Limite de idade e até mais potência: pilotos dão ideias para combater mortes de crianças

Pilotos como Jack Miller, Aleix e Pol Espargaró e Álex Rins ressaltaram que é inaceitável perder três jovens pilotos em poucos meses e sugeriram não só o aumento da idade mínima, mas também a volta à pistas menores e até o aumento de potências

As mortes de Jason Dupasquier, Hugo Millán e Dean Berta Viñales não passaram despercebidas no paddock do Mundial de Motovelocidade. Além de atingir intimamente um deles, já que o espanhol de 15 anos era primo de Maverick Viñales, as fatalidades evidenciaram a necessidade de mudanças. E os pilotos da MotoGP não fugiram da responsabilidade de cuidar de quem sonha em ser como eles.

No intervalo de só 118 dias, ou seja, quase quatro meses, três jovens morreram em acidentes em corridas de moto: em 30 de maio, Dupasquier morreu aos 19 anos em consequência de um grave acidente na classificação do GP da Itália de Moto3, em Mugello; em 25 de julho, Millán, de 14 anos, morreu após um acidente em Aragão, em uma corrida da Talent Cup Europeia; e, em 25 de setembro, Viñales foi vítima de um acidente na prova de Jerez do Mundial de Supersport 300.

Jack Miller se disse farto das mortes de crianças (Foto: Divulgação/MotoGP)

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Além da pouca idade dos pilotos, outro fato em comum é a circunstância do acidente, já que todos sofreram lesões graves após serem atropelados por colegas. Somado a isso, o tamanho dos grid. Na data dos acidentes, a Moto3 tinha 30 motos, a Talent Cup tinha 38 e o Mundial de Supersport 300, 42.

Na quinta-feira (1), reunidos em Austin para a 15ª etapa da temporada 2021 do Mundial, os pilotos deram alternativas para tentar poupar as vidas de jovens competidores.

Titular da Ducati, Jack Miller classificou as mortes como “atrozes”, lembrou o impacto que esses acidentes têm nas crianças, citando, inclusive, um dos envolvidos no acidente fatal de Dean Berta, e se disse farto dos minutos de silêncio em tributo a jovens. Ontem, o paddock se reuniu para homenagear o primo de Maverick.

“Isso é além de terrível, é atroz o que aconteceu este ano, com tantas jovens vidas perdidas”, disse Miller. “Olhando para o Dean no outro dia, ele nasceu em 2006. Não faz tanto tempo assim. O coitado não teve a chance de viver uma vida toda, e isso é terrível. E eu conheço um dos jovens australianos que vivem em Andorra e que estava envolvido no acidente, Harry Khouri, e ele está muito abalado com isso. Isso, com certeza, afeta essas crianças”, seguiu.

“Mas a menos que a gente impeça as crianças de correrem ― o que eu não acho que seja a coisa certa a se fazer, pois, no fim das contas, é o que eles amam e eles sabem os riscos envolvidos ―, não há muito que possamos fazer além de tentar tornar as corridas mais seguras”, ponderou. “Tem de haver um grande passo olhando para a segurança, para o formato dessas corridas. Este ano foi especialmente ruim, mas isso não pode continuar. Não podemos ter três jovens crianças perdendo a vida em um espaço de nem nove meses. É atroz”, defendeu.

“Acho que falo em nome de todo mundo quando digo que estou farto de ir a esses minutos de silêncio por essas crianças que eram muito, muito jovens. Isso é muito ruim. E, certamente, não pode continuar. Não pode, de jeito nenhum. Algo precisa ser feito”, insistiu.

Aleix Espargaró fez uma lista de soluções para apresentar para a Dorna (Foto: Divulgação/MotoGP)

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Companheiro de Maverick na Aprilia, Aleix Espargaró também defendeu mudanças e revelou que viajou para Austin com uma lista de ideias para tentar conversar com Carmelo Ezpeleta, diretor-executivo da Dorna, sobre os frequentes acidentes.

“Precisamos mudar alguma coisa, pois o maior problema não são essas três mortes que tivemos nos últimos seis meses. O que já é um grande problema. O maior problema é a tendência que estamos seguindo. Isso é o que me deixa preocupado, pois temos muitas corridas apertadas nessas categorias menores por toda a Europa”, apontou. “Para mim, claro, podemos aumentar um pouco a idade, já que em algumas classes eles já são muito jovens. Mas têm muitas outras coisas que podemos fazer”, continuou.

“Tomara que possamos, junto com a Dorna e os outros pilotos da MotoGP, tentar fazer um brainstom. Nos últimos dias, escrevi muitas ideias que me vieram à cabeça e quero discutir com a Dorna, pois tenho certeza que eles também estão trabalhando duro nisso. Tenho uma lista grande e torço para que possa ajudá-los com isso”, revelou.

Além de aumentar a idade mínima para as categorias, os pilotos apontaram outros problemas. Aleix, por exemplo, considera que é um problema ter motos de pouca potência em circuitos que recebem a MotoGP. O catalão sugeriu que as categorias menores voltem para o kartódromos.

“Essas motos não são potentes nas classes menores e a estabilidade é muito alta. Então não é difícil ser rápido com esse tipo de moto e é muito difícil fazer a diferença”, indicou. “Podemos ver, por exemplo, na Moto3. Para mim, Pedro Acosta é muito mais talentoso do que os outros pilotos, mas ele nunca consegue escapar nas corridas. Este é um exemplo muito claro”, continuou.

