Divórcio polêmico de Dovizioso e Ducati ofusca ressurreição de Viñales na Áustria

Depois de sair frustrado do primeiro dia no Red Bull Ring, o espanhol da Yamaha virou o jogo e saiu com a pole. O renascimento, porém, ficou em segundo plano em meio à criticada separação de Ducati e Andrea Dovizioso

Andrea Dovizioso é o assunto de sábado (15) na MotoGP, mas não por algo que tenha feito na pista. Enquanto a Ducati esperava empurrar a decisão até depois do GP da Estíria, marcado para a próxima semana, o italiano de 34 anos surpreendeu e comunicou ao time de Borgo Panigale seu desejo pelo divórcio.

Na equipe desde 2013, quando foi contratado para substituir Valentino Rossi, o piloto de Forli logo se tornou a referência da equipe. Nas mãos de Dovi, o trabalho de Gigi Dall’Igna à frente da Ducati Corse começou a dar frutos e a Desmosedici não só fez as pazes com a vitória, mas também com a briga pelo título.

Em uma era de supremacia de Marc Márquez, o sonho da taça não foi atingido, mas Dovizioso foi quem mais se aproximou: em 2017, levou a briga pelo título até a última corrida em Valência, mas não conseguiu fazer frente ao hoje lesionado piloto da Honda. Nos últimos dois anos, o #93 teve a mão mais pesada e sequer cambaleou com um ou outro golpe que recebeu no caminho ao hexacampeonato. Mas Andrea sempre esteve ali para fazer da Ducati a melhor do resto.

Andrea Dovizioso não quis justificar saída da Ducati (Foto: Red Bull Content Pool)

A liderança inconteste, contudo, não foi suficiente para garantir uma renovação automática de contrato. A Ducati passou a adiar mais e mais a definição pelo posto ao lado de Jack Miller, até que na sexta-feira, durante o esvaziado segundo treino livre, Davide Tardozzi disse em entrevista a DAZN que, após as corridas da Áustria, a Ducati tomaria “uma decisão sobre Dovizioso”.

Empresário do piloto, Simone Battistella tinha uma reunião marcada com a cúpula da Ducati para esta manhã. E foi lá mesmo que aproveitou para entregar o pedido de divórcio.

“Não aconteceu nada de especial. Andrea e eu conversamos sobre isso nas últimas semanas, e Andrea tomou a decisão de que simplesmente não está disposto a continuar no futuro, apesar da possibilidade ou não de ter uma proposta da Ducati. Nós comunicamos isso ao time e foi isso”, contou Battistella durante a transmissão do streaming da MotoGP.

Questionado se tem alguma ideia do futuro de Dovizioso, Simone foi claro: “Não, nenhuma. Andrea quer estar 100% focado em correr. É uma temporada muito importante, ele quer ter certeza de que tem todas as chances de jogar o jogo com as melhores cartas possíveis. E estava se tornando uma distração essa história da negociação. Ele simplesmente decidiu acabar com isso e dizer: ‘Olha, eu quero correr, é isso que quero fazer agora’. E foi isso. Não tem nenhuma outra opção no momento. Ele quer correr no futuro, ele estava disposto, motivado e em forma para correr, mas no momento não temos nada”.

À Ducati, restou o lamento pelo divórcio e a procura por um substituto. Busca essa que, aliás, pode levar o time de Bolonha ao um passado com Jorge Lorenzo.

“A saída de Dovizioso é uma pena. Evidentemente, não estamos contentes. Mas não encontramos condições para seguir. Agora, a vontade é de render o máximo e tratar de brigar pelo título”, explicou Paolo Ciabatti, diretor-esportivo da Ducati. “Foi Andrea quem nos comunicou que não queria continuar depois do fim do contrato”, confirmou.

“Ainda não temos nada decidido. Vamos fazer isso antes de Misano. Com certeza, queremos seguir com [Johann] Zarco e Pecco [Bagnaia]”, avisou. “Jorge é uma opção que esteve na mesa e pode ser que ainda esteja”, concluiu.

