GUIA 2021: Band tem chance de ouro de cativar público da F1 na era do streaming

Com equipe de rostos e vozes conhecidas, Band encara desafio de provar que pode superar Globo. Beber na fonte da F1TV é importante

Red Bull domina e Mercedes aparenta estar atrás: TUDO SOBRE O TERCEIRO DIA DA F1 NO BAHREIN

A resolução do imbróglio dos direitos de transmissão trouxe uma gota de alívio e a surpresa do resultado inesperado. A Globo chegou a anunciar oficialmente que deixara o negócio em meados de 2020, mas voltou a carga e parecia perto de sacramentar a sequência da parceria de 40 anos com a Fórmula 1. Já no começo de 2021, então, surpresa: a Globo volta a deixar a mesa de negociações e, rapidamente, a até então distante Band anunciava o acordo por dois anos. E tem a oportunidade de dar o que os fãs mais sentem falta: carinho.

GUIA F1 2021
Red Bull aposta em forasteiro Pérez e ameaça Mercedes com briga real na F1
Haas desiste de ‘sonho americano’ e aposta em novatos com foco em 2022
+ Perdidamente apaixonado pela F1, Alonso volta sabendo qual seu lugar no mundo
+ Russell quer Mercedes, mas antes tem de carregar Williams em reconstrução
+ Leclerc tem missão de liderar renovada Ferrari e manter Sainz sob controle

Como Mercedes e PETRONAS se tornaram uma coisa só na F1

A Band já transmitiu a Fórmula 1, lá nos anos 1970. Foi naquela época e casa, inclusive, que Galvão Bueno se tornou responsável pelas transmissões de TV da categoria. Nos últimos anos, a emissora paulista sequer sonhava com um acordo pela categoria e mantinha a Indy aos trancos e barrancos, sempre no que dava a sensação de ser a beira do penhasco de uma crise que impediria a continuidade das transmissões. Não é hipérbole: a Band há muito já não era o ‘Canal do Esporte’ como foi anos atrás, mas ainda mantinha quantidade interessante de eventos até cinco anos atrás.

Sem dinheiro, foi perdendo. Com dificuldade, segurou a Indy, mas foi deixando os responsáveis pelo microfone irem embora. Téo José, Nivaldo Prieto, Felipe Giaffone… Mas a Band voltou a estabelecer o esporte como prioridade. Desde o ano passado, voltou a angariar diferentes eventos: NBA, Campeonato Italiano de Futebol, aproveitando-se também do passo atrás de outras companhias de mídia ao longo dos últimos 12 meses, situação aprofundada pela pandemia do novo coronavírus.

Mariana Becker será a repórter da Band na F1 2021 (Foto: Divulgação/Vira Comunicação)

Siga o GRANDE PRÊMIO nas redes sociais:
YouTube | Facebook | Twitter Instagram | Pinterest | Twitch | DailyMotion

O acordo, há pouco impensável com o Liberty Media, empresa detentora da Fórmula 1, é bem diferente ao da Globo. Existe um popular bem-bolado, onde os paulistas puderam pagar menos diretamente ao Liberty e conseguiram se valer de acordos comerciais que favoreçam os estadunidenses. Além da Fórmula 1, a F2 e a F3 também estarão na Band, bem como Copa Truck, Porsche Cup e Stock Car.

Para isso, surgiu um novo problema: não havia equipe completa. Os nomes buscados foram velhos conhecidos globais: a narração é de Sérgio Maurício, titular do SporTV por tanto tempo; nos comentários, Reginaldo Leme, por décadas o dono dos comentários na Globo, e o retorno de Giaffone; nas reportagens, Mariana Becker. Glenda Koslowski também chegou para ser apresentadora do ‘Show do Esporte’, enquanto gente com longo tempo de casa, como Celso Miranda, certamente seguirá envolvida no processo.

A Band tem a máquina e uma equipe familiar ao público, e a verdade é que encara um sarrafo baixo. Não porque os responsáveis por narrações e comentários na Globo, profissionais do mais alto nível possível, tenham deixado a desejar. Mas porque a Globo decidiu editorialmente, há bastante tempo, relegar à Fórmula 1 a um evento que, por vezes, parecia até incomodar. A decisão de abrir mão de transmitir os treinos classificatórios em TV aberta nunca foi engolida pela Fórmula 1 e deixou boa parte dos fãs também entalados de forma crônica. Além disso, a categoria tinha pouquíssimo espaço na programação fora das transmissões.

Mais de meia década ficou para trás desde que os treinos de classificação da F1 não aparecem na TV aberta, o que afofou o terreno para a Band fazer a mesma coisa. A Band terá, essencialmente, as corridas na TV aberta e os outros eventos na fechada, no canal BandSports. A questão é que a Bandeirantes precisa de pouco. Sem programação de TV com as vozes da categoria para debater o campeonato e jogar conversa fora sobre o automobilismo, o fã brasileiro quer apenas um carinho. A Band não precisa se apaixonar ardentemente com os fãs, estes ficarão satisfeitos com qualquer cafuné honesto.

