“Estou em paz. Estou morrendo”: Grosjean detalha segundos em meio ao fogo no Bahrein
Romain Grosjean contou detalhadamente os momentos de tensão que passou do acidente até o resgate e admitiu que o corpo pareceu ter dado sinais de que não aguentaria
Romain Grosjean teve o acidente mais assustador da temporada 2020 da Fórmula 1 e um dos mais preocupantes dos últimos anos na categoria. Após bater violentamente na primeira volta do GP do Bahrein do último final de semana, o francês viu o carro ser imediatamente tomado por chamas após se dividir em dois e, então, teve 28 segundos do momento do impacto até conseguir deixar o veículo. No entanto, segundo o piloto da Haas, a luta pela vida deu a impressão de ter durado muito mais e, em certo momento, pareceu impossível.
Nesta sexta-feira (4), Grosjean deu a primeira entrevista completa especificamente sobre o momento de se salvar. O francês, que já admitiu que pode tirar um ano sabático em 2021 após o acidente e que contou que a participação na final em Abu Dhabi depende da condição da mão esquerda, detalhou tudo que viveu no meio de uma bola de fogo e começou com o fato de que, para ele, pareceu ter levado 30 minutos para escapar.
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“Primeiramente, para mim não foram 28 segundos. Pareceram 30 minutos, se eu tivesse de colocar isso em tempo. Quando meu carro parou, abri meus olhos. Não consegui tirar o cinto na hora. Não lembrava de ter mexido no volante, de ter arrancado ele, mas depois me contaram que o volante despencou, que eu não precisei jogar longe”, disse Romain.
O piloto de 34 anos, que teve alta do hospital de Manama, capital do Bahrein, na última quarta-feira e que, no dia seguinte voltou ao circuito para cumprimentar a todos que o salvaram, comentou que viveu diferentes fases naqueles 28 segundos que pareciam eternos. Primeiro, a calma, depois, nervosismo, a estranha calma do corpo de achar que não haveria escapatória e a luta pela vida.
“Aí eu fui sair do carro e senti algo tocando minha cabeça, então voltei e sentei de novo, estava querendo esperar, ver se alguém chegava para me ajudar. Não estava nervoso e nem estressado com o incêndio, mas é porque ainda não tinha notado ele. Quando vi que estava em chamas, reparei que não poderia esperar mais. Tentei ir mais para a direita, não deu. Tentei ir para esquerda, não deu. Sentei de novo e pensei no acidente do Niki Lauda [em Nürburgring, 1976] e aí percebi que não poderia acabar assim, não poderia ser minha última corrida, não mesmo”, explicou.
“Tentei de novo e estava preso. Foi aí que tive o pior momento, quando meu corpo começou a relaxar. Estou em paz, estou morrendo. Comecei a me perguntar se o fogo queimaria minha sapatilha, meu pé, minha mão, se aquilo iria doer, por onde iria começar? Aquilo pareceu ter durado alguns segundos, mas acho que foram milésimos. Aí eu pensei nos meus filhos e disse: ‘Eles não podem perder o pai deles hoje”, seguiu.
Grosjean acertou o guard-rail a mais de 200 km/h, o que gerou um impacto de 53G, um acidente absolutamente violento. Aquilo fez com que ficasse preso no carro. Aí, já tomado pelo fogo, Romain precisou criar diferentes métodos para sair do incêndio, forçando o pé para fora, mexendo o ombro. Quando finalmente se soltou, veio a ajuda providencial de Ian Roberts, médico da FIA que deu auxílio providencial ao abrir uma espécie de cortina em meio às labaredas.
“Não sei bem o motivo, mas mexi meu capacete para a esquerda e fui mexendo meus ombros. Isso meio que funcionou, mas meu pé estava preso no carro. Sentei de novo, puxei o mais forte que podia e meu pé saiu sem a sapatilha. Depois, fiz o mesmo com os ombros e vi que era quando eu poderia saltar do carro. Minhas duas mãos ficaram no fogo aquela hora, a esquerda estava ficando preta, senti dor, mas estava aliviado por estar saindo do carro. Foi quando saltei e vi o Ian Roberts ajudando, foi quando soube que não estava mais sozinho. Quando saltei a barreira, eles tocaram minhas costas e eu percebi que estava numa bola de fogo”, falou.
“Mexia minhas mãos porque estavam muito quentes, estavam doendo. Arranquei as luvas porque estava com medo delas grudarem de vez na minha pele e deu certo. O Ian veio e me mandou sentar, discuti com ele, mas acho que ele percebeu que eu estava bem. Aí sentamos, estávamos ao lado do fogo, acompanhando o trabalho do resgate. No carro médico, colocaram gelo nas minhas mãos, meu pé esquerdo parecia quebrado, começou a doer muito ali. Aí o Ian começou a me tranquilizar, conversou comigo. Eu estava querendo ir andando até a ambulância, mas ele insistiu que era para ir de maca, não estava bem”, continuou.
Por fim, Grosjean explicou que ter andado um pouco era uma demonstração de força, não apenas para ele, mas para o público todo saber que, após o susto gigantesco, estava tudo relativamente bem.
“Do ponto de vista médico, não era a melhor decisão, mas eles entenderam que para mim era importante andar até a ambulância. Queria mandar uma mensagem de força, de que eu estava bem. A cada vez que encontrava alguém eu dizia que estava com duas mãos queimando e um pé quebrado, estava com medo. No fim, foram bem mais do que 28 segundos para mim, tudo parecia durar mais”, completou.
Sem condições no GP de Sakhir, Grosjean dá lugar em sua Haas a Pietro Fittipaldi, brasileiro que faz a estreia na categoria máxima do automobilismo.
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