Opinião GP: Ferrari do GP da Itália é só o que se pede diante de insolente Red Bull na F1 2023

Embora atravesse uma das temporadas mais bizarras dos últimos anos, a Ferrari soube usar a força das arquibancadas a seu favor e se reinventou em Monza. Foi atrevida e certeira. Pela primeira vez no ano, alguém fez frente a Max Verstappen e a Red Bull — pena que tenha levado 14 corridas. E mesmo derrotada, a icônica equipe italiana mostrou coragem, que é só o que se precisa na Fórmula 1 e na vida

É CLARO QUE NÃO havia ilusão sobre o favoritismo de Max Verstappen e da Red Bull. O resultado do GP da Itália apenas ratificou, uma vez mais, a superioridade desse fantástico conjunto, mas, especialmente, desse rapaz que alcança agora impressionantes dez vitórias consecutivas na Fórmula 1. Uma estatística cabal e que talvez só ele mesmo tenha a condição de repetir. E Verstappen vive um ano tão sublime que essa conquista ainda acontece em um dia em que ele precisou trabalhar mais do que o habitual, porque, apesar do peso do número, a corrida em Monza teve outro protagonista. A Ferrari tomou os holofotes para si em casa e não decepcionou.

“Foi um dia para tentar e eu tentei de tudo”. É simbólica a frase de Carlos Sainz, dita logo depois de deixar o pódio, ovacionado pela torcida vermelha que tomou conta da reta principal após a bandeirada, e revela muito do ambiente criado dentro da Ferrari para a etapa em Monza. Não é exatamente um segredo dizer que a equipe se prepara como nunca para sua prova em casa, mas é verdade que nem sempre é capaz de lidar com tudo que envolve correr diante de sua enlouquecida torcida. Desta vez, no entanto, o cenário foi outro. Maranello se portou com a grandeza que possui e soube gerenciar não só os aspectos técnicos, mas todo o lado esportivo. E nesse sentido, é preciso falar de Sainz.

De fato, o espanhol foi o grande nome da escuderia e do fim de semana. Liderou dois dos três treinos livres, cravou uma pole desconcertante no sábado e, no domingo, não tremeu. Saltou bem da posição de honra e não deu espaço para Verstappen. Depois, foram 15 voltas de confronto e pressão, paciência e arrojo. Até que um pequeno erro na primeira chicane permitiu que Max executasse a manobra de ultrapassagem. Mesmo assim, Carlos ainda procurou algum espaço, velocidade, tudo que tinha nas mãos, mas o holandês é implacável e não baixou a guarda.

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Mas a prova de Sainz ainda estava longe do fim. Após perder a liderança para o carro #1, o ferrarista precisou brigar com o segundo modelo taurino. Sergio Pérez chegou forte, e a disputa foi parelha e dura por muitas voltas, até que o mexicano superou o adversário. E no fim, ainda houve outra batalha, essa interna. Carlos precisou driblar o próprio companheiro de equipe para assegurar um pódio merecido naquela que foi sua melhor corrida na temporada e possivelmente a mais imponente pela Ferrari, por tudo o que significa Monza. De toda a forma, o madrilenho expurgou qualquer dúvida sobre suas qualidades técnicas e mostrou que é uma opção ainda forte para Maranello no futuro.

“Fiz tudo o que pude para mantê-los atrás. Provavelmente quase me custou um pódio porque acabei usando os pneus mais do que gostaria, e isso me deixou vulnerável. Conseguimos, mas foi difícil. Esse resultado na frente dos tifosi é incrível, pelo menos neste fim de semana, porque, no fim das contas, a Red Bull foi um pouco mais rápida que nós, como esperávamos”, explicou o dono do carro #55.

Embora não tenha tido o mesmo brilho do colega, Charles Leclerc foi um elemento importante do fim de semana ferrarista. Seguiu os passos do companheiro de garagem no acerto do carro, e isso foi fundamental. Naquelas voltas finais, ainda exibiu o melhor de si na temporada em uma disputa emocionante e no limite. “No fim, demos um show e um susto em todos. Mas no carro estava tudo bem. Eu só tinha um sorriso no rosto e espero que Carlos também.”

Esse também é um fator dos mais interessantes. Embora tenha tentando oferecer maior resistência à Red Bull, a Ferrari também se apresentou mais leve. A briga entre Sainz e Leclerc foi o ponto alto da parte final da corrida e algo absolutamente inédito, pois a escuderia sempre preferiu a cautela. Mas Frédéric Vasseur quis entregar entretenimento. Ainda bem! E as declarações dele após a corrida revelam um pouco mais sobre as acertadas decisões do fim de semana. “No geral, é um bom fim de semana”, disse o francês aos jornalistas. “Do lado esportivo, provavelmente foi o melhor desde o início da temporada. Mas acho que emocionalmente também foi importante para mim.”

Carlos Sainz festeja o terceiro lugar em Monza (Foto: AFP)

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“Tentei durante toda a semana minimizar a situação para os rapazes, dizendo: ‘Não podemos marcar mais pontos em Monza do que em qualquer outro lugar, vamos ir com calma.'”

“Mas quando cheguei na noite de quarta-feira em um evento em Milão e, ali havia centenas de pessoas dois ou três dias antes, eu pensei: ‘OK, não vai ser fácil pegar leve, hein?'”, contou.

A verdade é que deu certo. E tudo isso aliado a uma preparação importante dentro da garagem. Ainda que já tenha interrompido o desenvolvimento da SF-23, a Ferrari levou para Monza um pacote certeiro, em que apostou em uma asa traseira de pouquíssima pressão aerodinâmica, para voar nas longas retas, além de motores novos. Foi uma tentativa de pegar a Red Bull e quase deu certo — o problema é que os taurinos, insolentes, encontraram um equilíbrio delicado entre velocidade final e balanço nos trechos sinuosos, e isso fez muita diferença. Outro ponto, foi o desgaste de pneus. O carro italiano ainda sofre enormemente com os compostos, o que também dificultou a vida, sobretudo, de Sainz.

Mesmo assim, foi uma etapa redentora para a Ferrari em uma temporada de mais baixos do que altos, recheada de trapalhadas e má gestão. Só que, se souber aproveitar esse momento, a equipe vermelha tem tudo para crescer na reta final do campeonato e, quem sabe, alcançar a Mercedes, vice-líder entre os Construtores. No entanto, mais do que a boa apresentação diante dos tifosi, o que alivia bem a cobrança por resultados, e da performance em si, é um alento perceber que há ainda um espírito combativo no grid da Fórmula 1 — ainda que seja o mínimo que se espera de uma modalidade como o Mundial.

E em um campeonato irritantemente apático e equivocado de grande parte do pelotão, principalmente daqueles que deveriam se mostrar mais competitivos, a Ferrari enfim deu uma aula.

Antes tarde do que nunca.

Fórmula 1 retorna em duas semanas, nos dias 15, 16 e 17 de setembro, com o GP de Singapura, 15ª etapa da temporada 2023.

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