Não há maldição que explique: Leclerc só perdeu em Mônaco por excesso da Ferrari

Se o campeonato começou com Max Verstappen favorito e tendo de lidar com a falta de confiabilidade da Red Bull para sobreviver, agora a provação é de Charles Leclerc, que busca superar a própria Ferrari. É que o time italiano, hoje desacostumado com grandes disputas, parece incapaz de achar um meio-termo entre a inércia e o excesso. E também começa a ter quebras

Charles Leclerc faz uma temporada que beira o irretocável com a Ferrari, mas, mesmo assim, não é mais líder do Mundial de Pilotos. O monegasco, que chegou a abrir 34 pontos de frente para o resto do grid – 46 para Max Verstappen, sempre visto como principal rival -, derreteu nas últimas quatro corridas. Mas sua parcela de culpa nisso é mínima. A verdade é que a equipe italiana tem perdido a mão.

E constatar isso neste momento do campeonato é algo quase que desesperador. Uma coisa seria a Ferrari sentir a pressão na famosa ‘hora da onça beber água’, ali no terço final do ano, algo do tipo. Outra, muito diferente, é passar a comprometer as chances de seu principal piloto ainda com a temporada tão no começo. Mônaco sequer passou direito e Charles já está atrás de Verstappen.

A fotografia de momento é bastante preocupante para as pretensões de Leclerc e da Ferrari na F1 2022. Se o ano havia começado com Verstappen lutando contra a confiabilidade complicada da Red Bull, agora é Charles quem tem o próprio time quase que como primeiro inimigo: a confiabilidade abriu o bico, as táticas estão pavorosas.

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Leclerc rodou e perdeu pódio no GP da Emília-Romanha (Foto: Reprodução/F1)

É bem verdade que o momento ruim de Leclerc no campeonato começou com um raro erro do piloto em 2022, quando beijou o muro na Emília-Romanha, mas, de lá para cá, foram três corridas e três interferências da Ferrari nos resultados, de diferentes formas: inércia em Miami, quebra na Espanha, excesso em Mônaco.

Voltando ao princípio da temporada, a F1 2022 começa com dois triunfos de Leclerc nas três primeiras corridas: Bahrein e Austrália. Na Arábia Saudita, até poderia ter vencido, mas perdeu o duelo direto em pista para Verstappen. Foi naquela sequência, após a prova em Melbourne, que Charles foi aos 71 pontos contra só 25 de Max.

Aí o jogo foi virando a partir de Ímola. Em busca de recuperação, na caça a Sergio Pérez, o monegasco jogou o pódio fora ao perder o carro e tocar o muro. Ainda deu muita sorte de não ter abandonado e chegado em sexto. Só que Verstappen venceu e fez volta mais rápida. A distância já era cortada para 27 pontos.

Em Miami, mesmo com a Ferrari dominando a primeira fila, não deu de novo para Leclerc. Na pista, acabou atropelado por Verstappen nas voltas iniciais, mas, mesmo assim, ainda poderia ter uma chance. É que um safety-car surgiu na reta final da prova e o time poderia muito bem ter parado uma vez a mais e tentado o pulo do gato. Não o fez. Simplesmente porque não tinha outros pneus que não os duros para aquele momento. Um erro básico, convenhamos, ainda mais em uma pista de rua e estreante, com tanto potencial de safety-car e até bandeira vermelha.

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Charles Leclerc sofreu em Miami com a inércia ferrarista (Foto: Ferrari)

Enquanto isso tudo acontecia, há de ser dito também: a Red Bull passava a atualizar o carro e já surgia com uma velocidade de reta assustadora. Em Miami, já dava para dizer que os taurinos tinham o melhor bólido. Não o mais confiável, claro, mas o mais veloz. Foi assim que a F1 partiu para a Espanha, etapa em que nove das dez equipes tinham consideráveis novidades nos carros. E a Ferrari estava entre elas.

O pacote funcionou no sábado, Charles fez a pole de novo depois de liderar todos os treinos livres, mas aí a coisa começou a azedar: quebra na corrida, motor. Quebra em Guanyu Zhou, da Alfa Romeo, cliente da Ferrari: falta de potência. E isso se repetiu em Mônaco, diga-se, com Valtteri Bottas e os dois pilotos da Haas. Até a confiabilidade começou a balançar.

