimo da base em Brackley: Lewis Hamilton.

Cria da McLaren, onde conquistou o seu primeiro título na categoria, foi com a Mercedes que Hamilton se transformou, de 2013 em diante, na lenda viva que é hoje, igualando e quebrando recordes de Michael Schumacher que até então pareciam intocáveis. Da mesma forma, foi pelas mãos de Hamilton que o time comandado por Toto Wolff colocou-se no panteão da F1, e é exatamente isso que torna o rompimento tão difícil de ser encarado como realidade.

Não que houvesse grandes expectativas em torno de 2024. A Mercedes, na verdade, é muito consciente de que sua luta atual é para ao menos voltar a ser competitiva o suficiente para não depender de circunstâncias na briga por pódios e vitórias. Assim como, não tenham dúvidas, há plena convicção de que não é desejo de Hamilton ser o Fernando Alonso 2.0 da F1. E se olharmos pelo prisma de que qualquer piloto que começa no kart sonha em defender a Ferrari, por que não Lewis?

Só que do lado da Mercedes, ainda que o fim do vínculo agora pareça até lógico, é a perda de um referencial. Talvez não tanto para a equipe alemã, uma vez que achou por bem ignorar o sete vezes campeão do mundo quando ele disse que o caminho de desenvolvimento escolhido com o finado ‘zeropod’ era errado. Acontece que o poder de representatividade de Hamilton é muito maior e atingiu patamares que nenhum outro piloto conseguiu. Hamilton não é um líder na Mercedes apenas pelos títulos que possui, mas pelo crescimento pessoal que transcendeu qualquer barreira na F1.

George Russell terá a função de liderar a Mercedes sem Hamilton (Foto: Mercedes)

Vai ser difícil para a Mercedes viver o ano da transição para a próxima era da F1 sem o seu norte, porém, curiosamente, isso não é novidade por lá. Quando Schumacher aceitou o chamado de Ross Brawn e deixou a aposentadoria para ajudar a alicerçar o time alemão, também foi difícil olhar para o grid e pensar em quem poderia suprir aquela ausência ao final de 2012.

Naquela ocasião, Nico Rosberg era quem representava o futuro, tal como George Russell é visto hoje por Wolff. E se o alemão era o futuro, coube a Hamilton a parcela de ousadia de ambos os lados, e isso porque o movimento de deixar a McLaren em direção a uma equipe ainda incerta foi considerado um equívoco por muitos.

A história, claro, tratou de mostrar que todos estavam errados, exceto Hamilton, que disse sim, e a Mercedes, que foi atrás do piloto certo. Agora, a equipe vai precisar da mesma ousadia para se recuperar do baque de não ter mais o heptacampeão ali no ano que vem.

Quanto às opções, há tacadas mais seguras, como buscar um nome já consolidado no grid atual, ao menos até a chegada da nova geração de motores. E candidatos não vão faltar, a começar pelo próprio Carlos Sainz, o preterido em Maranello. Tem também Alexander Albon, Pierre Gasly, Esteban Ocon, estes talvez menores que Russell, mas que podem ser alternativas interessantes.

Andrea Kimi Antonelli é a maior aposta da Mercedes nos últimos anos (Foto: Prema)

Só que nenhum desses seria tão ousado do que promover um dos seus jovens talentos, e sim, estamos falando de Andrea Kimi Antonelli. A decisão da Mercedes em fazer o menino pular a Fórmula 3 e ir direto para o grid da F2 no ano em que a categoria terá uma nova geração de carros não foi por acaso. Em tese, é difícil imaginar que o italiano seja o campeão já no ano de estreia, por mais espetacular que tenha sido por onde passou, mas pode acontecer. Como os contratos originais de Russell e Hamilton eram até o final de 2025, a conta fechava perfeitamente.

Com a saída de Hamilton antes do tempo previsto, a Mercedes terá uma difícil decisão pela frente que certamente envolverá a sua maior aposta desde a contratação de Hamilton, lá no final de 2012. Mas se tem alguém no grid da F1 capaz de bancar tamanha ousadia, esse é Toto Wolff.

Fórmula 1 retorna às pistas de 21 a 23 de fevereiro, com os testes coletivos da pré-temporada no Bahrein, no circuito de Sakhir.

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