Bottas perde prestígio com chefe e começa a ver de perto porta da rua da Mercedes

Depois de outro fim de semana apagado, Valtteri Bottas pavimentou mais um pedaço do seu caminho rumo à demissão da Mercedes. Não bastasse a falta de performance em Sakhir e em Ímola, o acidente com George Russell no último domingo também não ajuda na sua tentativa de convencer Toto Wolff a fazê-lo permanecer em Brackley

Assista aos melhores momentos do GP da Emília-Romanha de F1 (Vídeo: GRANDE PRÊMIO com Reuters)

“Ele está dando passos para trás”. Ele, no caso, é Valtteri Bottas, e a frase foi dita por Toto Wolff em entrevista à emissora italiana Sky Sports depois do forte incidente em que o finlandês foi envolvido por George Russell na volta 32 do GP da Emília-Romanha. Em que pese o fato de Russell ter sido, no fim das contas, o grande responsável pela colisão em Ímola, está claro também que Bottas caminha para a porta da rua na Mercedes.

Mesmo que a temporada 2021 do Mundial de Fórmula 1 esteja apenas no seu início, com somente duas corridas disputadas de 23 previstas, é evidente que Bottas começou mal sua jornada.

No Bahrein, há pouco mais de três semanas, o nórdico de 31 anos não foi páreo para os protagonistas Lewis Hamilton e Max Verstappen, foi surrado na classificação — tomou 0s589 de Max Verstappen e 0s201 de Lewis Hamilton — e fez uma corrida solitária. Mesmo quando se leva em consideração o problema no seu segundo pit-stop em Sakhir, Valtteri foi um grande arame liso e não ameaçou ninguém naquele fim de semana. O terceiro lugar no Oriente Médio foi o possível.

VALTTERI BOTTAS; GP DA EMÍLIA-ROMANHA; ÍMOLA; MERCEDES; F1
Valtteri Bottas faz um começo de temporada 2021 muito ruim na F1 (Foto: Steve Etherington/Mercedes)

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Uma amostra do desprestígio que o dono do carro #77 tem com o chefe foi a reação de Toto Wolff à fala do seu piloto. Valtteri defendeu um stint mais longo antes da parada. “Decepcionado. Ao meu ver, a estratégia mais inteligente era mais defender do que atacar, o que me surpreendeu”.

Em fase sem filtro, o chefe da Mercedes chamou 6 depois da trucada de Bottas e alfinetou seu piloto. “Não acho que tínhamos outras opções estratégicas. A gente tentou o undercut também com o Valtteri, que é algo que eu sinto que mudaria a corrida dele. O que a gente não queria era perder uma posição na largada da corrida, e aí ele não conseguiu acompanhar os dois caras na frente”, disparou.

Para piorar as coisas, Bottas foi filmado pelas câmeras da transmissão da Sky Sports britânica reclamando com o chefe. O finlandês foi repelido por Wolff, totalmente de saco cheio, logo depois.

VALTTERI BOTTAS; GP DA EMÍLIA-ROMANHA; ÍMOLA; MERCEDES; F1
Falta de prestígio com Toto Wolff aponta caminho de Valtteri Bottas para a rua no fim do ano (Foto: Steve Etherington/Mercedes)

Três semanas é um tempo relativamente razoável para que um piloto possa ‘lamber as feridas’ depois de um resultado negativo e dar a volta por cima. Para Bottas, Ímola seria o cenário perfeito para a reação: com um bom carro e o histórico de ter marcado a pole-position no ano passado, o finlandês tinha totais condições de deixar a decepção do Bahrein para trás e engrenar no campeonato.

Sexta-feira, Ímola. Foi um dia muito frio, cenário climático bem diferente do Bahrein. Com uma Mercedes que se adapta melhor às temperaturas mais baixas, Bottas liderou a dobradinha nos dois treinos livres do dia, sempre ligeiramente à frente de Hamilton. A cara fechada em Sakhir deu lugar a um sorriso contido.

Sexta como protagonista, sábado como um insosso coadjuvante. Bottas foi bem só no Q1 da classificação do GP da Emília-Romanha, quando liderou, mas depois regrediu e fez tempos piores no Q2 e no Q3. Hamilton arrancou a fórceps uma volta brilhante e conseguiu marcar a pole, que veio com brilhantismo e também na esteira de pequenos erros nas voltas rápidas de Sergio Pérez e Verstappen, que poderiam ter valido à Red Bull no grid do circuito italiano. A posição de Bottas no alinhamento inicial? Oitavo. Pífio e patético.

Os céus no domingo trouxeram um indicativo de que a corrida não seria nada boa para Bottas. Historicamente, o finlandês não se dá bem com pista molhada — vale sempre lembrar das seis rodadas do encharcado GP da Turquia, a última prova com chuva antes do GP da Emília-Romanha.

Enquanto Hamilton lutava lá na frente com Verstappen pela vitória, Bottas perdeu duas posições na largada, caiu de oitavo para décimo e depois passou a lutar com Lance Stroll e George Russell. Valtteri chegou a passar o canadense da Aston Martin, mas depois do pit-stop foi superado pelo carro #18 de Lance e tinha rendimento tão ruim que virou presa fácil para a Williams de Russell. Até que aconteceu o acidente que provocou a bandeira vermelha.

Até o momento da batida, Russell tinha sua volta mais rápida na corrida quase 2s melhor que a de Bottas (1min26s543 contra 1min28s485 do carro #77). Só a iminência de ser ultrapassado por uma Williams diz muito sobre a falta de performance de Valtteri.

Inúmeras vezes, Toto Wolff já defendeu Bottas, de quem foi empresário desde os tempos em que o finlandês era reserva da Williams, em 2012. Mas a paciência, pelo jeito, acabou. “Não sei ao certo quem foi o culpado no acidente, mas a corrida não foi boa para ele. Ele está dando passos para trás”.

Em outra declaração, o dirigente avaliou: “O contato entre George e Valtteri foi desnecessário. Valtteri teve as 30 primeiras voltas difíceis e não deveria estar lá, mas George jamais deveria ter se lançado naquela manobra. A pista estava secando. Acho que ele [Russell] tem muito o que aprender”, disparou.

A dura irônica de Wolff em Russell ao afirmar que o prodígio “está mais perto da Copa Renault Clio que da Mercedes” surtiu efeito. Um dia depois da corrida, George veio a público e se desculpou. O jovem de 23 anos sabe que o chefe da equipe de Brackley tem total aversão a pilotos de temperamento agressivo fora da pista. Não à toa, lá atrás, em 2017, escolheu Bottas, de temperamento considerado mais dócil, para ocupar a vaga deixada por Nico Rosberg.

Mesmo assim, tudo aponta para que Russell seja o novo piloto da Mercedes no ano que vem. Ao mesmo tempo, tudo também aponta para que Bottas tome o caminho da rua ao fim de 2021.

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