Iannone sofre derrota no Tribunal Arbitral e vê suspensão por doping subir para 4 anos

Andrea Iannone teve o futuro definido no esporte a motor. Após ter os apelos em seu caso de doping rejeitados, o italiano recebeu suspensão de quatro anos e só pode voltar a correr de forma competitiva em janeiro de 2024

O caso de Andrea Iannone chegou ao fim. Nesta terça-feira (10), o Tribunal Arbitral do Esporte bateu o martelo no julgamento de doping e considerou o italiano culpado, aplicando a pena máxima de suspensão de quatro anos.

O apelo do competidor, que alegava ter se contaminado acidentalmente ao comer carne com a substância proibida na passagem pela Ásia, foi rejeitada. O julgamento, que aconteceu em outubro, abordou dois casos: piloto X FIM (Federação Internacional de Motociclismo), e WADA (Agência Mundial Antidoping) X FIM e piloto.

Andrea Iannone tinha uma suspensão inicial de 18 meses (Foto: Reprodução)

Relacionadas


Conheça o canal do Grande Prêmio no YouTube.
Siga o Grande Prêmio no Twitter e no Instagram.

De acordo com o documento emitido pelo Tribunal, Andrea recebeu um gancho de quatro anos iniciado no dia 17 de dezembro de 2019. Ainda, todos os resultados em competições obtidos desde 1º de novembro do mesmo ano foram desqualificados, incluindo medalhas, pontos e prêmios.

O documento apontou, também, que Iannone não conseguiu identificar qual o tipo de carne ingerida na Ásia e tampouco a origem exata. Portanto, não pode acatar o apelo do competidor de 30 anos. Ainda, os defensores não conseguiram apontar precisamente qual o problema com o alimento consumido.

“O Painel do Tribunal Arbitral do Esporte rejeitou a apelação feita por Andrea Iannone e acolheu a apelação feita pela WADA. Como consequência, a decisão apresentada pela Corte Disciplinar Internacional da FIM foi deixada de lado e substituída pela seguinte nova decisão: Andrea Iannone está sancionado com um período de inelegibilidade de quatro anos, começando a partir de 17 de dezembro de 2019. Todos os resultados competitivos obtidos por Andrea Iannone a partir de e incluindo 1 de novembro de 2019 até o início da suspensão foram desclassificados, com todas as consequências resultados, incluindo quaisquer medalhas, pontos e prêmio”, anunciou o TAS.

Segundo a sentença, o gancho de quatro anos não significa que Andrea tenha violado a regra antidoping [ADRV] intencionalmente, mas é resultado do fato de ele não ter conseguido provar a contaminação acidental.

“Uma vez que compete ao atleta estabelecer, no balando de probabilidades, que um ADRV não é intencional, a impossibilidade de fazê-lo significa que é considerado como tendo cometido um ADRV intencional, de acordo com as regras antidopagem aplicáveis”, apontou o TAS. “A conclusão do Painel por si só não descarta a possibilidade de que o ADRV de Andrea Iannone possa ser resultado do consumo de carne contaminada por drostanolona, mas significa que Andrea Iannone não foi capaz de fornecer qualquer evidência convincente para estabelecer que o ADRV que ele cometeu não foi intencional”, explica.

“Consequentemente, o Painel concluiu, ao contrário da decisão recorrida, que o ADRV cometido por Andrea Iannone deveria ser tratado como intencional para o fim das regras antidopagem aplicáveis e, portanto, manteve o recurso da WADA. A sentença do CAS anula a decisão proferida pelo Tribunal Disciplinar Internacional da FIM datada de 31 de março de 2020 e impõe um período de quatro anos de inelegibilidade para Andrea Iannone”, encerrou.

Iannone foi flagrado em exame antidoping no GP da Malásia do ano passado

A carreira de Iannone saiu dos trilhos em meados de dezembro passado, quando a FIM anunciou uma suspensão provisória após um teste positivo para uma “substância não especificada nos termos da seção 1.1.a) esteroides androgênicos anabólicos exógenos (AAS)” em um exame feito em novembro em Sepang. Andrea pediu a análise da amostra B, mas a contraprova apenas confirmou o doping.

A entidade máxima do esporte nunca deu detalhes do caso, mas o advogado de Iannone revelou que a substância encontrada no exame de urina é a drostanolona, um esteroide anabolizante injetável derivado do DHT. A drostanolona é muito comum em fisiculturismo, já que é eficaz no crescimento muscular.

A substância, aliás, é a mesma encontrada em Anderson Silva, lutador do UFC, num exame feito em 2015. A droga, descoberta em 1950, pode causar impotência, infertilidade e acne, além de aumentar o risco de câncer de próstata, de problemas cardíacos e de trombose.

Desde o início, Iannone se diz inocente. A defesa alega que a droga entrou no sistema do piloto por conta do consumo de carne animal durante os dias em que passou na Ásia, entre os GPs da Tailândia e da Malásia. Além de Iannone, outros oito pilotos foram testados em Sepang ― Romano Fenati, Ai Ogura, Marcos Ramírez, Remy Gardner, Joe Roberts, Xavi Vierge, Jorge Lorenzo e Marc Márquez ―, todos com resultado negativo.

