Retrospectiva 2023: Hamilton flutua entre bestial e anêmico, mas salva vice da Mercedes

Lewis Hamilton teve momentos espetaculares e outros em que parecia sem vontade de reagir na Fórmula 1 2023, mas foi o responsável pelo vice de Construtores da Mercedes

A temporada 2023 de Lewis Hamilton no Mundial de Fórmula 1 foi um mistério. O heptacampeão mundial teve sequências de corridas em que parecia aquele piloto dos melhores dias, independente do carro que tinha na mão, mas em outros momentos esteve às voltas com aparente anemia. Entre a velha qualidade e o desprazer do W14, ainda foi o grande responsável pelo vice-campeonato da Mercedes no Mundial de Construtores.

É justo dizer que Hamilton se recuperou do 2022 apagado, onde aparentava estar o tempo inteiro sem forças, jogado numa equipe que já não pertencia a ele e sem chances de brigar por algo mais e responder pelo desfecho caótico, quase esportivamente trágico de 2021.

Se boa parte da campanha mostrou um Hamilton habilidoso como sempre e sem piedade para devolver a derrota imposta pelo companheiro George Russell há um ano, também teve trechos em que aquele piloto anêmico, que nem parecia dono do currículo mais robusto da Fórmula 1, dava as caras novamente. Assim, foi, por exemplo, nas últimas duas provas do ano, quando Hamilton parecia querer apenas desmontar acampamento.

Mas a melhor definição para as últimas duas temporadas e a aparência por momentos derrotadas vem duma declaração dele próprio agora, recente, após o fim do campeonato. Ao saber, ainda nos primeiros minutos, no contato inicial, que teria graves problemas com o W14.

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Lewis Hamilton se mostrou otimista com o novo W14 da Mercedes após a corrida na Espanha (Foto: AFP)

“Em fevereiro, quando começamos a ver para onde o carro estava indo, fiquei apreensivo porque, no ano passado, era aquilo de ‘o carro é incrível, é único, ninguém vai ter nada igual. E aí veio o primeiro teste…”, contou.

“Estava mais cauteloso enquanto ouvia as explicações e fiquei tipo: ‘vamos ver’. E então, o carro [de 2023] teve todos esses [mesmos] problemas. Simplesmente soube que seria um longo ano”, ressaltou.

“Certamente fiquei frustrado, porque pedi por determinadas mudanças e elas não foram feitas. Ninguém sabia exatamente qual era o problema. Ninguém sabia consertar. Com a experiência do ano anterior, simplesmente me esforcei em termos de me aprofundar e sentar com os caras [engenheiros e mecânicos]”, comentou.

Na realidade, a admissão de Hamilton sobre o desconforto foi reforçada, mas não chegou a ser mistério. Já após a primeira corrida do ano, ainda em março, revelou o primeiro incômodo.

“No ano passado, falei diversas vezes. Eu expliquei os problemas que tinha no carro. Pilotei tantos carros na minha vida. Eu sei do que um carro precisa e do que não precisa. Eu acho que é realmente sobre responsabilidade”, contou o heptacampeão ao podcast Radio 5 Live’s Chequered Flag, da BBC.

“Trata-se de assumir e dizer: ‘Sim, quer saber? Não ouvimos você’. Não é sobre onde precisa estar e temos de trabalhar. Temos de olhar para o equilíbrio nas curvas, observar todos os pontos fracos e nos unirmos como um time. É isso que fazemos. Ainda somos multicampeões mundiais, sabe? Só não acertamos desta vez. Não acertamos no ano passado. Mas isso não significa que não podemos acertar no futuro”, pontuou.

Hamilton passou o ano irritado. E conforme a temporada foi adiante, a Mercedes refez o W14, as coisas melhoraram um pouco na chegada à temporada europeia, o veterano deixou a irritação um pouco para trás. Não perdoou, como não poderia perdoar uma equipe que o conhece há uma década, pela qual ganhou seis títulos de Pilotos e que se recusou a ouvi-lo no momento de maior dificuldade. Mas conviveu com a frustração e tirou bastante do W14 e seus defeitos.

Atuações como na Espanha, na Inglaterra ou até em Singapura, sem falar na pole da Hungria, mostram que Hamilton ainda está ali e tem muito a oferecer. E os bons momentos foram maioria num mar de desconfiança que a própria Mercedes criou e que até atrasou as conversas pelo novo contrato que assinou até o fim de 2025, junto de Russell.

Lewis Hamilton variou entre bestial e anêmico na temporada 2023 da F1 (Foto: Mercedes)

Mas enquanto o jovem companheiro, único piloto da Mercedes a vencer corridas desde o começo de 2022, teve enormes dificuldades e ter três dias bons seguidos e completar fins de semana limpos, Lewis fez isso aos montes. Não é estranho ou circunstancial que tenha terminado o campeonato com 59 pontos a mais e cinco posições na frente na tabela, com direito a briga pelo vice de Pilotos até o fim das contas.

Ainda olhando para a parte pragmática que é a tabela de pontos, tanto Charles Leclerc quanto Carlos Sainz marcaram mais pontos que Russell. O fato da Mercedes ter segurado a Ferrari no fim das contas está inteiramente nas costas do heptacampeão.

Hamilton ainda é uma potência. E mesmo que a Mercedes não consiga dar a ele mais um carro campeão, o que, com honestidade, pode acontecer mesmo com trabalho bem feito, a equipe tem obrigação de respeitar a homilia da história nos anos derradeiros da carreira do único homem a vencer 100 corridas na F1. Com carros que respeitem a inteligência, experiência acumulada e habilidade, Hamilton será mais e mais o piloto divertido da maior parte de 2023 e menos o ectoplasma opaco de Las Vegas e Abu Dhabi.

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