Da rejeição ao conto de fadas: Álex Márquez cala críticos e mostra a que veio na MotoGP

Com dois pódios em dez corridas, o espanhol de Cervera foi além das expectativas para primeira temporada na MotoGP e colocou em xeque a decisão da Honda de entregar a vaga para Pol Espargaró antes mesmo de dar a chance de o campeão de Moto3 e Moto2 mostrar o que podia fazer em cima da RC213V

Tinha quase tudo para dar errado, mas a temporada de estreia de Álex Márquez na MotoGP está se transformando em um verdadeiro conto de fadas. Em dez corridas, o espanhol de 24 anos soma dois pódios ― dois segundos lugares, um no molhado e outro no seco ― e é o segundo melhor entre os pilotos da Honda na classificação, atrás apenas de Takaaki Nakagami, que está no terceiro ano na classe rainha.

Campeão de 2019 da Moto2, Álex garantiu vaga na classe rainha neste ano praticamente nos acréscimos. Apesar da campanha sólida naquela que foi a quinta temporada na divisão do meio, a oportunidade surgiu apenas com a aposentadoria de Jorge Lorenzo, que escolheu pendurar o capacete no meio de um contrato de dois anos após um campeonato inteiro de sofrimento com a RC213V.

A eleição da Honda talvez não tivesse sido tão questionada não fosse o fato de correr nas veias de Álex o mesmo sangue de Marc Márquez. Hexacampeão da MotoGP, o piloto da moto #93 nunca escondeu que gostaria de ter o irmão como companheiro de equipe, ainda que tenha assegurado que não faria pressão para tal. Contudo, o fato de o competidor dominante dos últimos anos estar em meio a uma renovação contratual não jogou a favor da reputação de Álex. Pior, o vínculo entre o recordista de poles na MotoGP e a Honda foi estendido por quatro anos, uma duração bastante incomum em um esporte onde os acordos são feitos em ciclos bianuais.

Álex Márquez vai descer para a LCR em 2021 (Foto: Divulgação/MotoGP)

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Foi um prato cheio para os críticos. Muitos simplesmente ignoraram os títulos nas classes menores e sentenciaram que Álex guiaria pela Honda simplesmente por ser irmão. E a própria marca da asa dourada não ajudou neste cenário, já que contratou Pol Espargaró para assumir a vaga em 2021 antes mesmo da abertura deste campeonato, sem sequer dar ao caçula de Roser e Julià a chance de provar o que ele poderia fazer.

O fato, porém, é que o salto para a Honda elimina diferenças, facilitando a comparação com Marc. Algo que sempre aconteceu na carreira de Álex. E que acontece com Luca Marini e Valentino Rossi, com Sam e Alex Lowes, com Michael e Ralf Schumacher, com Ayrton e Bruna Senna e etc. No fim das contas, os vínculos de sangue acabam sempre sendo um comparativo mais atrativo do que a realidade do momento. Na MotoGP, Álex vai ser comparado ao irmão, não a Iker Lecuona ou Brad Binder, igualmente estreantes. Ou melhor, seria.

É claro que Álex não desejou e tampouco está feliz com isso, mas a ausência de Marc ajudou a diminuir a pressão. Com exceção do GP da Espanha, os dois pouco estiveram juntos na pista, então o mais novo dos irmãos não precisou lidar com a comparação direta. Afinal, ninguém sabe ao certo qual seria a performance do hexacampeão com uma moto claramente difícil e em um ano absolutamente insano.

O outro lado da equação é que Álex perdeu o apoio que teria com a presença de Marc nos boxes. Todavia, na era do isolamento social, Marc virou uma espécie de especialista em ensino à distância e tentou contribuir como podia. O próprio Álex vira e mexe fala sobre os conselhos que recebe.

Apesar de irmãos, Marc e Álex são pilotos ― e pessoas ― com características diferentes. Enquanto o mais velho é do tipo que chega com o pé na porta, o caçula não faz entradas magistrais, mas vai ganhando espaço aos poucos. Na Moto3, Álex levou cerca de dois anos para ser competitivo. Na Moto2, a mesma coisa.

Chama atenção, então, a adaptação mais rápida na classe rainha. Álex estreou no pódio na nona corrida da carreira. E na chuva, algo que ele mesmo tratou de minimizar. No GP de Aragão, porém, nem o mais perfeccionista dos pilotos conseguiria fazer ressalvas. A posição de largada não foi lá essas coisas ― como não tem sido ao longo de todo 2020 ―, mas a exibição na corrida foi espetacular. O próprio Lorenzo foi às redes sociais dizer que o espanhol merece o lugar na Honda. Um elogio e tanto vindo de alguém com o currículo do tricampeão da MotoGP, especialmente por ser alguém que sabe como a RC213V pode ser difícil.

Marc Márquez usou o Twitter para manifestar orgulho pelo irmão

A Honda errou duas vezes com Álex Márquez?

Quando anunciou o rebaixamento de Álex para a LCR, o chefe Alberto Puig admitiu: “A Repsol Honda às vezes não é o melhor lugar para começar”. Fato. Um fato que estava lá 238 dias antes, quando a montadora japonesa contratou o espanhol.

Uma vez assinado, mesmo que por um ano, é como diz a máxima imortalizada por Camões no Canto III de ‘Os Lusíadas’: Inês é morta’. Se a Honda decidiu que Álex Márquez merecia o lugar no time de fábrica, mesmo expondo o jovem piloto a um padrão de comparação injusto e dos mais altos, que tivesse bancado a decisão.

Ao rebaixar Álex, ao invés de aliviar a pressão como disse que pretendia fazer, a Honda só deu mais munição para os detratores do espanhol, só deu razão àqueles que dizem que Álex foi apenas uma barganha, uma forma de garantir que a Marc atasse o futuro à vitoriosa montadora por mais tempo. Álex não precisava disso. A Honda tampouco.

Mas o time comandado pelo polêmico ― e por vezes grosseiro ― Puig não bancou a própria aposta. Agora que Álex mostrou ter talento e capacidade para não só estar na classe rainha, mas também para defender as cores da laureada equipe, alguém consegue ver justiça no rebaixamento para a LCR? Eu não.

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