A drostanolona é uma substância que consta na lista da WADA como “proibida o tempo todo”, o que significa dentro e fora de competição. O artigo 4.2.2 do Código Mundial Antidoping determina que “todas as substâncias proibidas devem ser consideradas como ‘substância especificada’, exceto as substâncias nas classes S1, S2, S4.4, S4.5, S6.A, e métodos proibidos M1, M2 e M3”. A drostanolona faz parte da classe S1, de agentes anabólicos.

As penas por doping dependem da substância, da forma de contaminação e do grau de culpa do atleta. A sentença máxima, de quatro anos, é aplicada se, em se tratando de uma substância especificada, a FIM comprovar que o uso foi intencional. Caso os árbitros considerassem que Andrea não teve uma parcela de culpa significativa ou que não foi negligente, a suspensão poderia chegar a dois anos.

O Código Antidoping da FIM explica, no Artigo 2.1.1, que “é um dever pessoal de cada piloto garantir que nenhuma substância proibida entre em seu corpo”.

“Os pilotos são responsáveis por qualquer substância proibida ou seus metabólitos ou marcadores encontrados em suas amostras. Consequentemente, não é necessária a intenção, falha, negligência ou uso consciente para que seja demonstrada uma violação do código antidoping”.

Um dos casos mais recentes de doping no motociclismo aconteceu com Anthony West, que foi afastado do motociclismo por dois anos, apesar de ter levado ao CDI uma testemunha que alega ter colocado cocaína na bebida do australiano sem o conhecimento dele. O piloto, por sinal, teve a pena aumentada por disputado o SuperBike Brasil durante o período de inelegibilidade.

O julgamento da FIM e o gancho de 18 meses

No dia 4 de fevereiro, Andrea foi julgado pela Corte Disciplinar Internacional da FIM, que, após adiar o anúncio da sentença por alguns dias, mantendo a suspensão provisória, confirmou apenas em 1 de abril uma punição de 18 meses, uma pena mais branda do que os quatro anos originalmente solicitados pela acusação.

Na época, apesar de a entidade suíça não ter divulgado detalhes do caso ― consequência do direito de apelação de Iannone ―, o advogado do piloto afirmou que a FIM reconheceu que não houve doping voluntário e aceitou o argumento de contaminação alimentar.

Antonio De Rensis, porém, foi bastante critico em relação ao trabalho da CDI. De acordo com o defensor, a acusação se opôs ao teste de fio de cabelo apresentado e mostrou fotos de Andrea de cueca para alegar “propósito estético” no doping. O advogado considerou que o piloto da Aprilia não estava tendo um julgamento justo.

LEIA TAMBÉM
+ Marc Márquez encerra mistério e anuncia que não volta à MotoGP em 2020
Com Mir e Rins no GP da Europa, Suzuki tem primeiro 1-2 em 38 anos
Mir vence pela primeira vez e fica perto do título de 2020 da MotoGP

Hipótese de contaminação alimentar é frágil

Especialista ouvida pelo GRANDE PREMIUM aponta fragilidades na alegação de que a contaminação se deu por conta de uma carne ingerida por Iannone durante a estadia na Ásia. Afinal, o anabolizante deveria ser metabolizado pelo animal antes do abate.

De acordo com a professora Helenice de Souza Spinosa, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, os anabolizantes têm uso limitado na veterinária.

“Se o bovino recebeu um anabolizante para aumentar sua massa muscular e, com isso, aumentar o valor da sua carcaça após o abate, há necessidade de se aguardar certo tempo após a administração do anabolizante para que ele possa agir no organismo animal ― meses ― e seja observado o efeito. Isto é, aumento da massa muscular”, explicou a veterinária ao GP*. “Esse espaço de tempo faz com que gradativamente o anabolizante seja eliminado do organismo do animal e, no momento do abate, não seja encontrado seu resíduo na carne”, seguiu.

Coordenador do Centro de Medicina do Exercício e do Esporte do Hospital 9 de Julho, Dr. Páblius Braga, porém, acredita que a contaminação alimentar é possível.

“É uma alegação de defesa muito comum. Se a quantidade detectada na urina for muito pequena, é possível que esse fato tenha ocorrido”, apontou Braga ao GRANDE PREMIUM.

Espera e futuro da Aprilia

Até agora, a Aprilia se manteve firme no propósito de esperar por Iannone. Contratado para formar dupla com Aleix Espargaró, Andrea permaneceu sendo a aposta da casa de Noale, que optou por substituí-lo por Bradley Smith nas provas de 2020, substituindo o britânico por Lorenzo Savadori nas três corridas finais.

A marca italiana, todavia, estabeleceu um limite nesse espera: 2020. Diretor-executivo da Aprilia, Massimo Rivola admitiu que não poderia continuar esperando Andrea indefinidamente, ainda mais tendo opções como Andrea Dovizioso e Cal Crutchlow no mercado.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da MotoGP direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.