30 anos sem Ayrton Senna: a cronologia da tragédia no GP de San Marino de 1994

A Fórmula 1 chegou em 1994 com carros mais 'raízes', porém perigosos. E a etapa em Ímola completou o choque de forma visceral com a morte de Ayrton Senna

Sem dúvida, aquele fim de semana em Ímola, em 1994, jamais será esquecido. Desde a sexta-feira, com o fortíssimo acidente de Rubens Barrichello, a sensação era de que algo pior poderia acontecer a qualquer momento. E, de fato, o sábado ficou ainda mais pesado, porém a morte de Ayrton Senna no domingo, 1º de maio, completou o choque de forma visceral.

A Fórmula 1 não lidava com a morte de um piloto nas pistas desde 1986. Na ocasião, durante testes no circuito de Paul Ricard, na França, a asa traseira do Brabham de Elio de Angelis se soltou em alta velocidade, e o piloto italiano capotou sobre a barreira de pneus. O impacto em si causou uma fratura de clavícula e contusões lombares em De Angelis, porém o carro imediatamente pegou fogo, e o piloto não conseguiu sair do veículo sozinho. Para piorar, não havia fiscais de pista no momento do acidente, e o helicóptero de resgaste levou 30 minutos para chegar ao local.

De Angelis morreu de asfixia no hospital por conta da fumaça. Dali em diante, os padrões de segurança para qualquer evento de Fórmula 1 em pista de corrida foram modificados. Passou a ser obrigatório a presença de um helicóptero e bombeiros em vários setores do circuito.

Nas garagens, as equipes continuavam em busca de melhorias, e a década de 1990 foi especialmente marcada por avanços tecnológicos, com destaque para a Williams e a revolucionária suspensão ativa de 1992, ano do título de Nigel Mansell. Só que os aparatos, que também incluíam itens como controle de tração e câmbio semiautomático, foram banidos em 1994 sob o argumento de diminuir custos e valorizar a performance dos pilotos.

Elio de Angelis morreu em 1986 (Foto: Forix)

Podemos dizer, então, que os carros eram mais ‘raízes’, porém tornaram-se mais perigosos. Muito mais. E a chegada ao veloz circuito de Ímola mostrou da forma mais cruel o quanto a principal categoria do esporte a motor do mundo ainda era mortal. Primeiro no sábado, com o austríaco Roland Ratzenberger, estreante na temporada; depois, a perda de Senna.

Abaixo, o GRANDE PRÊMIO traz a cronologia do 1º de maio de 1994 em Ímola, desde o começo da manhã até o momento em que o corpo de Senna é liberado do hospital para os procedimentos legais antes de voltar ao Brasil para a cerimônia fúnebre.

12h50 (7h50, horário de Brasília): O domingo do dia 1º de maio de 1994 começou com previsão de pista seca para as 61 voltas programadas para o GP de San Marino, em Ímola. Um dia quente, porém em clima nebuloso por conta da morte de Ratzenberger no dia anterior, durante a classificação. A sensação era ainda de choque para os pilotos, que àquela altura discutiam medidas de segurança urgentes para que acidentes como o do austríaco não se repetissem.

14h (9h, de Brasília): Os carros partem para a volta de apresentação e tomam seus respectivos colchetes no grid, com Senna mais uma vez na pole — a terceira em três corridas realizadas na temporada, a 65ª volta mais rápida em classificação do piloto. Ao seu lado, contudo, está novamente Michael Schumacher, dominante no início de campeonato com a Benetton e cada vez mais o rival a ser batido pelo brasileiro no ano.

Assim que as luzes se apagam, Senna mantém a liderança, não dando chances para Schumacher. O safety-car, porém, logo é acionado após forte batida entre Pedro Lamy e JJ Lehto.

Acidente entre Pedro Lamy (foto) e JJ Lehto trouxe safety-car ao GP de San Marino logo na largada (Foto: Forix)

14h14 (9h14): Após quase 15 minutos sob intervenção do carro de segurança, a corrida recomeça na abertura do sexto giro. Com cinco voltas completadas atrás do carro de segurança, Senna é o líder, seguido de perto por Schumacher, a 0s5. Gerhard Berger, Damon Hill e Heinz-Harald Frentzen completam o top-5. Christian Fittipaldi é o 14º.

