Opinião GP: Da tática errada às risadas dos rivais da Ferrari: Binotto é caso de demissão

Mattia Binotto, mais uma vez, demonstrou que não tem condições de chefiar a Ferrari. Os erros na Hungria começaram antes mesmo da largada, na escolha de pneus, que ficou evidente quando Charles Leclerc foi chamado para os pits, contra sua vontade, para usar os pneus duros. O pior: o dirigente defendeu a tática e alegou que o problema foi o carro

UMA VEZ MAIS, a Ferrari perdeu para si mesma em 2022. O riso e a perplexidade do trio do pódio ao notar a escolha de pneus equivocada no carro de Charles Leclerc resumiram bem a pífia – e cômica, por que, não? – temporada vivida pelos italianos. A cena do GP da Hungria que arranca gargalhadas revela também algo assustador: a maior equipe da Fórmula 1 não sabe vencer corridas ou conduzir estratégias, hesita em momentos decisivos e sequer é capaz de executar bem um simples pit-stop que se faz desde que o esporte é esporte. A derrota em Budapeste é alegórica e funesta: afinal, o campeonato já era. Inês é morta. Max Verstappen faturou a prova húngara e agora possui 80 pontos de vantagem para Leclerc – o holandês sequer precisa vencer daqui para frente para garantir o segundo título de sua carreira.

E ainda que haja certa condescendência em alguns aspectos, não dá para abrandar o papel do chefe Mattia Binotto no fracasso alcançado com esforço pela Ferrari. Grandes poderes vêm com grandes responsabilidades, diria o tio de Peter Parker. Comandar a esquadra mais tradicional do grid tem lá sua dose de vaidade e orgulho, mas também carrega o peso dos resultados, das decisões e de uma conduta firme. Mas não é o que se vê em Binotto. As declarações a cada novo fiasco beiram de fato a comédia, sem contar aquelas que passam longe da realidade. “Queremos ser competitivos, não ganhar o campeonato”. É o no mínimo esquisito.

Deste ponto de vista, a Hungria se torna emblemática e coloca em xeque a qualidade do trabalho feito por Binotto. Logo depois da desastrosa corrida na França, Mattia correu aos microfones para garantir que uma dobradinha viria em Budapeste, uma vez que Hungaroring se adapta muito bem às demandas da F1-75. Mais do que isso, disse que os vermelhos poderiam vencer todas as dez provas restantes.

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Lewis Hamilton, George Russell e Max Verstappen perplexos com a estratégia da Ferrari na Hungria (Vídeo: Reprodução/F1TV. Legenda: ESPN)

De fato, a sexta-feira de treinos mostrou um carro veloz e eficiente, porém a chuva e o frio que acometeram o restante do fim de semana exigiram um pouco mais de atenção e mudanças de direção – do acerto à escolha dos pneus. A pole foi conquistada por George Russell, enquanto Carlos Sainz ficou em segundo, logo à frente de Charles Leclerc. Não era o fim do mundo, dado o ritmo de corrida dos italianos. Mas era necessário entender as condições do traçado no domingo.

Em uma pista mais fria no dia corrida, a Ferrari não levou em consideração algo que já era falado no sábado: os pneus mais duros seriam mais difíceis de gerar temperatura. Tanto é verdade que a rival Red Bull mudou seus planos pouco antes da largada – os taurinos haviam decidido fazer Verstappen partir com os compostos brancos, uma vez que sairia da décima colocação do grid. No entanto, as voltas que antecederam à formação do grid mostraram o quanto seria complicado usar esses pneus. Por isso, os austríacos optaram pelos macios usados, deixando os jogos novos de médio para as partes finais da prova. Foi um acerto, confirmado também pela Mercedes, que fez Russell saltar da pole com os vermelhos. E por Hamilton, que inverteu essa ordem.

Maranello entendeu diferente: os dois pilotos largaram de pneus médios e teriam ainda mais um jogo novo, além dos duros. E macios usados. Embora não tenha conseguido superar o pole na fase inicial da corrida, a equipe italiana até tomou decisões interessantes: Sainz marcou Russell na primeira parada, enquanto Leclerc foi deixado na pista para conduzir um overcut no companheiro de equipe. Verstappen foi o primeiro a ir aos boxes e também colocou os adversários para pensar.

