Marc Márquez fica na vontade, mas ressurge das cinzas logo no palco do início do caos

Qualquer que fosse o circuito, a volta de uma atuação maiúscula como a deste domingo (28) seria motivo de muita festa para Marc Márquez, mas ver justamente Jerez de la Frontera acolher o momento em que o espanhol ressurge das cinzas tem um tom até poético

Há 1.379 dias, Jerez de la Frontera foi o palco do principio do caos. Naquele 19 de julho de 2020, uma queda na curva 3 da pista andaluz quase colocou um ponto final na carreira de Marc Márquez. Agora, anos depois, dá até um tom poético que o ressurgimento do #93 em meio às cinzas se dê justamente na pista do sul da Espanha.

Voltando no tempo, a abertura da temporada 2020 marcou um ponto de virada na carreira de Márquez. Em um campeonato condicionado pela pandemia de Covid-19, o #93 não teve no vírus o maior adversário, mas sim em uma fratura, como tantas que são registradas anualmente no Mundial de Motovelocidade.

A diferença, porém, reside na maneira como aquela fratura de úmero foi tratada. Marc precisou de uma cirurgia, mas, ao invés de dar um tempo mínimo que fosse para que a fratura consolidasse, o então piloto da Honda decidiu apressar as coisas para disputar o GP da Andaluzia, no fim de semana seguinte à lesão. Na época, parecia um ato de heroísmo. Hoje, sabe-se que aquela suposta coragem tirou mais do irmão de Álex do que jamais poderia ter dado.

Sem que fosse barrado pelos médicos — nem os que o operaram e nem tampouco aqueles encarregados do campeonato —, Márquez se pôs a fazer flexões ainda no hospital e voltou à Jerez para correr. Não deu. Mas ele não desistiu de tentar. O excesso de esforço, ao invés de acelerar o processo de recuperação — como era desejado por ele —, acabou por lançar o espanhol nas profundezas do inferno.

Marc Márquez conquistou o primeiro pódio em GP com a Gresini neste domingo (Foto: Red Bull Content Pool)

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Marc danificou a placa de titânio que tinha sido colocada na primeira intervenção, que depois virou uma segunda, uma terceira e só parou em uma quarta, esta feita nos Estados Unidos, onde os médicos fizeram uma osteotomia, um corte cirúrgico do osso. Desta vez, porém, o processo de recuperação pós-operatório se deu como devido.

Quando a forma física, enfim, voltou, foi a Honda que faltou. A RC213V vive hoje mergulhada numa crise de competitividade e, sem ver luz no fim do túnel, Márquez decidiu sair de casa. Aliás, a lesão o fez deixar o conforto do lar por duas vezes: primeiro, o piloto trocou Cervera por Madri para trabalhar com uma equipe médica que acompanha o tenista Rafael Nadal; depois, deixou a Honda, que sempre defendeu na MotoGP, para tentar se reencontrar em cima da Ducati da Gresini.

A mudança não era apenas para colocar as mãos na melhor moto do grid. Ainda que esse seja um desejo comum — e absolutamente normal — de todos ou pelos menos da maioria dos pilotos da MotoGP. Era também para responder uma pergunta que ainda atormentava Marc: ele ainda era capaz de ser competitivo na MotoGP?

Enquanto ele estava às voltas com a lesão, o mundo não parou. Novos valores surgiram e novos campeões foram forjados no Mundial. Os tempos agora são outros. E ele, que detém alguns dos recordes de precocidade da classe rainha, é hoje um dos mais velhos do grid.

Aos 31 anos, o filho de Roser e Julià tinha pressa. Não dava para esperar a Honda voltar a ser a Honda. E o tempo mostrou que ele tinha razão. Não só porque ele, pouco a pouco, foi reencontrando a competitividade, mas porque a RC213V tampouco achou a mola no fim do túnel.

Dentro da estrutura familiar da Gresini — para onde não levou quase nenhum dos fiéis escudeiros com quem trabalhou desde o segundo ano na MotoGP —, Marc foi domando a Desmosedici e avançando mais e mais. Ao chegar para a quarta etapa da temporada, o hexacampeão avisou: o processo de aprendizado tinha acabado.

É verdade que ele já tinha dado outros bons indícios. No GP das Américas, por exemplo, chegou a liderar a corrida que tanto venceu, mas foi neste domingo que aquele Márquez combativo, faminto e feroz efetivamente ganhou vida.

Mas não bastava que fosse só em Jerez. Tinha que ser em um confronto de Ducati — afinal, ele é mais um dos muitos candidatos à vaga na equipe oficial. E tinha de ser contra Francesco Bagnaia, aquele que tem reinado na categoria nos últimos anos.

E se Marc tinha contas a acertar com o passado, Pecco tinha uma defesa de título para botar de pé. Nenhum dos podia — ou queria — ceder. Assim, os fãs ganharam um clássico instantâneo, uma corrida daquelas de deixar todo mundo em pé até a bandeirada.

Márquez sai de Jerez mais forte, mais feliz. Sabendo que pode ser de novo aquilo que foi no passado: um piloto combativo, aguerrido e vencedor. Mesmo que a vitória número 60 ainda resista em chegar.

MotoGP volta a acelerar entre os dias 10 e 12 de maio, para o GP da França, em Le Mans, com a quinta etapa da temporada 2024. O GRANDE PRÊMIO faz a cobertura completa do evento, assim como das outras classes do Mundial de Motovelocidade durante todo o ano.

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