Tão logo saiu o anúncio da separação, as criticas surgiram como rastilho de pólvora. A primeira delas veio de Casey Stoner. Único piloto a ser campeão da MotoGP pela Ducati, o australiano apontou que os italianos têm uma dificuldade recorrente de ouvir seus pilotos.

“É só a minha opinião, mas não acredito que a Ducati possa se dar ao luxo de perder alguém como Andrea Dovizioso”, escreveu Stoner no Twitter. “Acho que eles precisam perceber em algum momento que é o piloto e não o túnel de vento que conquista resultados. Então os ouça”, disparou.

Pol Espargaró mostrou o melhor ritmo no Red Bull Ring (Foto: Red Bull Content Pool)

Companheiro ― e amigo ― de Andrea, Danilo Petrucci não ser furtou em comentar a mudança de rumo da Ducati e relacionou a saída com a posição recente da fábrica.

“Entendo perfeitamente as razões que levam Dovi a deixar a Ducati. Especialmente depois das últimas palavras da Ducati. Não é justo que depois do trabalho dos últimos anos, ele seja julgado por duas corridas”, opinou Danilo. “Foi decisão do Andrea e eu esperava isso. Provavelmente, a Ducati acha que o potencial da moto é maior do que Dovi está demonstrando e, por isso, que mudar”, considerou.

Titular da Suzuki, Joan Mir foi mais um a lamentar a falta de acordo e ressaltou que Dovi é muito bem avaliado entre seus pares.

“Me surpreende. Esperava que fossem encontrar uma solução para Dovi”, comentou o espanhol. “Nós, os pilotos, o valorizamos muito, porque foi vice-campeão três vezes seguidas e é uma garantia. Me surpreende que a Ducati não tenha conseguido renovar. Não sei o que aconteceu, mas se não aceitaram as condições dele, é ruim, pois é um cara legal e merece que deem o que ele pede”, defendeu.

De mudança da KTM para Honda, Pol Espargaró avaliou que a Ducati perdeu um piloto com chance de brigar pelo título.

“Não estou dentro da Ducati e não sei o que pensam os chefes da Ducati. Para mim, é muito melhor para o ano que vem, já que é um rival a menos para ganhar o campeonato com uma moto vencedora”, ironizou. “Para mim, é um erro muito, muito, muito grande da Ducati deixar escapar um bom piloto como Dovizioso. No fim, é um piloto que você sabe que vai levar resultado para casa, enquanto que com os demais, não tem nem ideia. Além disso, tenho uma grande estima por Dovi. Gosto muito dele. É muito gentil e acho que merecia tudo que pedisse”, opinou.

Único piloto 100% garantido na Ducati, Jack Miller reconheceu o papel de Dovizioso na competitividade atual da Desmosedici.

“Foi ele que tomou a decisão e temos de aceitá-la. Faz muito tempo que ele está aqui, sabe o que tem nas mãos e, em primeiro lugar, o que eu quero é agradecê-lo por esses oito anos de dedicação à Ducati. Ele deixou esse pacote competitivo e muito disso se deve ao trabalho dele”, reconheceu. “Eu conversei com ele e brinquei: ‘Que é? Não quer seu meu companheiro?’”, contou.

Valentino Rossi também foi pego de surpresa com o rompimento, mas lembrou que a saída de Andre abre uma vaga na Ducati que pode acabar com Francesco Bagnaia, integrante da Academia de Pilotos VR46.

“Estou surpreso, pois achava que, no final, encontraria uma solução para continuar. De fora, é sempre difícil opinar sobre esses assuntos, porque não conhecemos a história completa, tanto do lado do Dovizioso como do lado da Ducati”, disse Rossi. “A notícia me surpreende e deixa aberta uma das melhores vagas do grid, a de piloto oficial da Ducati. Muitos pilotos querem estar ali, inclusive o ‘nosso’ Pecco Bagnaia. Infelizmente, ele teve uma lesão em Brno no pior momento, porque estava sendo bastante competitivo. Vai ser interessante ver o que vai acontecer com Dovi, se ele vai continuar ou não. Eu não sei de nada”, completou.