Após a rodada de pit-stops – as paradas de Leclerc e Hamilton foram mais tardias –, o monegasco voltou atrás de Russell, na segunda posição. O forte ritmo da Ferrari logo apareceu, mas Charles teve de batalhar pela liderança, uma vez que George se defendia bem. Só que era uma questão de tempo. Foi na volta 30 que Leclerc deixou para frear mais dentro na curva 1 para ultrapassar de vez o inglês da Mercedes. A partir daí, o dono do carro #16 estabeleceu um desempenho consistente em cima dos pneus médios. E poderia ter ido mais longe, não fosse a segunda parada de Verstappen realizada no giro 38. A Ferrari reagiu na defensiva e chamou Leclerc, contra a vontade, na passagem seguinte, mas era muito cedo para os pneus macios (ainda que usados), então os estrategistas foram na única possível: os pneus novos duros. A decisão tirou qualquer chance de vitória ou pódio das mãos de Charles.

“A mudança veio muito cedo, então tivemos de ir com os pneus errados. Isso acabou comigo. Precisei de um terceiro pit-stop para trocar pelos macios. Disse pelo rádio que estava confortável com os médios e queria permanecer na pista o máximo de tempo possível porque a sensação era boa. Não entendo por que tomamos uma decisão diferente. Eu estava feliz com o meu ritmo, mas todos só se lembrarão do stint com os pneus duros. Perdi a corrida de hoje aí. 20s na parada e mais 6s com os duros, pois eu estava completamente perdido. Foi aí que perdemos”, disparou Leclerc, que ainda busca respostas para as escolhas feitas pelo pit-wall. “E por que escolhemos essa estratégia?” A única coisa que ouviu de volta foi um ‘vamos conversar’.

Importante pontuar que antes a Alpine também havia optado pelo composto duro em uma tentativa de completar a corrida com apenas uma parada – a tática se mostrou equivocada, tanto que Fernando Alonso e Esteban Ocon despencaram no pelotão. Mesmo assim, a Ferrari seguiu com seus planos, sem sequer olhar para os boxes ao lado. A Mercedes, por exemplo, esticou ao máximo o stint de Hamilton com os médios antes de mudar para os macios usados no fim. O heptacampeão terminou a corrida em segundo, tentando perseguir o líder Verstappen.

Aí vem a explicação meio torta de Binotto: a falha foi do carro. “Pela primeira vez nesta temporada não tivemos o desempenho necessário para almejar a vitória e, neste momento, não sabemos a razão. Não é apenas uma questão de temperatura de pista, já tivemos outras corridas em condições semelhantes às que corremos hoje e fomos bem. Com certeza houve algo que não funcionou no carro, e eu me refiro ao acerto. A consequência é que não conseguimos fazer com que os pneus funcionassem bem”, disse.

Charles Leclerc teve de parar para trocar para compostos macios no fim da corrida na Hungria (Foto: Reprodução/F1)

O chefe da Ferrari ainda usou Sainz para confirmar a tese. É verdade que o espanhol enfrentou mais dificuldades que Leclerc. Mas o ritmo estava lá. Enquanto liderou a corrida, o monegasco andava solidamente na casa de 1min23s3. Ninguém teve desempenho tão constante. Portanto, espanta quando Binotto fala em falta de performance e não sabe explicar a razão pela qual os estrategistas não levaram em conta a opinião do piloto ou o que estava acontecendo ao redor.

E assusta também a declaração seguinte, quando o mandatário insiste em não reconhecer os erros e mascarar a realidade. “Vamos voltar tentando vencer todas as corridas. O campeonato é consequência. Há também o Mundial de Construtores, que não deve ser esquecido e que pode não estar necessariamente ao nosso alcance. Mas primeiro precisamos entender o que aconteceu hoje, das 13 corridas realizadas nesta temporada é a primeira vez que não tivemos ritmo na corrida, e isso obviamente é triste. Não havia razão para não ir bem na Hungria, por isso estamos desapontados, mas é o primeiro passo em falso depois de 12 corridas e não acho que haja algo a mudar. Precisamos entender e corrigir, temos uma base forte e vamos crescer ainda mais.”

O caso é que Binotto não é alguém que caiu de paraquedas na Ferrari, como aconteceu quando Stefano Domenicali foi substituído por Marco Mattiacci, que não fazia parte do corpo técnico da equipe de Maranello. Mattia está com os italianos desde 1995 e acompanhou de perto a chefia implacável de Jean Todt, o desenvolvimento e a fase mais vitoriosa a partir dos anos 2000. Além disso, passou por todos os momentos do pós-Michael Schumacher, incluindo as contratações de Fernando Alonso e Sebastian Vettel. É alguém que possuía a confiança de Sergio Marchionne e alguém que recebeu carta branca para reestruturar o time. O engenheiro soube ajustar a fábrica, desmembrou setores importantes e rejuvenesceu a equipe na parceria Leclerc-Sainz. Só que a Ferrari de hoje precisa render frutos, precisa estar pronta. Amadurecer, mas parece teimar nessa postura bamba de Binotto. Então, a questão é: até quando a Ferrari vai aceitar apenas ter um carro competitivo sem ganhar campeonatos?

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