Irmão caçula, Pol também apontou o estilo de moto como um problema, já que os pilotos conseguem chegar ao limite da moto com facilidade e, assim, todos andam agrupados.

Pol Espargaró acompanhou o irmão na apresentação de soluções (foto: Divulgação/MotoGP)

“O talento desses garotos é incrível e eles atingem o nível desses motos pequenas, com esses motores pequenos, muito rapidamente. Então o problema é que todas essas crianças chegam ao limite da moto muito rápido e a diferença entre elas é muito pequena. Daí a diferença que o vácuo faz é muito importante, então eles precisam estar muito próximos”, explicou. “Para mim, com certeza, a potência da moto, a pouca idade e a curta experiência deles são problemas. Então, se quisermos melhorar essa situação, um caminho é talvez aumentar um pouco a idade e o nível de cada moto. As motos são muito lentas e muito ‘ruins’ na minha opinião”, acrescentou.

“Nas 125cc, me lembro que as motos eram muito agressivas e fortes, e um cara que não tinha ritmo na corrida, por exemplo, não conseguia seguir alguém que fosse meio segundo mais rápido, porque sofreria um highside [quando o piloto é ejetado da moto]. Isso estava relacionado à dificuldade da moto e à potência das motos. Então talvez essa também seja uma solução. Mas precisa ser profundamente estudado”, completou o espanhol, que se referiu à categoria que deu lugar à MotoGP em 2012.

Álex Rins também concordou que motos mais potentes podem ser o caminho.

“Os três momentos deste ano, Mugello foi um grande grupo [com Jason Dupasquier na Moto3], também o acidente de Dean, então talvez precisem pensar em tornar essas motos mais potentes”, sugeriu.

Na visão de Aleix, adiar o salto para circuitos maiores também pode ser um bom caminho.

“Minimotos em pistas de kart são uma boa. Talvez eles possam ficar mais tempo em pistas de kart, onde a velocidade é muito mais baixa e quando dois pilotos sofrem um acidente juntos, nada acontece”, sugeriu. “Eles podem adiar em um ou dois anos a chegada em pistas grandes, por exemplo. No passado, a popularidade das minimotos era muito alta, mas agora todo mundo quer correr na Moto4, são muitas categorias, Supersport 300, todo mundo em pistas grandes”, observou.

“Pode ser que essa também seja uma solução, correr mais em pistas de kart, pois acho que as crianças podem aprender a mesma coisa e talvez até mais. A questão é que você pode ir correr em uma pista grande, como Barcelona, com a Moto4, que é quase a mesma coisa que a Moto3, aos 12 anos”, palpitou.

Miller avaliou que, no caso do Mundial de Supersport 300, além do tamanho da pista e da falta de performance, o peso da moto é também um componente importante. “

“Na Supersport, essas motos são muito rápidas e são muitas delas. E essas motos não são nem um pouco leves. Com certeza, é peso demais”, sublinhou.

O australiano também considerou que o tamanho dos grids é também um problema. Na Moto3, são 30 motos. No dia do acidente de Hugo Millán, a Talent Cup Europeia tinha 38 participantes, enquanto 42 pilotos compunham o grid do Mundial de Supersport 300.

“São muitos deles no grid, então, quando alguma coisa acontece, infelizmente a chance de algo acontecer é duplicada ou triplicada, pois são muitos garotos”, avaliou Jack.

Aleix sugeriu, também, que as corridas incorporem tecnologias que hoje já são utilizadas em veículos de rua, como detecção automática de acidentes ou até mesmo reduzir automaticamente a potência das motos próximo do local de um acidente.

“Dá para fazer muitas coisas para evitar especificamente o contato. Durante as corridas, você pode fazer muitas coisas eletronicamente que não estamos fazendo hoje, já que a tecnologia é muito boa”, afirmou o pai dos pequenos Max e Mia. “Então podemos usar essa tecnologia para tentar talvez parar as motos quando um acidente acontece. Tem muitas coisas que podemos fazer”, insistiu.

Aleix cobrou, também, o uso de equipamentos de segurança que já estão disponíveis, mas que hoje não são exigidos em classes menores.

“Por exemplo, nós estamos usando airbags. No Mundial Júnior, não estão. Não gosto nada disso”, apontou.

Hexacampeão da MotoGP, Marc Márquez apontou que o número de categorias também reflete nas estatísticas, já que quanto maior o número de competidores, maior a probabilidade de acidentes graves.

A posição, aliás, foi acompanhada por Pol Espargaró.

“Acontece mais do que há alguns anos simplesmente porque têm mais jovens correndo. Me lembro de quando comecei a correr, tinha apenas o campeonato espanhol e aí os Mundiais da MotoGP”, recordou Pol. “Não tinham muitas categorias com jovens correndo. Agora, cada vez existem mais categorias com jovens correndo, o que aumenta a probabilidade dessas coisas acontecerem”, concluiu.

A classificação que define o grid de largada para o GP das Américas de MotoGP, em Austin, acontece no sábado (2), às 16h10 (de Brasília). O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades do Mundial de Motovelocidade 2021.

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