Opinião GP: Ferrari é incrível – é ótima ao desenvolver carro, mas burra na luta por título

Tecnicamente, a Ferrari sabe como desenvolver a F1-75 e, provavelmente, a tornou o melhor carro do grid. Porém, a gestão de corrida é fraca. Em um GP da França em que se colocou superior, escorregou em erros e tornou a vida da Red Bull muito mais fácil em 2022

CHOCHA, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente”. Não há nada que represente mais o desempenho da Ferrari do que o famoso meme de Renata Vasconcelos. Isso porque é particularmente perturbador tentar entender o que acontece em Maranello. Marca com mais títulos da história da Fórmula 1 e um ícone do esporte, a escuderia simplesmente perdeu o faro e não sabe mais mesmo como disputar um campeonato. É essa a conclusão que se chega após um desastroso GP da França.

O caso é que a escaldante corrida em Paul Ricard muito provavelmente será lembrada como um divisor de águas em 2022. Quer dizer, foi uma vitória importantíssima de Max Verstappen – que agora abre 63 pontos na dianteira da classificação –, ao mesmo tempo em que deixou em carne viva todas as falhas e fragilidades ferraristas. E ainda que restem dez etapas nesta temporada, dificilmente será possível que os italianos virem esse jogo. É um paradoxo porque a Ferrari vê as oportunidades escorregarem por entre seus dedos tendo na garagem talvez o melhor carro do grid.

Esse é um aspecto importante e que merece análise. Apesar das quebras de motor registradas neste ano, a Ferrari tem tido um trabalho primoroso com relação ao desenvolvimento da F1-75, especialmente do ponto de vista da aerodinâmica e do chassi. O grupo que responde ao diretor-técnico Laurent Mekies promoveu atualizações certeiras desde meados de maio e, neste fim semana, colocaram na pista um assoalho inovador, que tinha como meta reduzir o porpoising e ampliar o downforce. Ambos os objetivos parecem ter sido atingidos.

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Outro destaque vai para a configuração geral dos carros. A Ferrari não se intimidou com a velocidade de reta da Red Bull e preferiu trabalhar profundamente no equilíbrio e no desgaste de pneus. A prova francesa mostrou que a equipe acertou em cheio nessa escolha. Não só os modelos vermelhos apresentaram grande performance nas saídas de curva, como também foi possível gerenciar melhor os compostos.

Só que esse esforço parece ter sido em vão, diante das indecisões da equipe durante a corrida, além do erro cometido por Charles Leclerc na volta 17, enquanto liderava a prova, depois de uma largada primorosa desde a pole e um início em que conseguiu manter Verstappen sob controle. Inclusive, a performance de Charles fez até a Red Bull antecipar o pit-stop do holandês, numa tentativa de lucrar no fim da corrida. Agora, não há como saber o que teria acontecido, uma vez que o abandono do carro #16 tornou a vida do atual campeão mais fácil.

É bem verdade que o monegasco tem lá sua responsabilidade por pontos perdidos em 2022 e esses de Paul Ricard vão para a conta também, mas a forma como o time age em alguns momentos também pode exercer uma pressão descomunal. Leclerc bateu logo depois de saber que teria de imprimir um ritmo mais forte porque a escuderia havia definido um stint mais longo – dentro do que a Ferrari gosta de chamar de plano A, B, C, D…

Momento em que Charles Leclerc comete um erro e vai diretamente no muro (Vídeo: F1TV)

O fato é que o abandono de Leclerc por si só já é um desastre para qualquer intenção de briga por título. “Não posso cometer esses erros, se perdermos o campeonato a responsabilidade será minha. Eu tenho dito que acho que estou no meu nível mais alto em toda a carreira, mas se continuar cometendo esses erros, não faz sentido seguir dessa forma. Estou perdendo muitos pontos”, reconheceu Charles depois, exibindo a severa autocrítica que lhe é natural.

“Foram sete pontos em Ímola, 25 aqui, porque provavelmente fomos o carro mais forte na pista hoje, então se perdermos o campeonato por 32 pontos no final da temporada, vou saber aonde foi”, completou.

Leclerc tem toda a razão. É um erro inaceitável para quem está atrás do primeiro título, ainda mais diante de um Verstappen mais maduro e uma Red Bull afinada pela intensa disputa de 2021.

Só que a responsabilidade também pesa para a Ferrari. O exemplo é o que aconteceu com Carlos Sainz. O espanhol fazia grande prova de recuperação desde a penúltima posição, imposta pela troca do motor. Largando com os pneus duros, no que seria um stint muito longo, o madrilenho foi chamado aos boxes na volta 18, aproveitando o safety-car – mas a parada foi cedo demais para quem estava com os duros. A equipe trocou para os médios em um pit-stop mambembe. Além de lento, o piloto ainda foi liberado em cima de Alexander Albon. Resultado: 5s de punição. Essa sanção parece ter enrolado os pensamentos na garagem vermelha, porque ficou claro que havia uma dúvida sobre uma segunda visita aos boxes – o plano D!

E tudo o que aconteceu depois foi em consequência dessa atrapalhada. Porque Sainz tinha ritmo suficiente para brigar pelo pódio, então, para começar, nem deveria estar nessa situação. E com razão, o piloto se queixou mais de uma vez sobre a confusão do pit-wall. O ponto alto aconteceu quando Carlos, que já travava uma dura briga com Sergio Pérez pelo terceiro lugar, queria parar para nova troca, mas a equipe o manteve na pista. Após finalmente passar o mexicano em uma linda manobra, os engenheiros o chamaram, mas ouviram: “Agora não, pessoal. Agora, não”.

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No fim, Sainz foi aos boxes, voltou na nona posição e precisou remar tudo de novo, até pelo tempo que perdeu entre a parada e a punição, portanto qualquer chance de pódio ficou pelo caminho.

Ou seja, a Ferrari não soube tirar proveito da grande performance do piloto do carro #55. E mais do que isso, os italianos parecem não saber como brigar por esse campeonato. Deixar um fim de semana em que tinha a melhor performance com apenas 11 pontos comprova, mais uma vez, que há algo que não se encaixa na Ferrari. É estranho também observar o discurso do chefe Mattia Binotto, que fala em “nossa abordagem é essa, passo a passo, e acho que estamos progredindo e nos tornando melhores”.

“Podemos tentar vencer todas as corridas daqui em diante”, completou. Mas para ganhar precisa antes terminar – de preferência à frente dos rivais.

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