Como Hamilton pode imitar ídolo Senna em 1993 e jogar com Mercedes por novo contrato

Assim como Lewis Hamilton em 2021, Ayrton Senna abriu 1993 sem contrato na Fórmula 1. Com a ajuda do chefe Ron Dennis, o brasileiro chegou a um acordo incomum para o início daquela temporada com a McLaren: US$ 1 milhão por cada GP disputado

Virar o ano sem contrato assinado é algo singular na carreira de Lewis Hamilton. Maior vencedor e campeão da história da Fórmula 1, o britânico encerrou o seu último vínculo com a Mercedes em 31 de dezembro de 2020. Ainda que seu nome esteja na lista prévia de inscritos para a temporada 2021 e vinculado à equipe heptacampeã do mundo, seu futuro em Brackley segue em discussão e está indefinido, ainda mais porque as suas exigências, sobretudo no aspecto salarial, não foram bem digeridas pela Daimler, empresa-mãe da Mercedes, conforme informou o diário inglês Express. De alguma forma, Lewis repete os passos do seu maior ídolo nas pistas, Ayrton Senna.

No fim de semana do GP da Bélgica de 1991, Senna chegou a rejeitar uma proposta da Williams e decidiu, por lealdade à Honda, permanecer na McLaren. Mal sabia o brasileiro que a escuderia fundada por Frank Williams dominaria a Fórmula 1 com o ‘carro do outro planeta’, o FW14, que levou Nigel Mansell à conquista do seu único título de forma dominante em 1992.

Heptacampeão do mundo, Lewis Hamilton abriu 2021 sem contrato com a Mercedes (Foto: Beto Issa)

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Em contrapartida, Ayrton vivia às turras com a falta de competitividade da McLaren e, para piorar, perdia um dos seus maiores aliados. A Honda decidiu tirar o time de campo como fornecedora de motores a partir do ano seguinte. A montadora japonesa também era responsável por bancar parte do salário do tricampeão.

Senna chegou até a testar um carro da Penske na Indy em sessão privada realizada no circuito de Firebird, no Arizona, Estados Unidos, no dia 20 de dezembro. Um dos responsáveis diretos pelo teste de Ayrton com a equipe americana foi John Hogan, o ‘Marlboro Man’, homem-forte do marketing da marca de cigarros — o antigo executivo morreu no último domingo, aos 76 anos — e que era patrocinador tanto da McLaren como da Penske. No fim de 1992, chegava ao fim o contrato de Senna com a escuderia de Woking.

A incerteza sobre Senna fez com que a McLaren apresentasse o novo carro, o MP4/8 empurrado pelo motor Ford, com o novo titular Michael Andretti e Mika Häkkinen — este então piloto de testes —, em evento sem a presença do brasileiro em Silverstone. Nos bastidores, Ayrton e Ron Dennis, chefão da McLaren, tentavam barganhar um novo acordo, e o dirigente britânico teve papel fundamental para buscar junto a Hogan um maior investimento por parte da Marlboro. Tudo para não perder um dos principais garotos-propaganda da famosa marca de cigarros.

No fim das contas, Senna fechou contrato para as primeiras duas corridas de 1993. O valor: US$ 1 milhão (R$ 5,2 milhões, em valores atuais) por GP disputado. Ayrton foi segundo colocado no GP da África do Sul e venceu o GP do Brasil. Daí em diante, sempre com a ajuda da Marlboro, Senna e McLaren fecharam contratos corrida por corrida para as provas seguintes: GPs da Europa — em Donington Park —, San Marino, Espanha e Mônaco. O brasileiro venceu no circuito britânico e nas ruas de Monte Carlo, além de ter finalizado em segundo em Barcelona.

Neste período, o dinheiro acordado não havia caído na conta de Senna às vésperas do GP de San Marino. Em episódio recordado pela McLaren ao escrever o obituário sobre John Hogan, a história conta que “as equipes chegaram a se preparar, os pilotos chegaram para fazer o briefing técnico, mas não Senna, a nova estrela do esporte. A taxa de US$ 1 milhão não havia caído na sua conta bancária”. E o brasileiro não embarcou até que o dinheiro fosse finalmente depositado. “Não imaginei o quão intransigente ele poderia ser”, contou Hogan anos depois.

Senna assinou contratos de US$ 1 milhão por corrida no começo da temporada 1993 (Foto: McLaren)

A partir do GP do Canadá, a McLaren assinou um contrato definitivo com Senna por um valor que, na prática, era semelhante ao que o brasileiro receberia por corrida disputada. No total, o valor embolsado por Ayrton em salários beirou os US$ 16 milhões naquela temporada (R$ 84,5 milhões em valores de hoje). Em 1994, Senna partiu para o sonho de defender a Williams, sua última equipe na F1.

De volta aos tempos atuais, Hamilton recebeu, segundo a publicação francesa Business Book GP, um salário anual de € 47 milhões em 2020 (R$ 305 milhões), disparado o maior de todo o grid. Lewis quer uma quantia razoavelmente menor na comparação com o que embolsou no ano passado, mas os € 40 milhões anuais (R$ 259,5 milhões) são vistos ainda como um valor bastante alto para os cofres da Daimler.

A teórica redução de € 7 milhões (R$ 45 milhões) no salário, quando são comparados os números de 2020 e o que é pedido, seriam compensados de outra forma. É que Hamilton também almeja, segundo o Express, 10% do prêmio em dinheiro a ser recebido pela Mercedes em caso de conquista do Mundial de Construtores em 2021. Levando em conta que a escuderia sediada em Brackley recebeu cerca de € 140 milhões (R$ 908 milhões) de premiação pelo hepta no ano passado, Lewis teria de embolsar cerca de € 14 milhões (ou R$ 90,8 milhões) de bônus.

De acordo com o diário britânico, a versão do contrato corrida a corrida de Hamilton poderia compreender valores na casa dos € 2 milhões (R$ 13 milhões) por GP disputado, considerando que o calendário original da Fórmula 1 compreende 23 etapas, uma quantia muito próxima da pedida do heptacampeão à equipe chefiada por Toto Wolff.

Assim como Senna teve em Ron Dennis um aliado para conseguir um contrato vantajoso, Hamilton tem a seu favor o amigo Wolff, que além de chefe da Mercedes também é acionista da equipe e detém 1/3 das ações. A queda de braço é toda com a Daimler, que tem na manga o jovem George Russell, muito prestigiado depois da ótima impressão que deixou depois do GP de Sakhir, caso não chegue a um acordo com Lewis.

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