Opinião GP: FIA expõe F1 ao ridículo (de novo) ao aplicar punições que não viu na Áustria
Uma vez mais, a FIA passa vexame e expõe a F1. A situação que chamou de "sem precedentes", na verdade, era mais do que esperada pela natureza do circuito da Áustria — praticamente toda a edição é assim. Então, por que não há uma determinação mais séria sobre a linha branca? E além: por que é tão difícil para a entidade acompanhar o que se passa na pista?
HÁ ALGO MUITO ERRADO na forma como a Federação Internacional de Automobilismo, no papel da sua direção de prova, trata o que acontece em pista na Fórmula 1. De novo, a entidade que deveria zelar pelo esporte o expôs ao ridículo. Desta vez, no GP da Áustria, que teve o resultado mudado cinco horas depois da bandeirada. Tudo porque a entidade não foi capaz de analisar o que se passou nas 71 voltas da nona etapa de 2023 — e isso aconteceu por culpa da própria FIA, é importante destacar. Aparentemente, uma interminável lista de violações da linha branca passou ao largo e aí foi preciso que uma equipe do grid, buscando pontos em potencial, entrasse com protesto para que a situação toda se tornasse pública. Um vexame.
Desde o início do fim de semana austríaco, as questões envolvendo os limites de pista permearam a disputa no Red Bull Ring. Na classificação de sexta-feira, por exemplo, nada menos do que 47 voltas foram deletadas. Sergio Pérez foi um dos que mais sofreu com as punições. O mexicano criticou o “sistema ruim” e disse que o cenário todo era uma “piada”. Max Verstappen, que também teve giros eliminados, foi além e afirmou que os limites ali eram “bobos” e que faziam os pilotos parecerem “amadores”.
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“Parece que somos amadores, dada a quantidade de tempos de volta que foram eliminados. Alguns deles eram tão marginais — quando é tão marginal, é impossível julgar se está fora ou dentro. Claro que as pessoas podem dizer: ‘Sim, então fique dentro das linhas brancas’. Bem, se fosse tão fácil, pode pegar meu carro e tentar, mas provavelmente você nem conseguirá acelerar a tempo”, bradou Max após a conquista da pole-position.
+Do implacável Verstappen à série de punições: os cinco destaques do GP da Áustria
“Pela quantidade de pilotos punidos, claramente não é tão fácil e não acho que somos todos idiotas. Normalmente, somos muito bons em julgar onde é o limite.”
No sábado, Lewis Hamilton foi quem caiu na classificação por volta anulada pela mesma razão. Mas nada chega perto da confusão da corrida de domingo. Com exceção de Fernando Alonso e George Russell, todo o restante do grid foi alertado ou se viu em apuros por ultrapassar a linha branca. A todo momento, surgia uma informação sobre alguém investigado ou já punido. Hamilton, Carlos Sainz, Alex Albon, Nicky de Vries, Yuki Tsunoda, Logan Sargeant foram alguns nomes punidos.
Só que, cerca de uma hora depois do fim da prova, a Aston Martin decidiu protestar contra o resultado da etapa austríaca. Inicialmente, não ficou claro a razão da reclamação. Mas logo a própria entidade publicou o questionamento feito pelo time inglês. Acontece que a esquadra verde se sentiu lesada porque algumas infrações cometidas pelos rivais não foram notadas pelo controle de corrida. E foi nesse momento que se descobriu que, na verdade, a FIA não foi capaz de analisar todos os incidentes. Soube-se, ainda, que houve mais de 1.200 (!) casos de violação dos limites de pista e que alguns não resultaram em punição.
Por isso, os comissários de prova tiveram de aceitar o protesto. A entidade passou a checar os relatos e, pouco mais de duas horas depois, publicou o veredito e a consequente mudança na classificação final, o que por si só já é uma derrota. O mais prejudicado foi Sainz, que perdeu duas posições e caiu para sexto lugar. Hamilton, originalmente sétimo colocado, também levou a mesma sanção do espanhol e desceu para oitavo. Além deles, mais seis competidores foram punidos com a revisão de todos os casos de infração, com um critério dos mais confusos da história.
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O debate sobre limites de pista é irritantemente recorrente na Fórmula 1, mas não parece haver um entendimento muito claro da FIA sobre isso, então a argumentação de Verstappen é válida. E os episódios do GP da Áustria são prova máxima. Da maneira como se deu a avaliação dos comissários, a sensação é que nem tudo obedeceu aos mesmos quesitos. Ou seja, é preciso que haja efetivamente uma determinação sobre o que é e quando acontece a violação dessa regra. No entanto, há algo ainda mais perturbador: como a entidade máxima do esporte deixou passar tantas infrações?
É impensável que, com toda a tecnologia e sofisticação que gira ao redor do maior campeonato do automobilismo, não exista uma maneira instantânea e eficaz de fiscalização. Um sensor ou algo do tipo já resolveria. Esse é um ponto dos mais sensíveis, especialmente porque não é a primeira vez que acontece. Neste ano mesmo, a FIA ‘perdeu’ um carro na pista — a Aston Martin de Lance Stroll no Bahrein — e também não soube analisar um procedimento de pit-stop.
Então, se chega a outro ponto dessa discussão. Nem todos os circuitos têm problemas com limites de pistas. Mas há alguns que demandam especial atenção, como o Red Bull Ring, devido à natureza do traçado, mais precisamente em seu trecho final, nas curvas 9 e 10. É assim desde que o Mundial retornou a Spielberg em 2014. Quer dizer, não há nenhuma grande surpresa ou elemento novo aí. Todo ano acontece. Mas para a FIA foi “sem precedentes”, mesmo que seu diretor tenha recomendado aos donos do autódromo, em 2022, que algo fosse feito naquele local. E por que enfatizar agora que precisa de brita ali? Não deveria ter ordenado isso há tempos?
Portanto, não dá simplesmente para culpar o traçado pela lambança do fim de semana. É preciso que a entidade, de fato, cuide do esporte e verifique as condições da pista. É o mínimo, o básico. Sobre o trecho específico, existe o argumento de que não é possível acrescentar cascalho ou brita após as zebras por conta da segurança das provas de moto, que também utilizam a pista austríaca. Então que se encontre um ponto de equilíbrio. “Como esporte, isso nos fez parecer um pouco amadores. Quando se tem tantas infrações, uma faixa de cascalho ou algo assim é melhor. Os pilotos não conseguem ver a linha branca”, disse Christian Horner, o chefe da Red Bull, proprietária do autódromo.
“Será preciso analisar isso para o próximo ano e criar uma barreira. O argumento é a MotoGP, mas você precisa ter algo flexível para a F1″, emendou.
E fica aqui também uma última observação sobre as punições em si. Não é a primeira vez que a FIA precisa se mexer depois que alguém a questiona. A própria Aston Martin ganhou um protesto contra a entidade neste ano, na Arábia Saudita, usando o regulamento contra ela! O fato é que, ao aplicar as sanções após o fim da corrida, tira de pilotos e equipes a chance de reação, algo tremendamente injusto. Não há como impor punições pós-GP que são iguais às das provas.
Horner acertou precisamente quando escolheu o termo amador para caracterizar toda a anarquia do GP da Áustria e os seus desdobramentos. E embora perfeito, é preciso acrescentar também que a FIA flerta perigosamente com a descrença do esporte.
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