Programa de jovens da Red Bull empaca na F2 2022. E trio da F3 precisa salvar lavoura

A renovação de Yuki Tsunoda enviou uma mensagem clara: não há a menor intenção de alguém do programa de jovens pilotos da Red Bull ser promovido à F1 em 2023. E isso porque a safra da F2 decepcionou tanto que Helmut Marko, consultor dos taurinos, não esconde o nome do favorito para subir para a elite do automobilismo mundial no futuro: Isack Hadjar, uma das sensações da F3

A renovação de Yuki Tsunoda para mais uma temporada na Fórmula 1 com a AlphaTauri, a terceira desde a estreia na categoria, em 2021, acabou sendo uma surpresa, principalmente depois que Helmut Marko ligou sem dó a metralhadora de críticas sobre o piloto japonês. Algumas declarações, inclusive, foram pesadas, com Tsunoda sendo chamado de “criança problema” e se vendo totalmente exposto após o consultor da Red Bull revelar que havia mandado o piloto “ao psicólogo”. A não renovação, portanto, era um caminho até esperado.

Só que algumas declarações surgidas tanto na base em Milton Keynes quanto no time de Faenza começaram a indicar que não haveria nenhum novato do programa de jovens pilotos — o Red Bull Junior Team — subindo para a AlphaTauri na Fórmula 1 em 2023. Na coletiva de imprensa com os chefes de equipes no fim de semana do GP da Itália, por exemplo, o assunto Colton Herta ainda era quente, e Franz Tost, chefe da AlphaTauri, não fugiu das perguntas referentes à desejada vinda do americano para o lugar de Pierre Gasly, a única condição que liberaria o francês para a Alpine naquela ocasião. Como o piloto da Indy ficou travado pela superlicença, os jornalistas foram diretos: e a Academia?

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PIERRE GASLY; YUKI TSUNODA; FÓRMULA 1; ALPHATAURI;
Gasly e Tusnoda estão fazendo serão na AlphaTauri, mas a julgar pela F2 2022, mudanças estão longe de acontecer (Foto: Peter Fox/Getty Images/Red Bull Content Pool)

Nascida em 2001, a academia de pilotos da Red Bull revelou ao mundo dois grandes campeões da Fórmula 1 nos últimos 12 anos: Sebastian Vettel e Max Verstappen. Além deles, outros tantos passaram pela principal categoria do automobilismo: Christian Klein (o pioneiro, em 2004), Vitantonio Liuzzi, Brendon Hartley, Daniil Kvyat, Jaime Alguersuari, Sébastien Buemi, entre outros, com destaque para Daniel Ricciardo, Carlos Sainz e Gasly, que estão atualmente no grid e possuem vitórias na F1.

O Red Bull Junior Team é, sem dúvida, um dos programas mais interessantes para jovens que sonham em um dia chegar na elite do automobilismo mundial, e isso porque os austríacos possuem uma peculiaridade em relação as demais rivais: um time B no grid da F1. Com exceção de Klein, que fez sua estreia na F1 pela Jaguar, uma vez que a Toro Rosso nasceu só em 2006; Liuzzi, que participou de quatro GPs em 2005 com a Red Bull; Vettel, que substituiu Robert Kubica no GP dos Estados Unidos em 2007 na BMW; e Ricciardo, que era terceiro piloto da Toro Rosso em 2011, mas disputou as últimas 11 corridas daquela temporada com a Hispania; todos os jovens promovidos do programa para a F1 assinaram primeiro com time de Faenza.

Sim, a equipe que hoje se chama AlphaTauri é nada mais, nada menos que o rito de passagem para aqueles que se destacam no programa da Red Bull, por isso não é normal ver o mesmo piloto por lá por muito tempo — e, aqui, leia-se duas temporadas, em média. Três já é raridade.

