Red Bull é humilhada por Mercedes sem ‘modo festa’. E Ferrari sofre com ‘modo vergonha’

O fim de semana do GP da Itália foi o primeiro depois que a Fórmula 1 baniu o chamado ‘modo festa’ de motor usado em classificações. A Red Bull esperava até andar mais perto da Mercedes, mas amargou a rival, com Lewis Hamilton, quebrar o recorde histórico de volta mais rápida da F1 e ficou quase 1s. Já a Ferrari, com um propulsor que não anda, segue calvário sem fim

Em meados de agosto, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) anunciou a diretriz técnica que determinou o fim do chamado ‘modo festa’, conjunto dos ajustes que aumentam a potência do motor e que, via de regra, era usado para extrair o máximo de potência tanto em ritmo de classificação como também nas tentativas de ultrapassagem nas corridas. Força dominante na Fórmula 1 desde 2014 justamente por conta da entrada em vigor da era híbrida de motores, a Mercedes se viu como a mais prejudicada e até perseguida pela medida, enquanto a Red Bull, que fez lobby junto à entidade pela extinção do ‘modo festa’, acreditou que poderia estar mais perto da rival. Mas o tiro saiu pela culatra para os taurinos.

No último fim de semana do GP da Itália, aconteceu tudo ao contrário do imaginado pelas equipes. A Mercedes não apenas manteve seu domínio como inclusive cravou, com Lewis Hamilton, a volta mais rápida da história da Fórmula 1, com média horária de 264,263 km/h, e quebrou o recorde do circuito de Monza. A Red Bull, em uma jornada irreconhecível na temporada, foi humilhada e se viu 0s9 atrás com seu melhor piloto, Max Verstappen. Tudo isso mostrou que, no fim das contas, a Mercedes sequer precisa do tal ‘modo festa’ para seguir dominando e destruindo recordes na F1.

A única coisa que não mudou em relação às últimas etapas é que a Ferrari, como equipe e fornecedora de motor, continua muito atrás. Com um carro inguiável, Sebastian Vettel sequer passou do Q1, enquanto Charles Leclerc foi só um pouco melhor, mas foi eliminado na segunda fase da classificação na casa da escuderia italiana. Sorte que os tifosi não estiveram nas arquibancadas para presenciar in loco tamanho vexame. A unidade de potência construída em Maranello, que também empurra os carros da Haas e Alfa Romeo, é dotada do ‘modo vergonha’ que faz a lendária marca dar vexame desde a pré-temporada.

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Lewis Hamilton nem precisou do ‘modo festa’ para fazer a volta mais rápida da história da F1 (Foto: Mercedes)

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Em termos de classificação, considerando somente as definições do grid de largada que aconteceram com pista seca — ficam fora da lista, portanto, as sessões dos GPs da Estíria e da Hungria —, a menor diferença entre o carro mais rápido da Mercedes e o da Red Bull foi de 0s526, vista em Spa-Francorchamps, no último fim de semana em que vigorou o ‘modo festa’. Já em Monza, uma semana depois, em circuito onde a Red Bull foi mal e foi superada na classificação pela McLaren de Carlos Sainz e a Racing Point de Sergio Pérez, Max foi só o quinto, com 0s908 de desvantagem para o recordista Hamilton.

Ainda no sábado, Helmut Marko, consultor da Red Bull, se mostrou surpreso com o que aconteceu na classificação, mas entende que os efeitos do fim do que um dia foi chamado de modo de classificação só vão ficar mais nítidos nas próximas etapas.

“Nós não previmos isso. Mas Monza não é muito representativo para destacar a falta do ‘modo festa’. Por outro lado, também vimos uma diferença menor nos tempos de volta entre o Q1, Q2 e Q3, então alguma mudança houve”, salientou o austríaco. Mas o mais perto que Verstappen conseguiu andar dos carros da Mercedes na classificação em Monza foi no primeiro segmento da classificação, quando ficou 0s679 atrás. Em todas as partes da sessão, o holandês de 22 anos terminou fora dos três primeiros, sendo superado por Sainz, Pérez e até por Pierre Gasly no Q1.

Verstappen, embora bastante irritado depois de ter abandonado a corrida no último domingo, também acredita que Monza não é o melhor circuito para mostrar quem foi o melhor beneficiado e a maior prejudicada pelo fim do ‘modo festa’.

A Red Bull viveu um fim de semana irreconhecível em Monza (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)

“Pessoalmente, não acho que retrocedemos. Esta também é uma pista um pouco complicada para ver todos os benefícios ou diferenças porque em Monza todos estão usando o vácuo, e alguns o usam melhor do que outros”, salientou o dono do carro #33, que venceu na raça e na estratégia o GP dos 70 Anos da F1, em Silverstone, no começo de agosto.

“Acho que temos de esperar um pouco para voltarmos a uma pista onde ninguém quer ser puxado, onde você quer pilotar com ar limpo. Portanto, é um pouco cedo para dizer qualquer coisa a respeito. Nunca esperei que fosse muito diferente. E, como você pode ver, isso não mudou nada, mas eu também não esperava por isso”, explicou.

Se por um lado a Red Bull foi pega de surpresa, a Mercedes, provando estar bem à frente das suas oponentes no grid, se preparou com muita antecedência para aquilo que já esperava que um dia fosse acontecer.

