Red Bull enfrenta a si mesma para virar de vez jogo contra Ferrari na temporada 2022

A Red Bull tem velocidade, uma dupla de pilotos afiada, ousadia nas estratégias e até o consumo de pneus parece ter melhorado. Mas não adianta ter tudo isso e quebrar pelo meio do caminho

“Parece que o jogo virou, não é mesmo?” A frase-meme poderia cair perfeitamente para a Red Bull se fôssemos julgar tão somente a performance de Max Verstappen no GP de Miami. Após a segunda vitória seguida — a terceira no ano —, a impressão que temos é de que os taurinos conseguiram inverter a ordem de forças e já põem vantagem sobre a principal rival na disputa pelo título da Fórmula 1 2022, a Ferrari. Mas há duas faces nessa moeda.

Bom, primeiro, façamos justiça: há pontos incontestáveis que tornam a Red Bull uma ameaça real aos italianos — e eles sabem muito bem disso. O primeiro, sem dúvida, é a velocidade do RB18. Foi impressionante ver como nem o DRS foi capaz de aproximar Charles Leclerc de Verstappen nas longas retas de Miami.

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A Red Bull trouxe mudanças no assoalho ainda na pré-temporada (Foto: Red Bul Content Pool)

Mas isso tem uma explicação. Das equipes do grid, a Red Bull parece ser a que melhor entendeu o novo regulamento e o retorno do efeito-solo. O time comandado por Christian Horner conseguiu fazer um carro bem próximo ao chão, algo que tem sido fundamental para o ganho de velocidade, e as atualizações feitas no assoalho ainda nos testes da pré-temporada no Bahrein fizeram o porpoising deixar de ser uma questão séria a ponto de atrapalhar o desempenho na pista — aliás, os quiques são quase inexistentes.

O carro nascido para trabalhar com menos carga aerodinâmica dá aos austríacos todas as chances de sobrar em pistas como Miami — e foi o que, de fato, aconteceu. “Entramos com isso em mente [o conceito de baixo downforce], e acho que a Ferrari projetou o carro para ser otimizado em uma área diferente. Isso vai variar de circuito para circuito”, disse o chefe da Red Bull.

Outro ponto em que o time de Milton Keynes tem sido superior é na consistência da sua dupla de pilotos. Aqui, vamos nos atentar somente para o desempenho de Verstappen e Sergio Pérez. O primeiro já dispensa apresentações e tem todos os elementos necessários para liderar uma equipe rumo ao título. O holandês é rápido, destemido, arrojado, e a experiência está começando a surtir efeito em momentos decisivos, como o pega entre ele e Leclerc na Arábia Saudita. Não de graça, venceu todas as provas que completou em 2022.

Já Pérez hoje representa tudo o que a Red Bull sempre sonhou. É consistente, tem bom ritmo de classificação e corrida e sabe defender uma posição como poucos — Lewis Hamilton que o diga. No grid atual, a dupla tem se destacado entre os adversários e vai, pouco a pouco, diminuindo a vantagem da Ferrari entre os construtores.

Verstappen e Pérez são tudo o que a Red Bull mais sonhou (Foto: Red Bull Content Pool)

Há mais dois pontos a serem considerados nesse pacote Red Bull, e um deles são os pneus. Claro que o desgaste da borracha é algo relativo, fatores como a temperatura da pista são determinantes, mas os taurinos conseguiram tanto em Ímola quanto em Miami administrar melhor os compostos. Aliás, esse foi o ponto-chave da vitória de Verstappen, na opinião de Horner.

“Nas primeiras voltas, Max estava apenas na dele e cuidando do pneu dianteiro direito. Essa foi a nossa tática: cuidar do pneu dianteiro direito e manter Charles sob pressão. Com a velocidade que tínhamos em reta, ele conseguiu ter vantagem”, avaliou o homem da Red Bull logo após a vitória de Verstappen em Miami.

A Ferrari sofreu demais com os pneus macios em Ímola. Em Miami, os médios resistiram míseras nove voltas até sucumbirem ao ataque impetuoso do ‘holandês voador’. O desempenho só voltou com os compostos duros, mas era tarde.

E o último fator que faz do time austríaco o potencial favorito em 2022 é a ousadia. A Red Bull parece não ter medo de dar a cara para bater. Corrida a corrida, busca entender onde ainda precisa melhorar e traz atualizações para o seu carro. Foi assim ainda na pré-temporada, com o assoalho. Pequenos ajustes aerodinâmicos nas asas também foram notados. O consumo de pneus aparenta ter melhorado. Todos são pequenos itens que, somados, dão o tom do avanço considerável visto nas duas últimas etapas.

“Eles desenvolveram o carro desde o início da temporada, o que nós realmente não fizemos. A Red Bull gastou dinheiro, então espero que em algum momento, com o limite de orçamento, eles parem de desenvolver, enquanto nós ainda teremos algumas atualizações disponíveis”, admitiu Mattia Binotto. E não poderia ser diferente. A Ferrari sabe que, quanto mais a rival mexe no carro, mais forte fica — e vem mais por aí, porque eles já avisaram que querem resolver a questão do excesso de peso do RB18.

São muitos pontos incontestáveis. Sim, a Red Bull tem armas suficientes para ser campeã. Porém, há um calcanhar de Aquiles, e ele pode ser visto quando a equipe olha para si mesma.

Red Bull de Verstappen chegou a pegar fogo em Miami (Foto: Reprodução)

O maior problema da Red Bull é a confiabilidade do RB18. Quase que o único, no momento. Mais uma vez, o fantasma voltou a assombrar os taurinos em Miami. Verstappen ficou pelo caminho no TL2, sequer conseguiu marcar tempo de volta. Na corrida, Pérez esteve à beira do abandono. Em duas voltas, foram 7s para o espaço. Um problema no sensor do motor foi a questão.

“Precisamos continuar trabalhando duro porque estamos o tempo todo lutando contra diferentes problemas. Por sorte, conseguimos terminar a corrida. Acho que em determinado ponto, esteve muito perto de acabar tudo [abandonar]”, afirmou o mexicano após a corrida americana.

A paciência de Verstappen também está chegando ao limite. “Ainda temos alguns problemas que precisamos resolver. Somos rápidos, mas como vocês puderam ver, minha sexta-feira foi terrível, o que não é bom se você quer ter um grande fim de semana. Checo teve alguns problemas na corrida, então precisamos estar em cima disso. Claramente há muito potencial, mas precisamos ter certeza de que somos confiáveis”, disse.

E não há velocidade, não há consistência da parte dos pilotos, não há ousadia nas estratégias que façam um carro chegar à bandeirada se ele quebrar pelo meio do caminho.

Voltando à frase que abre o texto, parece, sim, que o jogo virou. Mas parecer não basta somente. É preciso ter certeza, e ela só virá quando a Red Bull vencer primeiro a guerra que trava contra si própria.

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