Mas a AlphaTauri deste ano conta com uma dupla ‘veterana’: Gasly já tem quatro anos de casa, contando com a Toro Rosso, e Tsunoda garantiu o seu terceiro com a renovação para a próxima temporada, e isso se explica muito pelo que se viu na Fórmula 2, o último degrau para a F1. A temporada 2022 começou com cinco pilotos do Red Bull Junior Team no grid, mas ao contrário do que se esperava, os representantes da marca das bebidas energéticas sequer passaram perto da disputa pelo título. Em uma temporada na qual Felipe Drugovich se valeu da experiência para levar a modesta MP ao topo, não dando chance aos adversários, o máximo que os integrantes do programa da Red Bull alcançaram até o momento na classificação foi o quinto lugar com Jehan Daruvala — e, detalhe: empatado com Jack Doohan, que está bem cotado para a vaga de Fernando Alonso na Alpine, e Enzo Fittipaldi, que vem fazendo milagre com a Charouz.

Daruvala tem uma vitória na F2 2022, mas faz uma temporada muito irregular (Foto: James Gasperotti)

Daruvala venceu pela primeira vez no ano na última rodada, disputada na Itália, mas o indiano da Prema vem numa temporada muito irregular e chegou a sair zerado de três etapas (Áustria, Hungria e Bélgica).

Os demais não estão tão longe. Dennis Hauger, companheiro de equipe de Daruvala, é o que ocupa a pior colocação entre os integrantes da academia: 11º, e ainda foi alvo das críticas de Christian Horner por seu rendimento “abaixo do esperado”. Liam Lawson, que é o atual piloto reserva da Red Bull e andou com a AlphaTauri no treino livre 1 da Bélgica, até venceu três corridas sprints, mas deixou de pontuar em outras nove oportunidades e está apenas em sétimo. Ayumu Iwasa, que recebeu elogios de Horner e também tem uma vitória no currículo, é o nono, à frente de Jüri Vips.

O estoniano, aliás, parecia ser a grande aposta dos taurinos, uma vez que era o piloto de testes e reserva da equipe principal e havia sido a escolha da Red Bull para o TL1 em Barcelona. Mas a fala racista durante uma live pôs tudo a perder, e não só para ele: os taurinos também se viram de mãos atadas, pois mesmo os resultados de Vips esse ano também não sendo os melhores, ele encabeçava a lista de candidatos à AlphaTauri, afinal, já era hora de promover a mudança. Mas a equipe se viu obrigada a dispensá-lo — e aqui vale frisar o ‘obrigada’, já que o próprio consultor da Red Bull, Helmut Marko, declarou em alto e bom som que o time só fez isso por causa do “barulho da mídia inglesa”.

Outro detalhe também não passou despercebido e causou muita estranheza: sem Herta, a AlphaTauri aceitou buscar outras opções para o lugar de Gasly, mas passou longe de cogitar alguém da base, muito pelo contrário: entendeu que só poderia abrir mão do francês se tivesse alguém com um pouco mais de experiência para o lugar, e Nyck de Vries surgiu como escolha depois do fim de semana impressionante com a Williams em Monza.

A Red Bull foi obrigada a romper com Vips após racismo e se viu de mãos atadas (Foto: FIA Fórmula 2)

A última pá de cal nas esperanças de qualquer um dos pilotos que estão na Fórmula 2 veio novamente dele, Marko, só que num tom preocupante: a safra da Fórmula 3 2022 agradou muito mais a cúpula taurina — em especial Isack Hadjar, que, em seu ano de estreia, venceu três corridas, chegou a liderar por duas rodadas, brigou pelo título até a última etapa e vai subir de categoria no ano que vem. Helmut, aliás, já disse: se o francês ir bem em 2023, pode aparecer na AlphaTauri na temporada seguinte. Não há dúvidas, portanto, que Hadjar é a ameaça real à vaga de Tsunoda.

Jak Crawford e Jonny Edgar também não ficam atrás e surgem querendo embolar ainda mais a briga. E a grande verdade é que o trio da F3 parece, de fato, muito mais interessante e capaz de crescer numa eventual ida para a base de Faenza, e a Red Bull sabe muito bem disso. Mas não deixa de ser no mínimo frustrante ver que terá de esperar mais um ano para, enfim, ter um nome diferente vindo do seu tão badalado programa. E talvez isso seja um alerta para a necessidade de alguma mudança no futuro.

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