Um programa como o ‘Linha de Chegada’ pode ter perdido em audiência no fim do seu caminho no SporTV, cancelado em 2014, mas a verdade é que na reta final o ‘Linha de Chegada’ já não era muito parecido a uma mesa de debates, destas que o público brasileiro gosta tanto desde a ‘Grande Resenha Facit’. Com nomes tarimbados, alguma contundência e chamando para si a marca de ‘Casa do Automobilismo no Brasil’, a Band pode ter bastante sucesso com uma mesa redonda de velocidade em seu canal fechado. Sobretudo porque nichos podem até não alimentar canais de maior audiência, mas tampouco é este o caso do BandSports, normalmente um dos dois canais esportivos de menor audiência da TV fechada brasileira.

GUIA F1 2021
+F1 se prepara para duelo Hamilton x Verstappen em ano pandêmico e incerto
+Verstappen encara perspectiva de briga por título e desafio com Pérez
+F1 dá falsa ideia de continuísmo, mas mexe bem nas regras antes de revolução

A F1TV chegou de vez ao Brasil (Arte: F1TV)

Há uma outra questão importante. Fundamental, até. Diferente do que acontecia com a Globo, a Band não tem exclusividade das transmissões. Enquanto o grupo fica com TVs aberta e fechada e rádio, a F1TV chega com seu pacote de transmissões. É a abertura oficial da era do streaming para o público brasileiro. Na F1TV, por pouco mais de R$ 200, o fã interessado terá acesso à transmissão de todos os eventos do ano com transmissão importada da Sky Sports inglesa. O preço, em si, não afugenta o público maciço das classes A e B que for apaixonado mesmo pela coisa, mas o fato de ter que trocar as aconchegantes transmissões brasileiras, com rostos e vozes conhecidas, para horas de conteúdo em outro idioma, deixam a Band segura. Não haverá uma rivalidade entre TV e streaming, pelo menos não neste formato e por enquanto.

Mas é um aviso do que pode acontecer no futuro. Dependendo de como os acordos pós-2022 forem moldados, quem sabe a F1TV buscar uma transmissão em português que rivalize com a Band. Por mais que o mais provável seja a F1TV oferecer a própria transmissão da Band no futuro, a questão que se impõe é outra: os fãs terão à disposição as transmissões detalhadas e ultrainformadas da TV inglesa. Nem é o caso comparar profissionais daqui e de lá, não é esse o ponto, mas o estilo editorial é definitivamente diferente.

O estilo com artes que facilitam a compreensão da parte técnica, o enorme número de gente com acesso a diálogos e informações de cocheira e presença garantida nos eventos são diferenças notórias. Por melhor repórter que seja Mariana Becker, e ela é realmente ótima, seria injusto pedir que tivesse, sozinha, tanto acesso quanto um grupo enorme como o da Sky Sports. Mas as parte técnicas e informativas podem evoluir puxadas pela F1TV.

GUIA F1 2021
+Gasly muda de patamar e se mostra pronto para liderar AlphaTauri
+McLaren ganha reforços e mira consolidação no top-3 da Fórmula 1
+Alpine ousa com carro arrojado e mira top-3 no retorno de Alonso

Os responsáveis pelas transmissões de F1 na TV brasileira, sobretudo pensando nas do SporTV, comandadas por Sérgio Maurício nos últimos anos, talvez fiquem magoados com certas críticas sobre o estilo. Mas a intenção jamais foi ridicularizar Maurício, narrador extremamente popular e de estofo inegável – ninguém se mantém assim por tanto tempo sem grandes atributos.

Não se trata de falta de talento dos profissionais do microfone de forma alguma: Giaffone, Max Wilson, Reginaldo sabem demais, comunicam-se muito bem e claramente; Maurício é um apaixonado pelo esporte, conhece a história e alcança novo patamar de popularidade como a voz de uma emissora de TV aberta.

Todos eles são bons e podem facilmente fazer parte de uma transmissão com formato pouco diferente, moldado entre a maneira tradicional de buscar interatividade e informações para o público eventual da F1 com a maneira clara de elucidar dúvidas sobre um esporte sofisticado. A decisão é estilística e editorial, não calcada em falta de talento ou capacidade, e vem de cima, muito além da cabine. Importante reforçar: o pedido por aliar o estilo inglês ao tradicional brasileiro não é o desejo de ver uma aniquilação, mas aquela decisão fundamental de beber nas fontes de água mais puras. Somar qualidades e subtrair fraquezas, no fim das contas. Se conseguir morfar os estilos, será aprovada mesmo frente à nova realidade do streaming.

Com tudo isso dito, a conclusão é que a Band tem muito a seu favor tanto de convencer o público de que trata o produto com muito mais esmero quanto de se beneficiar de uma comparação internacional que a Globo nunca teve que encarar em quatro décadas. Talento há, boa vontade do público também. É ver o resultado final tanto para a Band quanto para o streaming da F1.

Conheça o canal do Grande Prêmio no YouTube! Clique aqui.
Siga o Grande Prêmio no Twitter e no Instagram!

WEB STORIES: Band se prepara para transmitir F1 até champanhe acabar’

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.