Aleix Espargaró já está em campanha pela contratação de Andrea Dovizioso (Foto: Aprilia)

Aleix Espargaró foi na contramão, evitou lamentos e partiu logo para o ataque. O catalão já está ‘distribuindo santinhos’, em plena campanha para que a Aprilia contrate o piloto de Forli. A fábrica de Noale é a única ainda com vaga na MotoGP, mas segue esperando o desfecho do caso Andrea Iannone, que está suspenso por doping e entrou com recurso no Tribunal Arbitral do Esporte.

“Tenho a sensação de que têm equipes que não valorizam seus pilotos”, criticou Aleix. “Ele é alguém que trabalha muitíssimo e que cava até achar petróleo. É um dos meus favoritos. Vamos ver se podemos aproveitá-lo. Ficaria encantado se ele acertasse com a Aprilia”, afirmou.

“Ele desenvolve a moto muito bem. Como piloto, adoraria de Dovi como companheiro, apesar de saber que isso é difícil para a cúpula da Aprilia. Estamos falando do segundo melhor piloto do grid nos últimos anos. Seria incrível tê-lo como companheiro, me faria crescer e ser mais rápido. Com os conhecimentos dele, melhoraríamos muito”, opinou.

O bom ritmo que vem da força do ódio

Apesar de Dovizioso ter protagonizado o noticiário, ninguém saiu da pista com um sorriso maior do que Maverick Viñales. O espanhol encerrou uma seca que vinha desde o GP da Austrália do ano passado e, com 1min23s450, faturou a pole no Red Bull Ring.

“Estou realmente feliz, pois o objetivo para hoje era estar na primeira fila, mas, de repente, tive uma sensação incrível com a moto, também no TL4”, disse Viñales. “A partir desta manhã, nós conseguimos uma grande melhora. O time fez um trabalho realmente bom na semana passada, então precisamos tentar entender que pneu é a melhor opção para a corrida de amanhã. De qualquer forma, a moto está funcionando de forma fantástica, muito diferente de Brno. Estou muito feliz e entusiasmado. Sabemos que podemos ser muito rápidos em uma volta”, contou.

O top-3 da classificação (Foto: Yamaha)

Mas se foi o ‘Top Gun’ quem brilhou em volta lançada, foi Pol Espargaró quem ficou em evidência em termos de ritmo de prova. Entre os ponteiros ao longo de todo o fim de semana, o caçula dos irmãos de Granollers ficou com o quinto posto no grid, mas mostrou um ritmo bastante forte na casa da KTM.

A fome de vitória de Pol, porém, não tem base apenas no embalo da vitória de Brad Binder em Brno. O catalão ainda está com o fim de semana na Tchéquia atravessado na garganta, não só pelo incidente com Johann Zarco que o fez abandonar, mas também por ter tido uma boa volta cancelada na classificação por conta da nova regra das bandeiras amarelas.

“No geral, foi incrível. No TL4, tivemos de longe o melhor ritmo do grid e isso é muito importante para amanhã. Eu ficava mais e mais animado e ia mais e mais rápido ― talvez um pouco rápido demais para a roda dianteira, pois caí. Com certeza, isso não ajudou na classificação: tive de usar a minha segunda moto e ficamos a milésimos da pole. Foi muito apertado”, comentou. “Acho que podemos fazer uma boa corrida. Temos um bom ritmo. Estamos bem confiantes e o acerto da moto está incrível”, elogiou.

Dovizioso, por sua vez, não foi protagonista apenas fora da pista. Quarto no grid, o italiano mostrou um bom ritmo em um traçado onde a Ducati é sempre favorita, perdendo apenas para Pol, que fez a maioria de suas voltas na casa de 1min24s.

“Estou feliz com o resultado de hoje. Conseguimos um bom tempo de volta e encontrar uma boa sensação com a moto, especialmente na freada. Infelizmente, não pude ser rápido em todos os setores em uma única volta. Do contrário, estaria na primeira fila”, ponderou Andrea. “Amanhã serão muitos pilotos brigando pela vitória, mas nós também temos um bom ritmo para a corrida. Alguns aspectos precisam ser melhorados, mas, no geral, estou satisfeito com nosso trabalho”, encerrou.

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