Opinião GP: Verstappen é essência da F1, e Mercedes é salvação por mesmo motivo

Max Verstappen não se deixa acomodar e está sempre pronto para o combate, como devem ser todos aqueles que estão na elite do esporte a motor. Lamentavelmente, o holandês está sozinho em um mar de apatia que se tornou a F1 2023. Mas há uma luz: a Mercedes, que é da mesma linhagem do bicampeão, deu sinal de vida na Espanha e seu potencial retorno à disputa é a melhor notícia do fim de semana do GP da Espanha

“QUERIA TIRAR O CHAPÉU para todos da Mercedes e agradecer a todos que estão na fábrica por não terem desistido e trabalhado muito para nos fazer chegar um pouco mais próximo dos carros da Red Bull. Eles ainda estão um pouco à frente, mas nós vamos continuar fazendo um bom trabalho para alcançá-los”.

A frase de Lewis Hamilton após a corrida é um desabafo de agradecimento, mas não expressa o que se viu em Barcelona neste domingo. Talvez seja justamente a postura diante de quem disse isso, Nico Rosberg, que tenha entregado a melhor versão da realidade. A F1 pôs o ex-piloto e agora comentarista como entrevistador do grupo do pódio. Hamilton e Rosberg não se falam desde a disputa do título de 2016. O primeiro nunca aturou o que o segundo fez nas pistas e fora delas. Tampouco engoliu certas declarações que chegaram a seus ouvidos. Rosberg, empunhando o microfone, estava nitidamente trêmulo por ter o primeiro momento em mais de seis anos de olho no olho. A pergunta veio rápida; a resposta, serena.

Hamilton nem ligou se ali estava alguém que não atura. A maturidade e a educação têm um peso nisso, mas o grande fato é que Lewis estava, enfim, exultante. A Mercedes voltou a se achar ao descartar aquela desgraça de zeropod – e muito melhor do que o esperado. Aquele Hamilton era o resultado de um alívio de que há um caminho. E se é o caminho para ele e a Mercedes, é o único caminho que a Fórmula 1 tem para ter alguma graça e relevância em 2023.

Rosberg entrevista Hamilton após GP da Espanha (Foto: Reprodução)

Antes, ponto inicial de tudo isso: o estado de graça de Max Verstappen. Sua qualidade é monumental. Se há, por quem acompanha a Fórmula 1, alguma dúvida de que Verstappen será um dos grandes da história, vai um conselho: elimine esta teimosia o quanto antes; Max veste o manto da glória dos maiores. Um pequeno detalhe do GP da Espanha ajuda: na volta 60, Verstappen recebeu o aviso da equipe de que havia tomado bandeira preta por ter ultrapassado três vezes o limite da pista. O tom da voz do rádio escondia certo desespero de quem poderia ser punido e perder de bandeja a corrida caso fosse recorrente. A resposta de Max veio na pista: a volta mais rápida.

O que o torna tão brilhante é que Verstappen não perde nunca a essência daquilo que se propõe a fazer: ser o melhor. E em uma temporada de tamanha apatia e covardia da concorrência, Max é o máximo.

E como dito na semana passada nesta mesma seção, é injusto Verstappen ter de lidar com uma concorrência tão desprezível. A começar por quem deveria ser o primeiro rival. De novo, Sergio Pérez viveu um fim de semana dissabor. Errático, sequer passou ao Q3 e, na corrida, ainda que tenha se recuperado, não figurou no pódio, o que seria o mínimo diante do carro que tem nas mãos. Mas é um fato também irrefutável: o mexicano tem o talento de transformar o excelente RB19 em algo prosaico. Portanto, os 53 pontos que toma do colega de equipe é apenas mais um retrato dessa desproporcionalidade que toma conta da garagem energética.

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Aí surge a Ferrari. Carlos Sainz alinhou na primeira fila, com pneus macios. Zero briga, nem sequer uma dividida de curva mais dura. Depois disso, ladeira abaixo, como de costume. E sem falar na vergonhosa corrida de Charles Leclerc. Em outra ponta, a Aston Martin ainda engatinha e tenta se acostumar com o papel de destaque, apesar de ter nos boxes um dos grandes nomes desse grid, mas que não pode fazer tudo sozinho. A Mercedes luta para sair desse lugar comum.

É por isso que se questiona se Verstappen é capaz de vencer as 15 provas restantes do campeonato. Porque ele é plenamente capaz. Para ele e para a Red Bull, isso é o ápice. Para quem vive a Fórmula 1, e para a própria Fórmula 1, é um terror. É quase uma nova definição da bio, algo como “a Fórmula 1 é a principal categoria do automobilismo mundial em que só um piloto é capaz de vencer”.

Max Verstappen celebra vitória e caminha tranquilo rumo ao tri (Foto: AFP)

Sim, vivemos isso no período de domínio de Hamilton e a Mercedes. Sim, parabéns para o primoroso trabalho da equipe octacampeã e do piloto heptacampeão, mas nós somos movidos à competição, à disputa, à rixa. Ao que foi a temporada 2021.

Assim, o desempenho de Hamilton, e também de George Russell, em Barcelona é um sopro de que há uma luz. O novo carro não consome pneu – como acontece com o malfadado SF-23 da Ferrari, por exemplo –, recuperou a velocidade e o desempenho de motor, tem equilíbrio e muita margem para evolução – não dá para considerar Mônaco. A primeira prova da nova Mercedes foi uma prova a si mesma: de que é capaz de buscar o terreno perdido para a genialidade de Adrian Newey e seu time e para o comando de Christian Horner.

Sim, parabéns para o magnífico e supremo trabalho da equipe que será bicampeã consecutiva e para o piloto que será tricampeão. Que 2023, ao menos, seja menos óbvio.

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