14h16 (9h16): Senna passa pela reta dos boxes e abre o sétimo giro. Ao chegar na curva Tamburello, trecho de altíssima velocidade, passa reto e bate forte no muro.

14h17 (9h17): Do momento da forte batida de Senna até o acionamento da bandeira vermelha pela direção de prova, passa-se 1min. Depois, são quase mais 60s até o atendimento médico iniciar os primeiros socorros ainda na pista de Ímola — ou tentar, uma vez que houve dificuldade para tirar o piloto de dentro do cockpit.

14h33 (9h33): São cerca de 20 minutos de trabalho intenso da equipe médica no local do acidente até Senna ser posto no helicóptero e levado ao Hospital Maggiore, em Bolonha.

Médicos atendem Ayrton Senna após grave acidente (Foto: Reprodução)

14h44 (9h44): Senna dá entrada no centro de reanimação do Maggiore. Após tomografias realizadas, Dr. Franco Baldoni, chefe do departamento cirúrgico, informa que os danos cerebrais que o brasileiro sofreu por conta da batida não podem ser sanados por procedimentos cirúrgicos. Exames posteriores demonstram que Senna não sofreu nenhuma lesão torácica, tampouco enfrenta problemas respiratórios — a gravidade de seu quadro clínico se dá unicamente por questões neurológicas.

15h26 (10h26): A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) informa que Senna deu entrada no Hospital Maggiore, em Bolonha, vivo e foi levado diretamente para o setor de reanimação para receber cuidados intensivos.

15h54 (10h54): A agência de notícias espanhola EFE informa que Senna sofreu traumatismo craniano e parada cardíaca ainda na pista de Ímola, sendo reanimado e submetido a uma traqueostomia para auxiliar na respiração.

16h30 (11h30): O estado de saúde de Ayrton Senna é considerado “muito grave” pelos médicos do Hospital Maggiore. Após dar entrada no local às 9h44 (de Brasília), o boletim médico confirma que o tricampeão teve traumatismo craniano e está em coma. Além disso, apresenta quadro de choque hemorrágico.

17h55 (12h55): No Hospital Maggiore, a Dra. Maria Teresa Fiandri, chefe do departamento de reanimação e responsável por comandar os boletins médicos do piloto da Williams, anuncia que Senna está em estado de coma profundo.

18h05 (13h05): Os médicos responsáveis pela recepção e tratamento de Senna no Hospital Maggiore, em Bolonha, anunciam à imprensa que o quadro do piloto é de morte cerebral. O diagnóstico foi constatado às 11h05 (de Brasília), e a notícia foi dada oficialmente às 13h05.

Ayrton Senna morreu de um jeito trágico há 30 anos (Foto: Fórmula 1)

18h40 (13h40): Ayrton Senna da Silva, três vezes campeão mundial de F1, não resiste aos ferimentos causados pela colisão com o muro que limita o autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, na curva Tamburello. As funções vitais e os batimentos cardíacos do piloto se encerraram às 13h40 (de Brasília), no Hospital Maggiore, em Bolonha. Senna morreu aos 34 anos de idade.

O anúncio da morte de Senna foi feito pela Dra. Maria Teresa Fiandri, diretora do departamento de Anestesia e Reanimação do Maggiore e responsável pelas atualizações sobre os boletins médicos de Senna. A morte cerebral já havia sido confirmada antes, após um eletroencefalograma e uma tomografia.

21h27 (16h27): O Hospital Maggiore libera e encaminha o corpo de Senna ao Instituto Médico Legal de Bolonha. Em seguida, os legistas realizam a autópsia, como pede a legislação italiana em casos de morte não-natural. Após necropsia e análise legal, a família é autorizada a levar o corpo para o Brasil. O presidente Itamar Franco coloca um avião da Força Aérea Brasileira à disposição dos Senna por meio do embaixador brasileiro em Roma, Orlando Carbonar.

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