Mas, voltemos ao GP da Espanha, que simplesmente gerou a virada no campeonato. Sem Leclerc, que vinha para vencer até quebrar, Verstappen triunfou de novo e passou na frente na tabela de pontos. Ou seja, se antes Charles até poderia pegar leve nas disputas por estar em vantagem, agora passava a ser o caçador. E já longe da lua de mel com o time.

Só que foi em Mônaco que a bomba explodiu, que a paciência de Leclerc com a Ferrari acabou. Não é para menos. Com um histórico de 100% de abandonos na corrida de casa, Charles carregava consigo uma maldição daquelas clássicas de alguém que não consegue brilhar na frente dos compatriotas. No sábado, pole dominante de novo. No domingo, liderança mesmo com a pista molhada. Parecia que os astros estavam se alinhando, finalmente.

Charles Leclerc saiu do GP de Mônaco revoltado com a Ferrari (Foto: Ferrari)

Foi quando a Ferrari resolveu deixar a inércia de lado justamente quando não precisava. E acabou com o sonho do monegasco. Enquanto Carlos Sainz batia o pé e se negava a ir aos boxes trocar os pneus de chuva pelos intermediários, Leclerc confiou na equipe. Pobre rapaz. Com a parada feito atrasada, voltou atrás de Pérez e, definitivamente, era só não ter ido aos boxes. Simplesmente ninguém passava ninguém, não fazia o menor sentido temer os ataques da dupla da Red Bull com os intermediários. Era esperar a pista secar e todo mundo colocaria os pneus de pista seca. Sainz avisou, afinal.

As chances de Charles acabavam ali, não tem nem o que discutir. Mas o jovem piloto foi guardando a frustração e soltou tudo de uma vez no segundo pit-stop. Foi na hora do pit-stop duplo, em uma confusão no rádio da própria equipe sem saber se deveria parar ou não. Leclerc xingou muito no rádio, perdeu o pódio justamente para Verstappen e saiu da pista acabado.

A fúria no rádio, a entrevista irritado, tudo isso fez parte de uma versão nova do piloto para muita gente. Mas totalmente compreensível. O cenário agora é de alguém que sabe que pode ser campeão e, especificamente no último fim de semana, que tinha uma vitória inédita em casa nas mãos. Ninguém é de ferro.

“Decepção não é a palavra. Erros acontecem, mas hoje foram erros demais. Nessas condições, você confia no que a equipe diz, porque você não enxerga nada além do que os outros estão fazendo com os pneus intermediários. Fui questionado se queria ir dos pneus de chuva extrema para os slicks e disse que sim, mas não naquele momento. Seria mais tarde na corrida, então não entendo o que nos fez mudar de opinião e ir para o intermediário. Sofremos o undercut”, apontou.

Charles Leclerc se queixou no rádio diante da confusão dos estrategistas da Ferrari (Vídeo: F1)

“Depois, parei atrás de Carlos. Muitos erros, não podemos nos dar ao luxo disso. É difícil, como já foi outras vezes em anos passados, então estou acostumado a ir para casa decepcionado, mas não podemos fazer isso, especialmente neste momento. Somos rápidos, nosso ritmo é forte e temos de aproveitar essas oportunidades. Não dá para perder tantos pontos assim. Não é cair de primeiro para segundo: é primeiro para quarto. Depois do primeiro erro, cometemos outro. Mas amo meu time e sei que vamos voltar mais rápidos”, continuou.

O grande problema aí é que não dá para saber se a lua de mel de Leclerc e Ferrari vai ser retomada. Por mais que o carro tenha ficado mais rápido, Mônaco é uma pista muito específica, a Red Bull está mais confiável e, claro, Verstappen aparece na ponta. O que vai acontecer se a Ferrari quebrar de novo?

Se Charles outrora surgia até como favorito ao título, hoje é claramente franco-atirador. A bola da vez está com a Red Bull e com Verstappen, resta saber o que Leclerc e Ferrari têm na manga. Por enquanto, a amostragem não foi das melhores. E muito por culpa dos italianos.

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