Opinião GP: Reação da Ferrari chega tarde, mas se torna muito valiosa para 2020

Enfim, Sebastian Vettel voltou a vencer na F1. E com uma explosiva dobradinha da Ferrari, numa pista que não a favorecia. Só que as atualizações feitas pela equipe vermelha finalmente também surtiram o efeito esperado, e isso surpreendeu os rivais. Ainda, a terceira vitória italiana encanta, mas chegou tarde demais em 2019, embora represente uma interessante reviravolta para 2020

QUANDO A SEGUNDA METADE de temporada teve início, com as etapas de Spa-Francorchamps e Monza em sequência, a Ferrari sorriu. Afinal, os dois icônicos circuitos tinham tudo que a SF90 mais queria: curvas de alta velocidade e trechos rápidos. Era a chance de ouro para aliviar a tensão em um campeonato errático em sua primeira parte, em que a equipe vermelha perdeu oportunidades, falhou em momentos decisivos e bateu-cabeça com atualizações que teimavam em não funcionar. Só que havia esse trunfo – o motorzão e a melhor velocidade de reta – e nenhuma outra rodada da temporada poderia proporcionar um cenário tão favorável quanto os dois GPs que abriram a parte complementar de 2019. A Ferrari aproveitou a vantagem. Ganhou com Charles Leclerc saindo da pole-position em ambas as corridas. Missão comprida. Aí veio Singapura. A escuderia sequer cogitava a vitória, a ideia era tentar o pódio e apagar a performance horrorosa que teve na Hungria – circuito de baixa velocidade e exigente em termos de pressão aerodinâmica.
 
Mas, então, o que aconteceu? Bem, a Ferrari sentia o ponto fraco na comparação com as duas rivais e precisava encontrar uma maneira de reparar as deficiências – uma delas, o downforce. E foi no GP da Itália que o time descobriu como. O ponto alto naquele fim de semana foi a maneira como Leclerc foi capaz de escapar de um implacável Lewis Hamilton nas longas retas, mesmo fazendo uso da asa móvel. Naquele instante, ficou claro o avanço em termos de tração e menor desgaste de pneus. E esse pacote agora foi fundamental, aliado a outros recursos, inclusive o motorzão, para a vitória deste domingo (22) no difícil Marina Bay.
Charles Leclerc foi o responsável pelas vitórias em Spa e Monza (Foto: Ferrari)
Foi um triunfo importante, não só pela dobradinha, que, pela lógica, deveria ter acontecido nas duas provas anteriores, mas pela forma como a escuderia surpreendeu as concorrentes. Na Bélgica e na Itália, a Mercedes e a Red Bull sabiam do poder de fogo dos vermelhos. E aceitaram, ainda que a esquadra prata tenha terminado as duas corridas infernizando o vencedor. Mas o que aconteceu em Singapura foi quase uma humilhação. Foi uma derrota doída, porque prateados e energéticos tinham mais a oferecer. A estratégia dos italianos também foi decisiva e neutralizou com maestria os oponentes. 
"Posso te dizer que nós estamos bravos e que acabamos de ter uma pequena reunião com os engenheiros e os pilotos. Há um sentimento geral de que nós erramos, nós erramos demais esse final de semana." A frase é do chefão da Mercedes, Toto Wolff, e resume bem o sentimento após a conquistar vermelha. 
 
A terceira vitória consecutiva também tem outros significados. Se a Ferrari agora é capaz de vencer em um circuito que antes poderia apenas expor suas fraquezas, então é justo pensar que os italianos vão endurecer a briga por vitórias daqui até o fim da temporada. Não há mais circuitos velozes como Monza ou Spa pela frente, mas há pistas com um pouco de tudo, e isso já deve apimentar muito a disputa no bloco da frente, ainda mais se tratando de traçados em que os pontos de ultrapassagem são menos problemáticos do que Marina Bay. A F1, portanto, caminha para um fim de campeonato bem mais agitado do que o visto em março. 
 
Só que, por outro lado, a reação ferrarista chega tarde demais. Em termos de título, não há mais quem ameace o hexa de Hamilton, que foi muito bem construído na primeira parte de 2019. Hoje, o inglês da Mercedes soma 296, 65 a mais que o companheiro de equipe, Valtteri Bottas. Depois, aparecem Max Verstappen e Charles Leclerc, ambos com 200 pontos, e, por fim, Vettel, com apenas 194. O campeonato do mundo é apenas uma questão de tempo para o britânico, pois. 
 
Ainda assim, o avanço da Ferrari é muito valioso. E não só para essa temporada. Como o regulamento permanece o mesmo para 2020, apenas com pequenas mudanças, a tendência é que a hierarquia de forças atual siga a mesma. Tudo o que for tirado de lição e todas as atualizações, certamente, serão importantes para o próximo campeonato. Dá para colocar nessa conta também o fato de que os três principais times têm em suas garagens os melhores pilotos do grid. A Mercedes está muito bem servida de um excepcional Hamilton. Já a Red Bull tem a seu dispor a juventude, o arrojo e a ferocidade de Max Verstappen, enquanto a Ferrari possui nas mãos um tetracampeão agora recuperado e um insolente, mas não menos veloz, Leclerc. Ingredientes não faltam. Sorte dos fãs. 
E a Mercedes, hein? Já não deve dominar sozinha a F1 (Foto: Mercedes)
Dito isso, é possível achar que as três primeiros equipes da tabela também vão terminar a temporada quase que em pé de igualdade e, se nada muito estranho acontecer, a F1 pode viver em 2020 todo a mesma boa fase que a categoria atravessa desde que abriu essa espécie de portal do bem lá no GP da Áustria. 

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