“Nosso modo de operação tem como base extrair performance e se adaptar como organização. É um princípio quase darwinista, confrontando todas as possíveis situações que podem vir a acontecer. Quando percebemos que a campanha contra nosso modo de classificação havia crescido, mudamos nosso trabalho de desenvolvimento visando isso”, afirmou Toto Wolff em entrevista coletiva neste fim de semana.

O que o dirigente que chefia a equipe hexacampeã do mundo ressaltou é que houve uma mudança na ordem de forças em Monza, o que realmente aconteceu, sobretudo com a queda retumbante da Red Bull e a ascensão da McLaren. “Vimos pela primeira vez como o nível de performance mudou entre as equipes e temos alguns resultados interessantes. Acho que os que buscaram essa mudança com mais força não mostraram uma boa performance”, alfinetou.

Mas se o fim do ‘modo festa’ não impediu a Mercedes de seguir dominando em classificações, há nos boxes da equipe o sentimento de que houve diferença em ritmo de corrida. E para pior.

“Sempre dissemos que criar um modo de potência para a corrida toda significa que você não tem o tempero extra para ultrapassar. Você não tem os modos extras que pode decidir ou não implantar na corrida para a ultrapassagem, e isso vale seja para as equipes pequenas como para as grandes. Acho que a corrida é uma consequência dessa decisão”, citou Wolff.

Bottas largou muito mal na Itália e despencou de segundo para o sexto lugar. E mesmo tendo à frente carros que são mais lentos que a Mercedes, como a Renault de Daniel Ricciardo, a Racing Point de Sergio Pérez e as McLaren de Carlos Sainz e Lando Norris, o finlandês enfrentou muitas dificuldades para ultrapassar.

A Mercedes entende que a ausência do ‘modo festa’ influenciou mais na corrida que na classificação (Foto: McLaren)

Mas por mais que a ausência do chamado ‘modo festa’ tenha sua influência, Hamilton, depois de ter caído para 17º e último depois de ter cumprido o stop-and-go em Monza, fez uma franca corrida de recuperação, com seguidas voltas mais rápidas e conseguiu subir dez posições para terminar em sétimo. E não é de se duvidar que o hexacampeão poderia até mesmo ter superado Bottas se a corrida tivesse mais algumas voltas.

Os dois entendem que o fim do ‘modo festa’ atrapalhou na jornada ao longo da prova. “A nova regra não é boa para as corridas. No passado, era mais divertido gerenciar o motor e o boost de ultrapassagem”, salientou Hamilton. Valtteri, por sua vez, ponderou. “Pode ser que esta proibição tenha influenciado na quantidade de ultrapassagens, mas até certo ponto”.

O ‘modo vergonha’ da Ferrari

Quando a Fórmula 1 anunciou que extinguiria o modo de classificação, Sebastian Vettel e Charles Leclerc não se animaram muito. Na verdade, o que havia era o sentimento de que nada mudaria. Até porque, segundo o que o monegasco revelou, a Ferrari jamais chegou a ter algo como um ‘modo festa’ nesta temporada.

Monza provou que a dupla da equipe italiana estava certa. Nada mudou em termos de patamar para a Ferrari e as clientes que recebem a unidade motriz construída em Maranello. Das últimas oito posições do grid do GP da Itália, seis foram ocupadas por pilotos que são empurrados pelo propulsor da marca do Cavallino Rampante. No Q2, Leclerc foi 1s321 mais lento que Bottas.

O vexame só não foi maior porque a Williams, mesmo com a usina de potência da Mercedes, simplesmente não se achou no fim de semana e ficou com as duas últimas posições.

Com um motor que não anda, a Ferrari está fadada às últimas posições do grid (Foto: AFP)

Sob pressão, Mattia Binotto, comandante da mais longeva escuderia do grid da Fórmula 1, disse à emissora Channel 4 que “há muita besteira, muitos boatos e não devemos nos preocupar muito porque precisamos nos manter focados no que estamos fazendo”.

O dirigente ítalo-suíço também abordou o misterioso e polêmico acordo entre Ferrari e FIA, que jamais foi revelado, a respeito dos motores que impulsionaram a equipe para uma arrancada que representou cinco poles e três vitórias consecutivas no segundo semestre da temporada passada.

Com a SF1000, Leclerc foi quase 1s mais lento que o tempo da pole de 2019 (Foto: AFP)

“O acordo é muito simples, nunca houve uma violação de regulamento. É isso. Nossos regulamentos são muito complexos. Desde então, muitas diretrizes técnicas foram emitidas, e a razão pela qual não houve transparência no acordo é porque se trata da nossa propriedade intelectual técnica. Portanto, não precisamos explicar para o mundo inteiro como nossa unidade motriz está funcionando”, disse Binotto.

O que fica mais difícil de explicar é que, enquanto a Mercedes, mesmo sem o ‘modo festa’, foi 0s459 mais rápida na comparação com o ano passado, a Ferrari conseguiu regredir e teve seu melhor tempo em 2020 0s966 mais lento que a marca com a qual Leclerc estabeleceu a pole-position do GP da Itália de 2019, 1min19s307.

O modo de motor da Ferrari é vermelho. Vermelho de vergonha.

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